Ráguebi – O chefe francês Pierre Paparemborde dirige o carro Verde-Amarelo

Após compartilhar alguns dias com o ambiente Sul-Americano do ráguebi, o francês Pierre Paparamborde, treinador principal da seleção brasileira bateu um papo descontraído com o PRAVDA e nós gravamos para que os amantes do esporte saibam dos planos e projetos dele e a Associação Brasileira de Rugby nos próximos meses.

No entretempo do jogo Uruguai perante o Chile em um cantinho da Arquibancada Principal do Estádio Charrúa, «José Nassazi» e após a vitória do Brasil encima do Paraguai teclamos o botão vermelho da nossa gravadora.

Eis aqui o conteúdo da fita e neste primeiro trecho envolve uma reportagem que gravamos do lado do microfone direcional, gigante e cinza da ESPN após o final da primeira vitória brasileira no torneio a ainda no interior do campo na hora que uruguaios e chilenos esquentavam os corpanzis rumo ao jogo final.

Qual foi a razão para que acabasse acontecendo esta vitória hoje?

Tudo quanto vocês viram é a confirmação de um trabalho que começamos faz dois anos e Francis chegou para reforçar este ano mas trata-se de uma mudança no ráguebi brasileiro, trabalhamos, organizamos as coisas, os jogadores sacrificam-se muito e ráguebi é um esporte que acarreia resultados para todos aqueles que trabalham.

Quanto ao jogo que acabou de acontecer perante o Paraguai, acabou sendo uma vitória lógica, tivemos uma rival difícil. Acho que teríamos ter ganho o jogo com maior conforto mas temos que aprender do melhores do Sul-Americano «A» e vamos ter como próximo objetivo jogar estes partidos bem mais sossegados, com maior tranqüilidade, experiência e sabedoria no momento de atacar o jogo.

Qual foi a maior qualidade do Brasil para obter a vitória neste jogo?

Ehhhh, vamos ver...amizade. Só pra começar Francis e eu somos amigos e transportamos nosso sentimento para a turma. Aliás compartilhamos momentos ótimos com a turma toda, sempre da para tirar risada, no ônibus, no hotel, na cantina. Somos um grande bocado de amigos e para no ráguebi obter resultados tudo tem que começar assim deste jeito. Somos amadores, trabalhamos, o Francis deixou a família porém a vida dele na França, eu sou Diretor de «xxxx» no Brasil e exprime muito sacrifício mas tudo isso pode valer unicamente se no final tem uma aventura humana, uma aventura organizada.

Uma pergunta para o Francis Ntamack (que ficou do lado do Pierre no decorrer da reportagem da ESPN).

Francis, agora você vai voltar na França mas está querendo se manter envolvido com o ráguebi do Brasil?

Houve tradução do Pierre para ele responder logo.

Vamos jogar contra França «A» em agosto e setembro, caso a poupança permite que isso aconteça. Jogadores, técnicos e dirigentes brasileiros vamos continuar trabalhando.

PRAVDA: Pierre, está querendo mesmo a seleção brasileira participar do Torneio Uruguaio?

PIERRE: Talvez não seria a seleção brasileira mas uma seleção de São Paulo, dos times de São Paulo, uma associação dos times de São Paulo que se juntaria para disputar o Campeonato Uruguaio mas ainda estamos discutindo com a União Uruguaia de Ráguebi. Nós temos um grupo financeiro brasileiro que está trabalhando para reunir uma verba e patrocínios e sabemos que nosso progredir passa por Uruguai ou Argentina e temos a firme intenção de jogar mais jogos na região e acho que com a ajuda da URU vamos ver se temos a possibilidade e lançar uma seleção são-paulina ou paulista no Campeonato de Abertura e Clausura do ano que vem no Uruguai.

PRAVDA: Você acha que a URU não vai querer?

PIERRE: Veja, a URU já se pronunciou verbalmente de forma positiva. Sabemos que eles tem nove clubes hoje no Campeonato Uruguaio e nós poderíamos ser o décimo para fechar mais partidas e temos um time de nível para disputar o torneio, seria interessante para nós não ia deixar como até agora um time uruguaio sem jogar num fim de semana. Aliás, acho que trata-se de uma solução que poderia contribuir com as duas partes, as duas associação e nós gostamos muito da idéia. Já recebemos um buquê de parte da URU.

PRAVDA: Já tem planejado tudo isso aí, não é? Como vão viajar para Montevidéu?

PIERRE: Ainda, não, ainda não pois não temos garantido os recursos financeiros, por isso continua sendo um projeto. Nós temos um grupo de apoio, de pessoas, de executivas de grandes empresas, São Paulo é uma cidade que é muito rica e existe necessidade de muitas empresas brasileiras de anunciar, de comunicar, vincular a marca deles no Uruguai e na Argentina. Um dos maiores apoios é o Presidente do Grupo Alpargatas, que é o Grupo Havaianas, e estamos já discutindo com eles para ver se nós conseguimos viabilizar esse projeto o ano que vem.

PRAVDA: Não passa nem por uma parceria com uma linha aérea?

PIERRE: Sim, com certeza uma linha aérea seria das primeiras parceiras, a GOL, a PLUNA, e a BRITISH AIRWAYS que tem um vôo que para em São Paulo e vai para Buenos Aires depois. Tudo isso precisa ser aprofundado, não tem nada definitivo ainda mas é bom a gente ter pessoas de qualidade no Brasil para planejar isso, nós temos tempo para planejar e vontade. Então agora é só trabalhar, encontrar os recursos mas acredito que seja um projeto viável para 2010.

PRAVDA: Percebeu que ás 14:45 h, na hora que vocês deram a última virada de 24 x 21 para ganhar o jogo perante o Paraguai um avião da GOL acabou dando um vôo raso sobrevoando o Estádio? Talvez estava querendo fazer pouso para assinar essa tal parceria?

PIERRE: Juro que não tinha visto mas agradeço tua lembrança, deve ser um sinal de Déus. Meu pai sempre me falava que se você não olhou a nuvem passar no ceu você perdeu a chance de vê-la; talvez seja um sinal de Déus, sem dúvida.

PRAVDA: Para continuar fazendo progredir o ráguebi brasileiro será que poderia se candidatar para um próximo Sul-Americano?

PIERRE: Nós temos que ser realistas. Brasil hoje não tem condições de estrutura de acolher um Sul-Americano. Nós temos...seria possível mas acho que não seria realista pois nós temos outros trabalhos muito mais importantes, precisamos construir o Centro Nacional de Ráguebi, criar o ferramental de trabalho para nossos treinadores, árbitros, criar gerações de ráguebi e acima de tudo criar uma casa para nossa família do ráguebi brasileiro. Não existe uma família sem teto, sem casa, e nós temos essa como uma primeira urgência á resolver no Brasil. Montar esse Centro de Treinagem Nacional para poder priorizar a prática do ráguebi em São Paulo , para os clubes e as novas gerações.

Acho que um dos resumos que a gente podería tirar deste Sul-Americano é que nossa turma é muito limitada para conseguir concorrer com seleções como Chile e Uruguai, precisamos de um plantel de 40 ou 50 jogadores de belíssimo nível e isso só irá acontecer com a formação das novas gerações. Então vamos aprendendo disputando essas partidas, talvez o Campeonato Uruguaio ano que vem, aprendendo mas tendo consciência que trata-se de um tarefa á longo prazo e só vai começar assim deste jeito.

PRAVDA: Para montar essa parceria com a URU, os árbitros ficariam dentro desse intercâmbio, tudo isso ia ser parte desse processo?

PIERRE: Já existe uma parceria entre os árbitros brasileiros e uruguaios, temos o Xavier Volga que vem apitar aqui freqüentemente no Campeonato Uruguaio, além disso tem dois ou três árbitros jovens brasileiros que estão em um nível internacional, e eles já apitaram Sul-Americano «B», Sul-Americano de Seven «A» também. Embora, tem possibilidades de trazer além de um clube, árbitros e participar mas temos que organizar tudo isso, é um projeto que ia se iniciar em Março ou Abril do ano que vem. É óbvio que a colaboração técnica, dos dirigentes e dos árbitros é essencial entre Uruguai e Brasil para termos um crescimento realístico do ráguebi do Brasil.

PRAVDA: Esse Centro Poliesportivo que está montando na cabeça é para cativar todos aqueles moleques de fora São Paulo tentando fazer progredir o ráguebi?

PIERRE: O ráguebi está sendo mais e mais mediatizado agora no Brasil por causa da participação das «MENINAS» na Copa do Mundo, o ráguebi está na televisão na ESPN e estamos trabalhando para tentar obter as imagens da ESPN Argentina para ESPN Brasil para divulgar mais e temos a intenção de começar distribuir nossos jogadores na Argentina pois sabemos que o sonho Européio ainda está muito longe, pouco realístico para os jogadores brasileiros mas caso tivermos cinco ou dez jogadores brasileiros inseridos no Campeonato Argentino a imprensa brasileira teria um outro interesse para fazer uma cobertura e acrescentaria essas imagens na tevê brasileira.

PRAVDA: Vai ter jogo do Brasil perante a França em Agosto ou Setembro?

PIERRE: Veja só, é um contato que eu fiz o ano passado com a Federação Francesa de Ráguebi, por uma Cooperação Técnica a maior prazo que está sendo desenvolvida e vai acontecer...Francis também faz parte desse projeto e a Seleção França Amadora vai vir em Agosto e Setembro no Brasil para disputar dois jogos contra nós. Uma seleção treinada pelo Olivier Magne, que é um amigo que eu conheço da época que o meu pai era manager da seleção francesa e eu pedi para o Olivier se ele aceitaria depois do Torneio de Seis Nações Amador vir e jogar no Brasil e eles aceitaram então a gente está preparando isso com os patrocínios franceses porque este ano é o ano da França no Brasil e todas as empresas francesas são movimentadas em torno desse evento. Então esses dois jogos, um em São José dos Campos no Estado de São Paulo, no final de Agosto ou inícios de Setembro já são programados dentro do programa desse evento do Ano da França no Brasil.

PRAVDA: Pierre, qual é teu currículo?

PIERRE: Meu currículo...eu fui jogador do Racing Club de France que está volvendo na Primeira Divisão, quando era jovem. Depois joguei na Segunda Divisão e terminei minha carreira com 25 anos no Etat Francaise, lesionei o meu joelho, jogava de número dez e quando eu sai do Etat Francaise chegou um cara chamado Diego Domínguez e tive a oportunidade de praticar um pouco de ráguebi com Diego e me deu a oportunidade de convidar depois no Brasil e ele esteve conosco umas semanas atrás para ajudarmos.

Mas tive que parar minha carreira pois eu trabalhava no mundo da música, viajava muito pelo mundo inteiro, o ráguebi não era totalmente profissional na França ainda e eu fiz um escolha, depois eu fui jogar na Primeira Divisão e ganhar um Campeonato tive que parar a minha carreira pois meu joelho não agüentava mas com muito prazer que dez anos depois com trinta e cinco anos me reencontrei com o ráguebi no Brasil por uma história de amor com minha esposa brasileira e por acaso completamente por acaso pois quando euvim morar no Brasil eu não sabia que tinha ráguebi no Brasil e são fornecedores da minha empresa que me levaram em um treino de um clube e assim começar me re-envolver com o ráguebi e assim que eu terminei treinando a seleção.

PRAVDA: Como foi aquele encontro com sua esposa?

PIERRE: Quanto á minha esposa brasileira, o encontro foi na Final da Copa do Mundo ‘ 98 da França e do Brasil lá em Paris, no Stade de France, onde eu encontrei ela e depois casamos, tivemos filhos... tenho duas filhas que são franco-brasileiras mas é uma história que continua, uma história de amor que começou na França e continua no Brasil.

PRAVDA: Foi a hora que um apito retumbante «estragou» o final da gravação que só conseguimos adivinhar pelo conteúdo que ia trazendo a história de amor do Pierre. Esse apito estava chamando os amadores do ráguebi rumo ás arquibancadas para continuar assistindo a segunda metade do jogo que Uruguai vencia o Chile 22 x 09.

É bom salientar que além desse rico histórico do Pierre Paparemborde no ráguebi mundial, trata-se de um cara extremamente simples e com um português enxuto porém mais uma vez o seu amor brasileiro tem tido muito a ver nesse assunto.

Fotos:

1 - De esq. á dir. Pierre Paparemborde – Francis Ntamack

2 – De esq. á dir. Pierre Paparamborde – Ramiro Mina (Capitão do Brasil).

Correspondente PRAVDA.ru

Gustavo Espiñeira

Montevidéu – Uruguai

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey