Na Ásia Central, a República do Quirguistão se tornou a mais recente República a rejeitar uma revolução de cor depois do presidente Kurmanbek Bakiev ser forçado a sair do gabinete e da cidade capiutal num levantamento popular contra o nepotismo, corrupção e desastrosas políticas sociais, que esticou o povo até ao ponto de ruptura.
Bakiev chegou ao poder com um bilhete popular em 2005 na Revolução das Túlipas que derrubou o Presidente Askar Akaev da Casa Branca (sede do governo) em Bishkek, capital da República do Quirguizistão ou Quirguízia. Contudo, a sua dependência crescente nos membros do seu clã da sua base de poder no sul do país, Jalalabad, e mais gravemente, a sua política de nepotismo, distribuindo cargos de poder entre a família e amigos e, simultaneamente, aumentando os preços dos produtos essenciais em um país onde 1,8 milhões (33%) da população de 5,3 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza (uma situação agravada após a dissolução voluntária da União Soviética), deram origem ao aumento da hostilidade.
Início de protestos contra a corrupção e o nepotismo
Os protestos começaram no início de Março (início em Talas e logo chegaram à cidade capital) e veio à tona nesta semana depois das forças do Governo começarem a reprimir os manifestantes, seguido por uma escalada da violência e culminando em abrir fogo, matando pelo menos 75 manifestantes e ferindo cerca de 1.000 de acordo com dados do Ministério da Saúde. A Casa Branca foi invadida e a multidão invadiu seus sete andares, saquearam e atearem fogo ao edifício, enquanto outros gabinetes do governo foram ocupados.
"Justiça e Democracia" foram as palavras do dia, quando Roza Otunbaeva, ex-ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo de Bakiyev, a quem ela ajudou ao poder em 2005, tomou as rédeas do governo, apoiada pelas forças militares, policiais e guardas de fronteira.
Roza Otunbaeva contactou Moscou esta manhã (quinta-feira), afirmando que ela está no controle total do país, exceto Osh e Jalalabad (centro de poder do clã de Bakiev), e que é apoiada pelas forças de segurança. Ela disse que o novo governo interino pretende negociar a demissão de Bakiev, pois seu negócio aqui acabou.
Bakiev deixa um país onde o salário médio é de 130 USD por mês. 40 por cento da renda do país vem de remessas dos trabalhadores do Quirguistão na Rússia, uma parte substancial do restante vem do aluguel das bases militares russas e dos EUA e as receitas das atividades de mineração (principalmente de ouro, mercúrio e urânio).
Base dos E.U.A. em Manas
Quanto à base militar norte-americana de Manas, Otunbaeva declarou que pode continuar operando, mas que há certas questões que precisam de ser resolvidas. Presidente Bakiev havia declarado em uma visita a Moscou no ano passado que iria fechar a base dos E.U.A., em seguida, depois de receber 2 mil milhões de dólares em pacotes de ajuda da Rússia, decidiu fazer uma reviravolta na sua promessa, permitindo que a base continuasse mas por um aluguel agravado.
Reação corajosa da Rússia
A Rússia foi rápida em reconhecer Roza Otunbaeva como nova chefe de governodo país, depois da fuga de Bakiev e a demissão do primeiro-ministro Daniyar Usenov. Dmitry Peskov, o porta-voz do primeiro-ministro Vladimir Putin, se referiu a ela como "a chefe de governo de confiança nacional". A Rússia assim restabelece a autoridade de Moscou sobre sua tradicional esfera de influência no seu próprio quintal geo-político, continuando a tomar passos importantes após o fracasso total da Revolução Laranja na Ucrânia.
O futuro
A nova líder interino do Quirguistão declarou hoje que Bakiev está em sua terra natal para tentar angariar apoio, o que seria um remédio perfeito para uma guerra civil, prevendo que os clãs do sul combatessem com aqueles no centro e norte do país. No entanto, Bakiev não ganharia nada com isso, já que seu clã foi derrubado do poder.
O Primeiro-ministro russo Vladimir Putin declarou hoje em uma conversa telefônica com Roza Otunbaeva que a Rússia está disposta a oferecer ajuda humanitária para o Quirguistão.
Enquanto o brinkmanship corrupto e amador de Bakiev tenha irritado Moscovo, é claro que enquanto a Rússia daria as boas-vindas à mudança de regime em Bishkek, esta revolução vem de dentro e é um resultado direto da má gestão em um momento crítico na história sócio-econômica do país.
As possibilidades de consequências mais latas do conflito são, portanto, não apenas mínimas, mas inexistentes. As minas vão continuar produzindo, porque elas não podem mesmo parar, sendo que os únicos jogadores que possivelmente paguem alguma conta sejam determinados bancos do Cazaquistão, que se tenham expostos demais ao modus operandi do regime de Bakiev.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
Lisa Karpova
PRAVDA.Ru
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