Uma das mais urgentes e inadiáveis necessidades em termos de organização da
sociedade produtiva é a de conciliar o desenvolvimento econômico com a promoção do desenvolvimento social e o equilíbrio ecológico, respeitando e resguardando, antes de qualquer coisa, o meio ambiente, a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos - base e suporte da atividade econômica.
Marcus Eduardo de Oliveira (*)
Uma das mais urgentes e inadiáveis necessidades em termos de organização da
sociedade produtiva é a de conciliar o desenvolvimento econômico com a promoção do desenvolvimento social e o equilíbrio ecológico, respeitando e resguardando, antes de qualquer coisa, o meio ambiente, a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos - base e suporte da atividade econômica.
A noção central em torno dessa ideia é bem simples: trata-se de procurar compatibilizar as dimensões econômica, social e ambiental. Esse é o ponto de partida para tentar superar, num primeiro plano, o dilema dicotômico verificado nas nações modernas entre a política de "crescer" e a necessidade de "preservar o equilíbrio ecológico"; dito de outra forma, entre o "prosperar" (econômica e socialmente), mas "sem destruir" (ambientalmente).
Na essência, busca-se com isso alcançar e cumprir três princípios básicos que estão referenciados no conhecido Relatório Brundtland, também chamado de "Nosso Futuro Comum", a saber: 1) desenvolvimento econômico (aspiração imanente da humanidade); 2) proteção ambiental (o cuidado para com a nossa Casa Comum, a Mãe Terra, Gaia para os gregos e Pachamama para os indígenas andinos); e, 3) equidade social (a inclusão dos excluídos).
Para superar essa dicotomia, tem-se um evidente questionamento do ecologismo sobre a racionalidade econômica, tendo em conta que essa última, pelas lentes do pensamento neoclássico (tradicional) - que em geral forma a maneira de pensar de boa parte dos economistas - pouca importância confere às consequências (degradação do capital natural) ambientais advindas de intenso e frenético estímulo ao
crescimento econômico.
Por sinal, alcançar o crescimento da economia a qualquer "custo" se transformou numa espécie de obsessão da macroeconomia convencional, ignorando
com isso os graves distúrbios gerados na biosfera, pondo em risco a base de sustentação da vida, uma vez que, em decorrência da expansão econômica produtiva os limites biofísicos passam a ser desrespeitados. É a atividade econômica dilapidando o capital natural.
Nesse pormenor, cumpre realçar importante passagem que consta do Manual Global de Ecologia (1993): "A produção de alimentos, energia e artigos industrializados está fortemente relacionada à deterioração do sistema que garante a vida na Terra.
Entre 1950 e 1986, quando a população do mundo duplicou, o consumo de grãos aumentou 2,6 vezes, o uso de energia cresceu 3,2 vezes, a potência efetiva da
economia quadruplicou, e a produção de bens manufaturados cresceu sete vezes. (...) Atualmente, o ser humano consome em alimentos, direta ou indiretamente, cerca de
40% do total de terras cultivadas no mundo".
É exatamente por esse tipo de "atuação invasiva" que o crescimento econômico não pode continuar sua "jornada" de deterioração sobre os recursos naturais, dilapidando sobremaneira os principais ecossistemas.
Continuar estimulando a aceleração do crescimento produtivo é, na prática, aumentar substancialmente a perda de diversidade biológica e ecossistêmica.
Aumentar a produção econômica, dentre tantos outros possíveis estragos ambientais,
também é sinônimo de poluir mais ainda a atmosfera.
Sobre isso, reitera-se que os elevados níveis de poluição e contaminação do ar não deixam dúvidas quanto à reposta que esse tipo de "prática econômica expansiva" oferece ao meio ambiente. Nos dias atuais, mais de dois milhões de pessoas morrem a cada ano no mundo por "respirar poluição", alojando nos pulmões pequenas partículas
(PM 10) geradas pela queima de combustíveis fósseis, além da poluição de ozônio (O3).
Somente na América Latina e no Caribe, a cada ano, morrem aproximadamente 35 mil pessoas devido à contaminação do ar; na Europa, são mais de 150 mil e, no leste da Ásia, mais de 1 milhão de vidas são ceifadas pelo mesmo motivo.
Por isso, o posicionamento ecológico, ao deixar claro que há limites e medidas restritivas para o aumento da produção econômica, deve estar acima do pensamento
econômico tradicional, ferindo assim, para desespero dos economistas tradicionais, o dogma atinente ao crescimento econômico, visto e defendido erroneamente como fator preponderante para consolidar a prosperidade de uma sociedade.
Com um padrão de consumo avassalador, alimentado pela voracidade consumista de 20% da população mundial (1,4 bilhão de pessoas) residente nas sociedades mais abastadas, o Planeta Terra apresenta sinais de completo esgotamento, evidenciando que não suporta produções expansivas.
Não por acaso, 10% da terra fértil do planeta já se transformou em deserto. Por ano, são perdidos 7 milhões de hectares. Simplesmente, 60% dos principais serviços ecossistêmicos estão deteriorados.
Não por acaso ainda, nos últimos 50 anos houve uma perda de 35% dos manguezais, 40% das florestas, 50% das áreas alagadas. Atualmente, os estoques de peixes estão 80% menores e a área cultivada do planeta cobriu 25% da superfície da Terra.
Lamentavelmente, esses dados mostram que o posicionamento econômico encontra-se acima da questão ambiental. Urge reverter isso.
(*) Professor de economia. Mestre em Integração da América Latina (USP).
[email protected]
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter