Os revolucionários africanos têm agora que dormir de olhos bem abertos porque os Estados Unidos da América não se detêm perante nada na sua intenção de estabelecer o Africom, um exército estadunidense altamente equipado, permanentemente estacionado em África para supervisionar os interesses imperialistas norte-americanos.
Tichaona Nhamoyebonde*, em ODiario.info
No final do ano passado, o governo estadunidense intensificou os seus esforços para estabelecer um exército permanente em África, o chamado Comando de África (Africom, African Command) como a última ferramenta da sutil recolonização de África.
Antes do final do ano passado, o general William E. Garret, comandante do exército dos EUA para África, reuniu-se com os adidos militares de todas as embaixadas africanas em Washington para vender aos seus governos a ideia de um exército estadunidense com base na África.
Os últimos relatórios da Casa Branca deste mês de Janeiro indicam que 75% do trabalho do exército se fez através de uma unidade militar com base em Estugarda, Alemanha, e que os restantes 25% são dedicados a conseguir um país africano que abrigue o exército e faça andar as coisas. A Libéria e Marrocos ofereceram-se para albergar o Africom, enquanto a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sua sigla em inglês) fechou todas as possibilidades de algum dos seus Estados membros albergar o exército norte-americano.
Outros países permaneceram em silêncio.
A Libéria tem uma longa relação com os Estados Unidos, devido à sua história de escravatura, enquanto o desalinhado Marrocos, que não pertence à União Africana nem realiza eleições, deseja este exército dos EUA para que este o ajude a reprimir qualquer levantamento democrático.
A recusa da SADC é uma pequena vitória para os povos africanos na sua luta pela independência total, mas os restantes blocos regionais de África esforçam-se por chegar a uma postura comum, o que é preocupante. O próprio exército dos Estados Unidos quer um país mais estratégico que Marrocos e a Libéria, já que o exército será o epicentro de influentes, articuladas e protetoras políticas econômicas e de relações exteriores estadunidenses.
O outro perigo é que o Africom transforme a África num campo de batalha entre os Estados Unidos e grupos terroristas anti-estadunidenses. O Africom não é mais do que uma cortina de fumaça atrás da qual os EUA pretende esconder os seus desígnios de assegurar o petróleo e outros recursos naturais de África.
Os dirigentes africanos não podem esquecer que os Estados Unidos e Europa utilizaram sempre a força militar como o único meio eficaz de cumprir a sua agenda e de assegurar que os governos de cada país estão dirigidos por pessoas submissas à disciplina norte-americana. Ficando sediado em África, o Africom garantirá que os tentáculos dos Estados Unidos cheguem facilmente a cada país africano e assim influenciem cada acontecimento em beneficio dos Estados Unidos.
Ao albergar o exército norte-americano, a África cede a sua independência militar aos Estados Unidos e inicia o processo de recolonização através de um exército que pode abafar qualquer tentativa por parte de África para mostrar a sua capacidade militar. A pergunta fundamental é: uma vez estabelecido, quem tirará daí o Africom? Com que meios?
Pela sua origem, o AFRICOM será técnica e financeiramente superior a qualquer exército africano e decidirá com todo o à vontade a mudança de regime em qualquer país, e aprofundará, dirigirá e acelerará o esquema norte-americano de exploração de recursos naturais. Não resta a menor dúvida que quando este exército norte-americano estiver operando, serão revogados todos os êxitos das indepedências em África. Se os atuais dirigentes africanos cederem aos desejos dos EUA e aceitarem que este seu exército opere na África, ficarão na história como a geração de políticos que aceitou a prevalência dos males futuros.
William Shakespeare daria voltas na tumba e exclamaria: «
para que triunfe o mal basta que os homens de bem não façam nada». Não podemos esquecer que os africanos, que ainda estão sentidos com a humilhação, a subjugação, a brutalidade e o complexo de inferioridade provocados pelo colonialismo, não necessitam, não precisam de outras formas de colonialismo, mesmo que sutis.
O Africom foi um tema controverso desde que o ex-presidente estadunidense George W. Bush o anunciou pela primeira vez em Fevereiro de 2007.
Os dirigentes africanos não devem esquecer que com a administração de Barack Obama a política norte-americana para África e o resto do mundo em vias de desenvolvimento não mudou um milímetro. Continua a ser uma política militar em apoio dos benefícios materiais.
Os titulares de cargos importantes tanto da administração Bush como de Obama argumentam que o principal objetivo do Africom é profissionalizar as forças de segurança em países-chave de toda a África. o entanto, nenhuma destas administrações fala do impacto do estabelecimento do Africom sobre partidos e movernos minoritários, sobre dirigentes fortes considerados infiéis aos EUA, nem se os EUA utilizarão o Africom para promover ditadores amigos.
Os programas de treino e armamento, e a transferência de armas da Ucrânia para a Guiné Equatorial, Chade, Etiópia e o governo de transição da Somália indicam claramente o uso do poder militar para manter a influência [estadunidense] nos governos de África, que continua a ser uma prioridade da política externa dos Estados Unidos.
Com a Revolução Laranja, os Estados Unidos levaram ao poder os atuais dirigentes da Ucrânia e agora estão a dar-lhes carta branca para fornecerem armamento aos conflitos africanos. Os dirigentes africanos devem dar mostras de solidariedade e bloquear todo o movimento dos Estados Unidos para estabeleceras suas bases na mãe pátria, a menos que queiram ver um novo assalto da colonização.
Se se permitir que o Africom estabeleça uma base em África, Kwame Nkrumah, Robert Mugabe, Sam Nujoma, Nelson Mandela, Jules Nyerere, Hastings Kamuzu Banda, Keneth Kaunda, Agostinho Neto e Samora Machel, entre outros, teriam lutado nas guerras de libertação em vão. Milhares de africanos que morreram nos cárceres coloniais e nas frentes de guerra terão derramado o seu sangue em vão se a África for de novo colonizada.
Porque deveria o atual grupo de dirigentes africanos aceitar sistematicamente a recolonização, o que é que aprenderam da sujeição ao colonialismo, ao apartheid e ao racismo? Porque não vai o atual grupo de dirigentes africanos tratar a administração norte-americana de igual para igual e dizer-lhe na cara que não necessita de um exército estrangeiro, já que a União Africana está a preparar o seu próprio exército?
Os dirigentes africanos não necessitam de profetas procedentes de Marte para saber que a fascinação estadunidense pelo petróleo, a guerra contra o terrorismo e o exército se centrará agora em África, depois da aventura no Iraque.
* Tichaona Nhamoyebonde é um analista político e reside na Cidade do Cabo, África do Sul.
Fonte: www.vermelho.org.br
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter