[Tradução: Eva P. Bueno]
Devido aos recentes e correntes eventos em Gaza, há uma necessidade crítica de que ativistas pela paz em todo o mundo estejam solidários com seus irmãos e irmãs israelenses. Não é fácil ser um ativista pela paz em um país cuja história com os palestinos envolve várias batalhas em uma guerra que continua.
No dia 3 de janeiro de 2009, vinte e uma organizações de paz israelenses tiveram uma demonstração e uma marcha em oposição à ação israelense em Gaza. Liderados por Gush Shalom e a Womens Coalition for Peace (União de Mulheres pela Paz), mais de dez mil pessoas marcharam carregando faixas com mensagens como Não se faz campanha política sobre o corpo de crianças mortas!; Os órfãos e as viúvas não são propaganda eleitoral!; Todos os ministros são criminosos de guerra! e Basta! Basta! Vamos negociar com Hamas!
O governo israelense fez uma intensa campanha de propaganda dizendo que a luta contra Hamas preenche os critérios de uma guerra, que Hamas deve ser destruído para a proteção da segurança do Estado de Israel. As tomadas de opinião pública israelense mostram que a entrada militar em Gaza tem grande apoio popular. O governo convenceu quase todos os israelenses e a imprensa ocidental, especialmente a imprensa americana, que Israel está fazendo todo o possível para evitar ferir civis. Yariv Oppenheimer, secretário geral de Peace Now (Paz Agora) disse que há um consenso no movimento pacifista a favor de cessar fogo e negociar maneiras de manter a paz.
Ele diz, esta guerra está ferindo e matando tantos civis inocentes e causando tanta miséria e sofrimento do lado palestino, que ninguém pode simplesmente ignorar o que está acontecendo e continuar sua vida normalmente. Gideon Levy, um colunista liberal para o jornal Haaretz, escreveu que os israelenses se tornaram brutalizados por este conflito, e que estão insensíveis à enorme perda de vida entre os civis. Tudo é permitido, legítimo e justo, Levy escreveu. Israel matou o líder da Hamas, Nizar Rayan. Ninguém conta as vinte mulheres e crianças que perderam suas vidas no mesmo ataque. Os palestinos estão morrendo nos hospitais por falta de equipamento médico... Nossos corações estão endurecidos e os nossos olhos estão embaçados.
O professor Oren Yiftachel, que ensina geografia política e planejamento urbano na Universidade Ben-Gurion, escreveu extensamente sobre a geografia política de conflitos étnicos. Ele é membro ativo de várias organizações de paz e da sociedade civil e membro fundador do grupo Professores pela Paz entre Israel e Palestina (FFIPP). Yiftachel recentemente escreveu o seguinte:
Podemos ver a invasão de Gaza não somente como uma operação para parar os foguetes de Hamas; um esforço eleitoreiro para aumentar a popularidade dos cínicos líderes israelenses; ou como uma tentativa de restabelecer a capacidade de Israel deter os palestinos depois da falha da segunda guerra do Líbano em 2006. Esta invasão e a destruição de Gaza não é nem uma tentativa colonial de criar uma nova ordem política entre as nações vizinhas, ou um esforço imperial (americano-israelense) de controlar as sociedades árabes insurgentes. O ataque atual a Gaza é naturalmente todas estas coisas mas tambéme de uma forma muito importante, um outro passo no projeto de longo tempo de silenciar, fragmentar, quebrar e aniquilar a história palestina e a sua existência coletiva. Este projeto de apagar a Palestina é conduzido por quase todo mundo em Israelpolíticos, artistas, a imprensa, os pesquisadores das universidades e os intelectuais. [1]
Outro ativista, Uri Avneri, foi um antigo soldado sionista na guerra árabe-israelense de 1948, e que mais tarde fundou a organização de paz Gush Shalom. Avneri escreveu que:
O bloqueio de Gaza foi um experimento científico designado a descobrir o quanto se pode aniquilar pela fome uma população e transformar sua vida em um inferno antes que as pessoas percam o controle. Este experimento foi conduzido com a generosa ajuda da Europa e dos Estados Unidos. Até agora, ainda não teve sucesso. Hamas acabou ficando mais forte, e o alcance dos Qassams maior. A guerra atual é a continuação do experimento por outros meios. [2]
O consenso fundacional entre os movimentos israelenses-palestinos de paz consiste dos seguintes pontos:
As vidas israelenses e palestinas têm o mesmo valor. Ambas são preciosas.
Os povos israelense e palestino têm direitos iguais à autodeterminação e a viver em paz e segurança.
Os povos israelense e palestino têm direitos iguais a uma medida justa da terra e dos recursos da Palestina histórica.
Dois estados nacionais, Israel e Palestina, com igual soberania, direitos iguais e responsabilidades iguais.
A divisão ao longo da fronteira anterior a 1967 (deve ser) modificada somente com troca de territórios em comum acordo.
A evacuação de todos os israelenses de áreas tomadas, exceto aquelas dentro das áreas em que as duas partes estejam de acordo com a troca.
O reconhecimento de Israel por parte dos palestinos e dos árabes, e a renúncia da tentativa de obter-se outros territórios.
A aceitação dos palestinos das limitações das negociações sobre o direito ao retorno, em troca de compensação financeira para os refugiados.
Já que o governo de Israel está envolvido em uma intensa campanha para desmoralizar o movimento de paz israelense, e a imprensa ocidental, especialmente a americana, intencionalmente ignora o movimento de paz, é de importância crítica que ativistas da paz em todo o mundo, tanto indivíduos como organizações, declarem solidariedade com seus irmãos israelenses. Eu peço urgentemente que todos os ativistas da paz visitem regularmente as páginas dos seguintes grupos de paz israelenses:
Gush Shalom
Israeli Committee Against Home Demolitions (Comitê Israelense contra a Demolição de Casas)
Bat Shalom, Israeli Women for Peace (Bat Shalom, Mulheres Israelenses pela Paz)
Rabbis for Human Rights (Rabinos pelos Direitos Humanos) -
New Profile (Novo Perfil)
Yesh Gvul
Uma vez que o leitor se familiarize com as atividades das muitas organizações pacifistas de Israel, vai se tornar claro como pacifistas de todo o mundo podem começar atividades que tornem públicas e dêem apoio aos esforços de paz em Israel. Ao invés de simplesmente criticar o governo de Israel, cada um de nós tem a obrigação de tornar-se parte da solução ao apoiar o trabalho de ativistas não-violentos em Israel que estão arriscando suas vidas e suas carreiras na crise do momento.
* Professor de Relações Internacionais em St. Marys University, San Antonio, Texas.
[1] Refugee Watch Online , January 15, 2009. http://refugeewatchonline.blogspot.com/2009/01/returning-time-to-gazans.html .
[2] Molten Lead in Gaza - How Israel is Multiplying Hamas by a Thousand , January 2, 2009. http://www.corkpsc.org/db.php?aid=96343.
http://www.espacoacademico.com.br/093/93esp_hufford.htm
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