Lulismo é populismo saudável, oposto ao absolutismo fascista

por Fernando Soares Campos

Dicionário é o "pai dos burros"? Não. Burro é quem não o consulta.

Houaiss 

Verbete: Populismo.

3 Rubrica: política. "denominação atribuída a diversos regimes políticos que surgiram na América Latina depois da crise de 1929, esp. na Argentina, com Juan Domingo Perón, e, no Brasil, com Getúlio Vargas, rompendo com as instituições democráticas, e cujas realizações concretas mais importantes foram: a diminuição do peso relativo das antigas oligarquias, esp. as rurais, a criação de legislação trabalhista que assegurou direitos aos trabalhadores, esp. os urbanos, a rápida industrialização, o nacionalismo como marca da política econômica nacional [grifo nosso], o estatismo na economia, o crescimento da classe média".

4 Rubrica: política. Regionalismo: Brasil. a partir de c1980, doutrina e prática política, de esquerda ou de direita, que prega a defesa dos interesses das camadas não privilegiadas da população, mas que freq. se limita a ações de cunho paternalista, angariando dessa forma o apoio popular [Freq., o povo aglutina-se em torno da figura de um líder carismático.] Obs.: cf. demagogia e demagogismo.

5 Rubrica: política.

ação de natureza populista

Ex.: esse governo precisa deixar de populismos e começar a governar de verdade.

Hoje, ao empregarmos o termo "populismo", pretendemos, com isso, argumentar sobre as características de determinados governos, sejam de esquerda ou direita, democráticos ou absolutistas. Trata-se, portanto, de uma definição clássica que, no Brasil, faz com que nos reportemos, quase que exclusivamente, às práticas de governos tidos como populistas no século passado: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. 

Apesar das imperfeições, falhas e vícios identificados nas formas populistas de se fazer política, seja pela direita, extrema direita, esquerda ou extrema esquerda, no início deste novo milênio, com a vitória do Partido dos Trabalhadores numa eleição para presidente da República, surge no Brasil um populismo, digamos, mais saudável, próprio para ser tratado sem a conotação pejorativa que muitos atribuem ao termo. Estou me referindo ao “lulismo", que, desde o "escândalo do mensalão", a mídia empresarial, hegemônica, decretou, em diversas ocasiões, o seu fim, a morte de tal fenômeno e o extermínio da aura popular do ex-presidente Lula.

Em 06 de julho de 2005, o jornal Folha de S.Paulo alardeou:

Escândalo "decreta morte do lulismo" e reduz "aura" do presidente, diz "HeraldTribune"

A BBC Brasil pegou carona na Folha, informando que...

O diário [Folha de S.Paulo] afirma que a mítica do presidente [Lula] sobreviveu a uma série de desilusões causadas a seus eleitores mais tradicionais, como a manutenção de uma política econômica ortodoxa, porque acreditavam "em sua integridade".

"Mas nas últimas semanas tudo veio abaixo e foi decretada a morte do ’lulismo’, como seu credo político é conhecido", diz o jornal.

Dezessete anos depois de lavrarem o "atestado de óbito" do governo Lula, "exterminarem" sua popularidade e "decretarem" o "fim da raça" do PT (veja: "Herr Bornhausen e a raça", Brasil, por Fernando Soares Campos no diário espanhol La Insignia, fevereiro de 2006), tendo sido Lula, nos últimos anos, vítima de golpe pelo asqueroso método denominado "lawfare", que, no nosso idioma, entende-se como uma forma de guerra jurídica, na qual o direito é usado como arma; ainda assim, com todo esse estorvamento, o lulismo continua vivo, e a esperança cresce nos corações lulistas.

Neste ano de 2022, em que ocorrerá eleição presidencial no Brasil, os institutos especializados em pesquisa eleitoral divulgam, desde já, os últimos resultados das consultas que revelam tendências do eleitorado a seis meses da eleição.

De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do outro, Bolsonaro (PL) e a imprensa-empresa empenhada em encontrar uma "terceira via", uma candidatura alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro.

O Datafolha, instituto que pertence ao mesmo grupo empresarial do jornal Folha de S.Paulo, revelou, em 24 de março, a seguinte evolução dos votos, conforme intenção dos eleitores consultados:

Primeiro turno:

Lula, 43%; Bolsonaro, 26%. Os demais candidatos somados: 21%.

Brancos e nulos: 8%; Não sabe: 2%. 

Conforme essa mesma pesquisa Datafolha, havendo segundo turno, Lula venceria qualquer desses concorrentes que viesse a ser seu adversário no pleito. Além disso, a pesquisa mostra que um possível enfrentamento entre Bolsonaro e Lula nessa segunda etapa das eleições deixaria o "mito" em humilhante posição: 

Intenção de voto no 2º turno, com disputa entre Lula e Bolsonaro:

Lula (PT): 55% 

Bolsonaro (PL): 34% 

Em branco/nulo/nenhum: 10% 

Não sabe: 1% 

Isso em meio, ainda, ao mais cruel massacre midiático do qual um ex-presidente brasileiro possa ter sido vítima, em toda a História deste país.

Golpe no Chile - 1973

Li, tempos atrás, relatos da pesquisadora Maria Helena Moreira Alves, PhD em Ciências Políticas, sobre o golpe de estado no Chile. Arquivei o artigo e aqui transcrevo determinado trecho:

"Quem viveu no Chile na época da eleição do Allende, ou conhece bem a história do Chile, deve estar sentindo, como eu, uma sensação de 'dejá vu'. Pois é. Eu já vi este filme. Durante a campanha para Presidente no Chile, em 1970, praticamente todos os meios de comunicação falavam que Salvador Allende, o candidato da Unidad Popular - coligação de partidos de esquerda - iria dividir o país entre ricos e pobres, iria exilar os mais ricos, expropriar toda a propriedade privada da classe média, inclusive suas casas e apartamentos em Santiago, e levaria o país ao caos comunista. Também disseram, sem cessar, que Allende era alcoólico e profundamente corrupto".

Se trocarmos algumas palavras e o personagem central desse texto, estaremos falando das candidaturas de Lula para presidente em 2002 e 2006.

Lula: guardião da democracia

Ainda é muito cedo para determinarmos com certa precisão quais as características mais semelhantes entre as formas de populismo que se verificaram abaixo do Equador na segunda metade do século XX, com o lulismo das duas primeiras décadas do século XXI. 

Em se tratando de populismo, Lula não rompeu com as instituições democráticas, como Perón; ainda não foi assassinado, como Allende, e espero que não tenha nenhuma intenção de suicidar-se, como Getúlio. Entretanto, já podemos observar que, em comum, eles tiveram, e Lula ainda tem contra si, as velhas forças reacionárias das oligarquias políticas. E aí, certamente, Lula corre o risco até de ser "suicidado", pois o ódio contra o presidente Lula conta com uma agravante (para as elites preconceituosas) não verificada entre os demais: trata-se de uma pessoa oriunda do mais humilde estrato social brasileiro, classe proletária, retirante da seca nordestina. Certamente as elites econômicas consideram que um homem desses na Presidência da República simboliza uma "desmoralização" das classes mais abastadas. Enquanto isso, parte da classe média atua como disseminadora das meias verdades (meia verdade é, na verdade, uma mentira completa) dessa mídia que, na primeira década deste século 21, alcunhamos de “PIG – Partido da Imprensa Golpista” Na versão da Wikipédia em português, com esse mesmo verbete, já não consta a minha opinião sobre o PIG, contudo, na versão em inglês, permanece registrado o que falei em determinada ocasião e que alguém decidiu transcrever naquela enciclopédia multilíngue, escrita de maneira colaborativa:

“Role of the internet

According to writer Fernando Soares Campos, "without the internet, Lula would have hardly been elected; if he had, he would not take office; if he had taken office, he would have been ousted with ease". He argues that "the PIG is strong, is Goliath, but the internet is filled with Davids". Campos says that the mere existence of the internet interferes with the monopoly of information by large media groups, and this interference hampers coups”.

Confira AQUI.

Tradução direta por Tradutor Google:

"Papel da internet

Segundo o escritor Fernando Soares Campos, 'sem a internet dificilmente Lula seria eleito [neste caso, eu me referia à reeleição em 2006]; se fosse, não assumiria; se tivesse [assumido], seria destituído com facilidade'. Ele argumenta que 'o PORCO [“PIG”, em inglês] é forte, é Golias, mas a internet está cheia de Davis'. Campos diz que a mera existência da internet interfere no monopólio da informação pelos grandes grupos de mídia, e essa interferência dificulta golpes.[22]. [Eu disse "dificulta", mas não os impede]."

Baseado no massacre que o presidente Lula enfrenta desde sua atuação como sindicalista nos anos 1980, combate midiático injusto do qual ele ainda é alvo, pode-se afirmar que o lulismo venceu a oposição política e o oligopólio da imprensa-empresa no Brasil. Foi assim que a raça sobreviveu. E ao que tudo indica, quem morreu mesmo foi o principal partido político que fazia a mais desleal oposição ao governo Lula: o PSDB; morreu e se esqueceu de deitar-se no caixão. Em vez de bandeiras, seu esquife será coberto com velhas revistas e jornais desbotados.

Quem me conhece sabe que não sou rancoroso, mas também não sou hipócrita, portanto não posso dizer "Vá com Deus, tucanada!", pois, nesse tipo de evento, o chefe do cerimonial é o mais vibrador dos bolsonaristas: Belzebu, o anjo da crueldade, aquele que enviará o próprio Bolsonaro para o Caldeirão 666, um verdadeiro vulcão lançando lavas de enxofre fundido, a altas temperaturas. Lá, ele terá a companhia de seu ídolo maior: o coronel Brilhante Ustra. Eles se merecem.

Há 17 anos, a oposição tucana, mancomunada com o PIG, decretou a morte do PT e o fim do lulismo, mas o que realmente se acabou ao final desse período, com características de autodestruição, esmagando-se a si mesma, foi a dita-cuja.

Se o PT, hoje, precisa se reestruturar, o que restou da oposição política ao lulismo precisa entender que ela própria já morreu. Não adianta insistir, está morta e se nega ao funeral. Seus membros transformaram-se em espíritos malignos, almas penadas, sofrendo as consequências de seus próprios embustes, presos às suas próprias armadilhas, vítimas de seus próprios sentimentos mesquinhos. Contudo não deixa de nos causar certa preocupação. Não deve ser preocupação do ponto de vista político propriamente dito, mas uma preocupação por estarmos lidando com elementos perigosos, mentes criminosas. Eles não esperavam que, quase duas décadas depois, Lula viesse a ter como vice, em sua chapa para Presidente da República, um ex-tucano de alta plumagem

Politicamente, a oposição ao lulismo definhou. O que ela ainda detém é o podre poder de articular um novo golpe, com o incondicional apoio do PIG, pois, para essa gente inescrupulosa, golpear viria a ser um "ato político muito natural", quando a verdade é que tal atitude não passa de transgressão às normas legais, como aconteceu com a presidenta Dilma em 2016 e com o próprio Lula em 2018, quando este foi impedido de concorrer à eleição presidencial daquele ano, devido a sórdidas armadilhas golpistas.

Em alguns estados da federação, quando das eleições de 2006, até mesmo certos políticos filiados a um dos partidos que formavam a dobradinha PSDB-PFL aderiram ao lulismo, a maior força política realmente viva neste nosso País. 

Nem mesmo o getulismo e o brizolismo tiveram tanta força quanto o lulismo que raiou no Brasil. O povo se identifica com Luiz Inácio Lula da Silva. Tendo Lula como presidente da República, o povo desta nação se sente no poder. Mas isso é natural, pois o lulismo é, sem dúvida, um populismo saudável. 

Fernando Soares Campos é escritor, autor de "Saudades do Apocalipse - 8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018; e "Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo", Grafmarques, Maceió, AL, 2022.

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Fernando Soares Campos