Justiça francesa reconhece crime na queda do vôo 447 da Air France que matou 228 pessoas no Atlântico

Por ANTONIO CARLOS LACERDA

Correspondente Internacional

PARIS/FRANÇA (Pravda Ru) – O Tribunal de Grande Instância de Var, no sul da França, reconheceu “a existência de um crime” no desastre aéreo do vôo 447 da Air France, que mergulhou em águas internacionais do Oceano Atlântico depois de ter decolado do Rio de Janeiro, no Brasil, com destino a Paris, na França, em 31 de maio de 2009, matando todas as 228 pessoas que estavam a bordo, entre tripulantes e passageiros.

O acidente do vôo AF-447 da Air France é avaliado por especialistas em seguros de acidentes como um dos mais caros da história da aviação, podendo chegar a 700 Milhões de Euros.

Com decisão, que o Tribunal definiu como "homicídio involuntário", sem a intenção de matar, as famílias das vítimas do acidente com o Air Bus A330 no vôo 447 da Air France não precisarão mais esperar pelo fim das investigações para pedir indenização.

De acordo com a sentença provisória, os problemas ocorridos com os sensores de velocidade (pitot) da marca Thales AA em vôos anteriores ao AF-447 são suficientes para configurar um crime. Erros de aferimento da velocidade em aviões Air Bus, equipados com as sondas já haviam sido verificados mais de uma dezena de vezes antes do acidente, entre eles pela companhia Air Caraïbes.

Os técnicos da empresa haviam, então, alertado a Air Bus, fabricante da aeronave, que o entupimento dos sensores pelo gelo poderia resultar uma cadeia de falhas nos sistemas de navegação do avião.

"A coexistência de falhas anteriores e a falha constatada na noite do acidente, afetando as duas sondas pitot, são suficientes para indicar a existência de um crime caracterizando delito de homicídio involuntário", diz a sentença.

Ainda de acordo com a decisão judicial, não é preciso aguardar as investigações em curso no Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA) e no Ministério Público de Paris para reconhecer a implicação dos sensores de velocidade entre as causas do acidente.

"Não é nem necessário, nem mesmo oportuno, esperar o resultado das investigações penais em curso", disse o Tribunal de Var, que também decidiu que o Fundo de Garantia das Vítimas de Terrorismo e outras Infrações, mantido pelo governo da França, deve indenizar a família da aeromoça franco-argentina Clara Mar Amado em 20 mil euros, sendo 10 mil para o pai da vítima e outros 10 mil para um irmão.

A decisão de não aguardar pelos resultados da perícia é inédita na Justiça francesa e abre precedente para que outras famílias de vítimas peçam a indenização. O valor, contudo, ainda deve ser discutido, já que algumas famílias pedem centenas de milhares de Euros em reparação.

Mais do que atribuir um valor à família de uma das vítimas, a sentença põe em xeque o argumento das autoridades de aviação civil da França, que até aqui afirmavam que, sem a descoberta das caixas-pretas - perdidas no Oceano Atlântico junto com os destroços do avião -, jamais seria possível descobrir as causas do desastre.

Desde que a imprensa internacional - entre ela o PRAVDA Ru - revelou as mensagens automáticas enviadas pelo Air Bus A330 antes de sua queda, a hipótese de falha das sondas Pitot Thales AA é considerada por especialistas independentes da França como a mais provável para explicar o acidente.

Não se pode descartar, também, no acidente com o vôo 447 da Air France a negligencia, a falta de equipamento e falha no sistema operacional da aeronave, além do show off dos pilotos no cockpit. Além disso, poderia ter sido evitado passar pela tempestade que havia na região naquele momento.

ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do Pravda Ru no Brasil

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