São cada vez mais futebolistas brasileiros, que firmam os contratos com os clubes russos, atraídos pelo bom dinheiro e a receptividade dos torcedores. Cerca de 70 brasileiros passaram pelos clubes russos nos últimos dez anos
A cada ano, novos jogadores são atraídos pelo altos salários pagos por clubes do país, que, acredita-se, podem girar em torno de US$ 100 mil (cerca de R$ 200 mil) mensais.
Atualmente, há vários brasileiros em pelo menos dois dos principais clubes russos e, aos poucos, o país parece caminhar para se tornar destino popular para jogadores brasileiros no exterior, a exemplo de Itália, Espanha, Portugal e Alemanha.
O técnico Vitaly Shevchenko foi um dos primeiros que começou contratar os brasileiros.
"A abertura, no futebol, começou aos poucos" diz Shevchenko."O dinheiro começou a aparecer mesmo depois do ano 2000", acrescenta. Hoje, segundo o jornalista esportivo Vasily Konov, os clubes russos são patrocinados por grandes empresas, como Lukoil e Gazprom, por isso conseguem comprar tantos jogadores.
O CSKA de Moscou, por exemplo, é um dos times que mais tem investido em jogadores brasileiros. São cinco: Vágner Love, Jô, Dudu Cearense, Daniel Carvalho e Ramón.
O meio-campista Ramón foi a mais nova aquisição. O time teria pago o equivalente a mais de R$ 16 milhões pelo jogador.
Além disso, desde janeiro, o clube russo levou a Moscou o preparador físico da seleção, Paulo Paixão.
Mas é só o dinheiro que atrai os jogadores? "Nem todo mundo vem por causa do dinheiro", afirma o zagueiro Géder, de 29 anos, um dos primeiros brasileiros a se aproveitar dessa nova onda de investimentos no futebol russo.
Ele começou no Saturno e atualmente está no Spartak de Moscou. "Eu acredito que é mais uma opção de trabalho mesmo. Há outros países que são piores do que a Rússia, porque são mais distantes ou muito quentes", completou.
Mozart, meio-campista do Spartak, diz que o pagamento em dia também conta. "É importante saber que você vem aqui e vai receber o seu salário em dia. O futebol brasileiro tem passado por um período difícil no qual salários atrasados são uma coisa comum", afirma.
E alguns lembram que o futebol russo também já é sinal de visibilidade. "Aqui, o futebol está crescendo. Nós vemos Vágner, Dudu e Daniel sendo chamados para a seleção, então eu acho que isso mostra como o futebol russo é importante hoje e nos dá esperança de que a gente possa a vir jogar na seleção e também incentiva outros brasileiros que estão em casa e querem vir para a Europa", afirma o atacante Jô, do CSKA.
Frio e futebol
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelo jogadores brasileiros para se adaptarem ao país - tão distante de casa - a maior é o frio. "Nós chegamos a jogar um jogo pela Copa da Rússia, na Sibéria, com 26 graus negativos. O campo coberto de gelo, é bem inusitado, mesmo porque no Brasil isso é impossível de acontecer", diz o meia Mozart.
Quando faz muito frio, os jogadores têm permissão para jogar de luvas e, se há neve, uma bola de cor laranja é usada. Outro obstáculo é a língua, considerada muito difícil. Mesmo quem está no país há alguns anos, como Géder, ainda precisa de intérprete.
"Eu sei o básico do dia-a-dia. Para comprar, para comer, isso você precisa aprender. Mas para uma conversa séria, ainda precisa do intérprete", afirma.
Os jogadores também têm de se adaptar à maneira de jogar futebol, diferente da brasileira. "A diferença do futebol brasileiro é que não tem muito contato físico como tem aqui. Às vezes aqui, também, você tem que deixar a sua técnica de lado e ajudar na marcação, se esforçar um pouco para tirar a bola, então está sendo um pouco diferente para mim", diz o meia Ramón.
Resistência
E nem todo mundo vê com bons olhos a chegada de tantos jogadores estrangeiros. O ex-jogador da seleção russa, Nikolay Pisarev, diz não ser contra a presença de estrangeiros, mas acredita que deve haver um limite.
"Não importa quantos estrangeiros o clube tem, mas, no campo, não deveria haver mais de três ou quatro", afirma. Géder afirma que o fato de o CSKA ter vários jogadores brasileiros e estar conquistando mais espaço em campeonatos europeus tem contribuído para uma aceitação maior dos estrangeiros.
"No geral, eles não aceitam [a presença de estrangeiros]. Eles só respeitam porque o CSKA é um time que não ganha só aqui, é um time que ganha na Europa também, então eles têm de aceitar", afirma.
O time dos que defendem a presença dos estrangeiros parece aumentar. Para o técnico Shevchenko, a Primeira Liga russa passou a ficar mais forte a partir do ano 2000 justamente por causa da entrada dos estrangeiros.
"Os exemplos são óbvios", afirma. "O CSKA ganhou a Copa da UEFA [em 2005], Spartak passou a ter um bom desempenho em nível internacional", completa.
Já o agente de esportes German Tkachenko diz que o impacto positivo dos estrangeiros, principalmente brasileiros, é óbvio. "Nós vemos, ao redor do país, crianças russas imitando os lances de Jô. A gente só pode torcer para que os jogadores russos aprendam com os brasileiros", afirmou.
Fonte BBC Brasil
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