Em face de uma doença grave, o presidente Fidel Castro transmitiu provisoriamente as rédeas do poder a sei irmão Raul, a segunda figura mais importante na hierarquia do Partido Comunista e do Estado. Essa decisão gerou um sem-fim de perguntas e previsões.
É a opinão de Vassili Likhatchiov, vice-chefe do Comitê para os Assuntos Internacionais no Conselho da Federação, como as chamada na Rússia a Câmara Alta do Parlamento federal: Mesmo depois do afastamento de Fidel Castro, o regime que ele esteve edificando durante quase meio-século permanecerá muito firme.
Por outro lado, o legislador pensa que sem Fidel Castro Cuba irá sendo incorporada no processo de globalização em busca de novos vínculos econômicos com o mundo em redor. Vassili Likhatchiov não concorda com os que esperam uma onda de movimento anticastrista na ilha.
Na História Contemporânea, Fidel Castro é uma figura de dimensão global. Esse político russo pensa que o povo cubano possui um potencial sério para poder encontrar um lugar para si no mundo de hoje. O cientista político Serghei Karaganov pensa igual: "Acontecerá, o mais provável, uma certa liberalização da política econômica" ,disse.
"Talvez, uma certa liberalização política também. Mas, em princípio, não se deve esperar umas mudanças radicais. Segundo esse analista, a doença do dirigente cubano não significa em absoluto que não haja chances de recuperação. Sim, Fidel Castro está doente, mas tem ao seu dispor uma ótima medicina e pode ser tratado pelos melhores especialistas do mundo.
Quanto aos boatos sobre sua próxima morte, informa AFP, tais têm sido veiculados ao longo dos últimos trinta anos. Raúl Castro, ministro da Defesa, que acumula, oficialmente a título "provisório", as funções de Chefe do Estado, do Governo, do Exército (50 mil homens) e do PC, ainda não apareceu em público desde a operação do irmão mais velho, anunciada há quatro dias. Raúl Castro tem estado sempre na sombra do irmão, mas alimenta especulações sobre a direcção que tomará Cuba sob o seu comando: transição, statu quo ou endurecimento do regime.
Na rua, dizem mal o conhecer: alguns acham-no "menos político" que o irmão, enquanto outros recordam que se interessou pela evolução dos regimes vietnamita e chinês e foi o arquitecto de reformas pragmáticas, como a abertura ao turismo. "Se o Comité Central estiver unido, não haverá problemas. Mas é preciso que controle Raúl", dizia um militante de longa data do PCC.
Fidel Castro não voltou a falar depois do boletim de saúde difundido terça-feira, mas, segundo a irmã mais nova, Juanita, exilada em Miami desde 1964, não está já nos cuidados intensivos"e espera agora para ver o que se passa".
As autoridades procuravam ontem mostrar que controlam a situação. "As forças de combate estão prontas para nos defender", titulava o Granma, órgão oficial do PCC, sobre uma fotografia que mostrava os trabalhadores da fábrica de armamento de Havana de punho erguido.
Um artigo descrevia como os trabalhadores "com as mãos manchadas de gordura, alguns com as máscaras de soldar", tinham "desejado a Fidel uma rápida recuperação e exprimido o seu apoio a Raúl e à direcção do nosso partido".
Nos media cubanos, o "colectivo dos trabalhadores" da Radio Rebelde, rádio "histórica" do regime, repetia ontem de manhã uma moção assegurando Fidel Castro do seu "claro apoio à proclamação" que delegou o poder a Raúl. A rádio continuará a ser "a artilharia pesada da batalha" e os seus jornalistas darão "até à última gota de sangue" para defender a revolução, diz a moção.
O regime diz-se pronto a controlar as ameaças e o Granma anunciou ontem uma emissão televisiva especial consagrada aos "chacais da extrema-direita norte-americana e da mafia de Miami", principal ponto do exílio da oposição cubana.
Um anúncio referia o apelo ao levantamento militar ou civil em Cuba, lançado pela poderosa Fundação Cubano-Americana, principal organização de exilados nos EUA. O presidente da organização, Jorge Mas Santos, disse que havia agora "oportunidade para os homens e mulheres corajosos que querem que Cuba vá por outro caminho".
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