Dia Internacional da Mulher: Tanto a fazer

O Mundo celebra outro dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher, uma comemoração justa pelo muito que tem sido feito em ganhar direitos pela mulher desde metade do século XIX. Porém, uma análise mais profunda nos leva a constatar que há tanto mais a fazer, muito mais caminho a percorrer.

Os Direitos da Mulher já foram garantidos – e perdidos – em muitos estados muito antes que o Movimento das Sufragettes conseguisse refutar a absurda noção criada pelos homens, que as fêmeas não tinham estabilidade psicológica suficiente para terem opinião – quanto mais ridícula quando lembramos que a história está cheia dos anais de Grandes Mulheres desde os tempos pré-clássicos, em todos os continentes, e também das Grandes Mulheres atrás dos Grandes Homens.

Enquanto mudam os tempos, às vezes quase imperceptivelmente, podem mudar os princípios e podem ser perdidas as vitórias. As tribos matriarcais que adoravam a Lua (feminina) e que respeitaram o branco como o símbolo, e o mocho como o anunciador, da Morte, foram suplantadas por tribos patriarcais que adoravam o Sol (masculino), em que a cor negra representava o fim da vida. O sinal de fertilidade, levantando o punho com o dedo indicador e o dedo mindinho em alta, era em tempos pré-clássicos símbolo da fertilidade (representando os dois quartos da Lua, crescente e minguante, altura em que se acreditava que a fêmea era mais fértil) mas hoje é um insulto nos países latinos (já sinal do corno em vez da cornucópia).

Enquanto os direitos das mulheres foram apercebidos a fazerem ganhos nas sociedades ocidentais desde metade do século XIX, e enquanto cada vez mais mulheres participam plena e activamente nos organismos civis e políticos no nível mais alto, quase em todo o planeta, poderíamos sucumbir à tentação de dizermos que já está tudo feito, a batalha está ganha, baixar a espada e deixar de lutar.

Porém isso não poderia estar mais longe da verdade.

Como é que podemos congratular-nos quando a Mutilação Genital Feminina continua a ser uma realidade chocante para dezenas de milhões de mulheres que nem sequer têm o direito de se pronunciarem sobre essa violação aos seus corpos? Como podemos sentir-nos satisfeitos quando uma mulher pode ser queimada viva se a família do marido não gosto dela (ou da seu dote)? Como podemos chamar-nos “civilizados” colectivamente, se as mulheres não podem andar livres em sociedades onde seus direitos tinham sido garantidos?

Um belo exemplo é providenciado pelo Iraque, país onde há apenas quatro anos, as mulheres eram totalmente emancipadas e livres a vestirem-se como quisessem, onde a religião era questão de escolha particular e não uma espécie de crachá que poderá ditar o direito a andar vivo ou ser morto, onde hoje em dia uma mulher pode ser violada ou decapitada em plena luz do dia simplesmente porque não usa o véu.

E não se pode culpar o Saddam Hussein por isso.

Por isso, os direitos podem ser ganhos e perdidos e pergunta-se, as mulheres são verdadeiramente livres em qualquer sociedade?

O direito à licença de maternidade em muitos países já está na lei...porém quantas mulheres evitam ficar grávidas porque temem perder os seus postos de trabalho? Quantas escondem a sua gravidez ou que podem estar a pensar em ter um bébé quando vão à entrevista? (A senhora pensa em ter crianças no futuro próximo?) Os Governos providenciam incentivos para as mulheres terem crianças? Não só parir, mas criá-las? Existem quaisquer benefícios para as firmas que empregam mulheres grávidas ou mães de bébés/crianças pequenas? Ou será que as mulheres que se atrevem ter um bébé são tratadas como uma espécie de doença que surgiu? (Ai não!! Não me diga que vai ter um BÉBÉ!!) Os Governos premeiam em termos fiscais os que se casam? Ou são penalizados?

Dá-se um tratamento preferencial, tal como redução de horário para mulheres que têm crianças jovens, que têm de ir buscar da escola, lavar, alimentar, depois preparar o jantar e preparar tudo para o dia seguinte, isso depois de um dia completo de trabalho e antes de outro dia completo de trabalho, e provavelmente a ganhar menos do que um homem na mesma posição?

Por isso, foram de facto conquistados os direitos da mulher, ou será que estamos apenas numa fase cosmética, banhados em vanglória simplesmente porque a mulher tem direito de votar?

Ao passo que o Mundo avança pelo século XXI adentro, e se torna realidade a globalização, também são horas para uma globalização de princípios e uma harmonização de padrões que descrevem e sublinham os preceitos bases para uma sociedade civilizada/princípios fundamentais da Humanidade.

Evidentemente, nenhuma cultura tem o direito de se pronunciar superior a qualquer outra, nenhuma sociedade tem o direito a tentar dominar outra e por repugnante que seja a prática por certas nações em impor condições políticas e sociais no acto de assinar acordos comerciais ou culturais, também não será verdade que hoje em dia deveremos concordar que um direito básico e fundamental é o da não-violação da integridade por outrem, a não ser que haja um acordo de consentimento entre duas partes adultas?

Os muitos exemplos da violação dos direitos das mulheres citados acima caberiam nessa categoria que os legisladores poderiam facilmente adaptar e adotar. Sim, caminhámos muito desde meados do século XIX mas enquanto as mulheres têm de trabalhar mais, e mais tempo, por menos salário, enquanto não sejam garantidos os seus plenos direitos a receberem reconhecimento por actividades extra-profissionais (mas também quasi-obrigatórias socialmente), enquanto a sua integridade física pode ser violada sob a lei, costume, ou hábito em qualquer sociedade, sem consentimento, então há muito mais a fazer, muito mais caminho a percorrer.

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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