EUA tem investido milhões de dólares na propaganda contra a Cuba através da internet. Isto pode explicar badalação em favor de Yoani Sánchez
Altamiro Borges
Com base em documentos recentemente desclassificados, a socióloga estadunidense-venezuelana Eva Golinger acaba de comprovar que os Estados Unidos têm investido milhões de dólares na propaganda contra a Cuba através da internet. Isto talvez ajude a explicar a gigantesca badalação em torno da blogueira cubana Yoani Sánchez, que virou estrela da mídia mundial e nativa. No mês passado, ela foi destaque nos jornalões, revistonas e emissoras de televisão do Brasil. O seu livro, lançado no início do ano, já figura na lista dos mais vendidos da revista Veja o que não é lá uma grande coisa.
A farta documentação, que veio à tona devido à Lei de Acesso à Informação (FOIA), revela que a USAID, agência ianque famosa por interferir nos assuntos internos de várias nações, inverteu mais de US$ 2,3 milhões para disseminar propaganda suja contra Cuba nos últimos anos. Ela inclui os contratos originais entre a USAID e a organização CubaNet, formada por blogueiros raivosos contra o regime cubano. Criada em 1999, ela tem sede em Miami e hoje recebe o grosso dos recursos da USAID e também da NED (National Endowment for Democracy).
A estreita relação de controle
Os documentos demonstram um padrão de financiamento que aumenta a cada ano no esforço de promover informações distorcidas sobre Cuba tudo com a intenção de provocar uma transição à democracia ou cambio de regime na ilha caribenha. Há cinquenta anos, Washington executa uma guerra suja contra Cuba. Um componente dessa agressão é o uso dos meios de comunicação para manipular e distorcer a realidade cubana junto à opinião pública internacional e, ao mesmo tempo, infiltrar e disseminar informações falsas dentro de Cuba, explica Golinger.
Até recentemente, os maiores inversões eram destinadas à Rádio e TV Marti, também sediados nos EUA. Diante do fracasso destes meios, o império ianque passou a investir mais na internet. O dinheiro é utilizado para assalariar jornalistas e manter sítios e blogs. Embora não seja mais segredo que a CubaNet recebe financiamento e diretrizes de Washington, os documentos agora desclassificados da USAID demonstram a estreita relação de controle que esta agência mantém sobre esta organização propagandística, afirma a pesquisadora.
Quem dá dinheiro cobra a fatura
A cláusula 16 de um dos contratos com a CubaNet, intitulada os entendimentos de participação substancial, confirma a ingerência. Se entende e se acorda que a USAID manterá participação substancial durante a execução do Acordo de Cooperação da seguinte maneira: Pessoal chave: O assessor principal da USAI para Cuba aprovará com antecipação a seleção de qualquer chefia ou subalternos. Plano de monitoramento e avaliação: O assessor principal da USAID para Cuba aprovará os planos para avaliar e monitorar o progresso dos objetivos do programa durante o transcurso do Acordo de Cooperação. Em síntese: o governo ianque manda na CubaNet.
A pesquisa de onze documentos recentes evidencia o aumento do financiamento anual dos EUA à CubaNet. Também revelam outros dados sobre a natureza do programa. O documento de 19 de abril de 2005 autoriza o envio de fundos privados avançar nos objetivos do acordo. Devido às restrições do Departamento do Tesouro sobre o envio de dólares a Cuba, os fundos privados seriam camuflados com a autorização que já têm as agências estadunidenses para financiar o programa CubaNet, explica Golinger, que acrescenta uma informação estarrecedora:
Planilha da ingerência imperialista
O mesmo documento revela que CubaNet não realiza apenas seu trabalho dentro de Cuba, mas também continua publicando reportagens e promovendo sua disseminação nos meios massivos dos Estados Unidos e na imprensa mundial. É proibido por lei nos EUA disseminar propaganda financiada pelo governo e utilizá-la como informação nos meios de comunicação. Não obstante, o documento desclassificado evidencia que a USAID age em plena violação da lei.
Como aponta Eva Golinger, a campanha de agressão contra Cuba está mais intensa hoje do que nunca. E neste ano de 2010, a USAID maneja um orçamento de mais de US$ 20 milhões para financiar grupos dentro e fora de Cuba que promovam a agenda de Washington. CubaNet segue sendo um dos principais atores na guerra suja contra Cuba. Daria para acrescentar: mas não é o único. Basta acompanhar a cobertura da grande mídia brasileira sobre o tema.
Abaixo a planilha dos investimentos da USAID para os blogueiros independentes de Cuba:
1999: US$ 98 mil;
2000: US$ 245 mil;
2001: US$ 260 mil;
2002: US$ 230 mil;
2003: US$ 500 mil;
2005: US$ 330 mil;
2006: US$ 300 mil;
2007: US$ 360 mil;
Total: US$ 2.323 milhões.
*Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB - Partido Comunista do Brasil
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=7ecd070e606afbf07a07c32e7267051f&cod=5756
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