Quem vai pagar pela solidariedade atlântica?

Como apresentado em "Der Spiegel",  a maior preocupação com a vitória de Donald Trump nas eleições levantou-se na estrutura da OTAN. Tem-se aqui que Trump estava denominando a OTAN como uma "velha" organização e ainda por cima estava insinuando uma possibilidade de revisar ou renegociar as relações de Washington com o bloco militar, no qual além dos EUA e do Canadá entram ainda 26 países europeus.

Por Nicolai Bobkin

Tradução Anna Malm

 

Semelhante e paralelamente os argumentos dos parceiros do Velho Mundo incentivavam um reenforçamento militar contra a "agressão" da Rússia, mas isso parece não ter impressionado muito a Trump. Depois da sua conversa telefônica com o presidente eleito dos EUA, o secretário geral da OTAN, Jens Stoltenberg, começou com muita energia a tentar influenciar os membros europeus da aliança a desembolsar a fim de reenforçar as "relações transatlânticas".

Chegando em 23 de novembro a sua visita a Londres Stoltenberg disse que os países europeus membros da aliança militar da OTAN deveriam seguir o exemplo britânico e encaminhar para essas suas despesas militares não menos do que 2 % dos seus respectivos PIB. Lembremo-nos de que as palavras de Trump em relação a essa sifra soavam como um ultimato. Não há dúvidas de que os europeus terão de aumentar suas despesas militares reduzindo assim o financiamento vindo do Tesouro americano. Depois terão mesmo ainda de renunciar a cara idéia da criação de uma força militar europeia unificada. O relatório preparado pelo secretário geral da OTAN admitia, como observado pelo Der Spiegel, que de Trump poderiam ser esperados ainda outros problemas. Entre esses então a possibilidade de uma recusa pela nova administração dos EUA de colocar tropas americanas na Europa Oriental assim como também uma diminuição das forças dos contingentes armados [americanos] na Alemanha. Tendo-se em vista o atual contexto e as variações de tais medos, temores, receios, apreensões e preocupações poderia parecer melhor para os atuais membros da aliança militar o aceitar das exigências de Trump, ou seja, o aceitar o aumento  das despesas com a OTAN.

Caso se fale do lado financeiro da questão então tem de ser ressaltado que Trump estava muito bem consciente  de quando dando o alarme a respeito dos "passageiros clandestinos" no trem da OTAN, passageiros esses que corresponden a absoluta maioria dos países membros da mesma. Os EUA cobrem 73%  da despesa total da OTAN, o que significa mais do que 650 bilhões de dólares por ano. Os restantes, tomados todos juntos - (26 países europeus e Canadá) - aloucam para isso 250 bilhões de dólares. Tem-se aqui que muitos membros da aliança seguem o exemplo da Alemanha, que dá para a OTAN não mais do que 1% do seu PIB.

Satisfazendo a norma de 2% do PBI dos 26 países europeus tem-se por enquanto só quatro - Reino Unido, Estônia, Grécia e Polônia. Esses não são dos países mais ricos, excluindo-se aqui então o Reino Unido. Resumindo a contabilidade Stoltenberg ressaltou que se todos os membros da OTAN seguissem a regra de aloucar 2% do PIB para o orçamento da aliança isso iria significar a obtenção de mais de 100 bilhões de dólares por ano.

Entretanto, com esse realinhamento relativo a despesa dos Estados Unidos continuaria a ser muito maior do que a dos demais e o mesmo viria a gastar o dublo do que os resterande 27 países membros da OTAN, somados conjuntamente. Trump poderia estar se perguntando: se a Europa se preocupa tanto com a sua segurança então porque isso se pagaria as custas do dinheiro dos contribuintes, pagadores de impostos, americanos?

O PIB dos EUA é de um pouco mais de 16 trilhões de dólares. O PIB dos países europeus membros da OTAN é de quase 20 trilhões de dólares. Trump está convencido de que os europeus estariam completamente na capacidade de pagar um valor de 400 bilhões de dólares. O preço da "mesquinhez" de Trump - cerca de 150 bilhões de dólares.

Naturalmente que aqui segue a pergunta: em resposta a que perigo, ameaça ou risco deve-se pagar tal quantia e quem é que está precisando de se preparar para a guerra? No meio da guerra fria, junto da União Soviética e seus aliados do Pacto de Varsóvia, o agrupamento das forças armadas podiam atingir mais de 1 milhão de militares em ação na Europa. Hoje em dia em toda a Rússia o exército não excede meio milhão de pessoas.

Sem as tropas dos EUA e Canadá o exército da OTAN dispõe de forças armadas que ultrapassam de três vezes as forças armadas da Rússia. A contribuição europeia para a manutenção da OTAN é discutida a nível de 250-300 bilhões de dólares, o que é 4-5 vezes mais do que o total de toda a despesa militar da Federação Russa. Aqui não seria só para Trump, mas também para qualquer pessoa ou político em sã consciência, incompreensível de que maneira forças convencionais russas frente a tal proporção poderiam ser uma ameaça militar para a Europa.

A OTAN perdeu sua razão de ser com o desaparecimento da União Soviética e agora os políticos americanos já não ficam satisfeitos de ter de pagar para o medo dos europeus frente a Rússia. Stoltenberg também reconhece isso e admite que já esteve falando a respeito desse assunto com o presidente Obama e muitos representantes do congresso.

Nos círculos dominantes americanos ninguém já discute quando Trump diz que EUA está pagando "desproporcionalmente pela maior parte dos gastos da OTAN". Muitos políticos dos EUA acham que a garantia americana de estar disposto a reforçar incondicionalmente a implementação do parágrafo 5 do Acordo de Defesa Mútua da Aliança é mais do que suficiente do ponto de vista de demonstrar a prontidão da administração de qualquer presidente americano para a proteção de seus aliados.

John Mc Ternan, ex-escritor de discursos de Tony Blair disse (отмечает) que o maior problema para os países membros da OTAN não seria o presidente eleito dos EUA, mas a falta de confiança entre o público desses países sobre a conveniência de se manter a Aliança. Mc Ternan ressalta o perigo de "Novos Brexit": essas palavras, diz ele, poderão levantar desconforto e insatisfação em cidadãos europeus a respeito da existência dessa organização militar - OTAN - que lhes foi passada de geração em geração e que em nada mudou quanto a sua atitude contra a Rússia. Aos olhos de milhões de cidadãos europeus a Rússia não é a culpada da tensa situação internacional mas sim uma vítima da política desvairada dos governantes de seus próprios países nos últimos anos.

Entre as coisas com que os europeus já estão cansados de ver seus dirigentes a brincar, dizem muitos, entra também o plano de aventureirismo de se construir forças armadas próprias da União Europeia. Além de tudo tem-se que essa brincadeira exigiria enormes despesas e isso se o plano em princípio ainda fosse possível de ser realizado. Isso compreendeu até mesmo Stoltenberg que sugeriu o esquecimento dessa idéia ressaltando aqui a correlação da mesma com a Europa Oriental e Países Bálticos. Esses sonham com o rearmar seus exércitos com armas que mantenham o standard americano através de veteranos da aliança. Entretanto, pelos prós e contras, isso dificilmente estaria em condições de vir a ser um sucesso.

Nas conversas entre Jens Stoltenberg e Theresa May foi confirmado (подтвердили) que qualquer iniciativa militar por parte da Europa deveria se relacionar ao reenforçamento da existente estrutura da OTAN, e não a uma eventual duplicata da mesma via uma construção de novas formações militares.

Comentando a inutilidade de forças armadas paralelas constituidas exclusivamente dos exércitos de países membros da União Europeia Stoltenberg disse que a Europa está jogando com a idéia de uma integração muito mais próxima na área da tecnologia militar. Ele tomou como exemplo de comparação os Estados Unidos, onde a produção de tipos de raquetes da classe "AR-AR" (Air-to-Air) se resume a três tipos diferentes, enquanto a produção dos países europeus integrados na OTAN  tem 13 tipos diferentes. EUA tem sómente um tipo de máquina de combate de infantaria (infantry fighting vehicles) enquanto a Europa tem 19 diferente tipos. Uma tal situação apresenta-se também olhando-se de outras perspectivas. A OTAN não tem dinheiro para tantos excessos. "Os países da OTAN e membros da UE simplesmente não podem pagar dois conjuntos de forças e capacidades", - disse então Stoltenberg.

Referências e Notas:

Nicolai Bobkin, Quem vai pagar a solidariedade atlântica? - Николай БОБКИН | 27.11.2016 | ПОЛИТИКА - Кто будет оплачивать атлантическую солидарность?  www.fondsk.ru

Anna Malm - (https://artigospoliticos.wordpress.com)

 

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey