O Senado brasileiro desceu às profundezas da indecência, do desrespeito à cidadania, aos eleitores e à Pátria, a que boa parte de seus imerecidos integrantes deveria servir, acima de seus interesses mesquinhos.
Que não se culpe e atirem pedras apenas no seu atual presidente, José Sarney, porque a situação atual é fruto da conivência de, no mínimo, oito gestões antecedentes.
E se José Sarney é hoje seu execrado presidente, é porque a maioria assim quis, votando nele, com o aval do presidente Lula. Afinal, dizem as manchetes deste primeiro de julho, 44% dos senadores - a minoria, portanto - defende a saída de José Sarney.
Veja o leitor a ironia: houvesse ganhado a eleição o senador Tião Viana (PT-AC), esta sujeira toda provavelmente não teria vindo à tona, e a vida seguiria em frente com um novo presidente que prometia moralizar a instituição enquanto sua filha viajava com um celular pertencente ao patrimônio público, cuja conta, de R$ 14,7 mil, estrondosamente alta para a maioria dos mortais que sustentam as benesses daquela casta, teria sido bancada pelo erário.
Foi a maioria do colegiado que absolveu o antecessor, Renan Calheiros, de uma miríade de malfeitorias comparável à do maranhense que lá representa o Amapá. O desmanche da ética, que vem em progressão de longa data, deve ser debitado à responsabilidade de todos os senadores, porque durante os 15 anos de Agaciel Maia na diretoria-geral da Casa, distribuindo favores e benesses, ninguém ali protestou (ao menos, com a devida veemência) contra tudo isso que está aí.
O mais eloquente crítico, Artur Virgílio Neto (PSDB-AM), admitiu ter contraído empréstimo com Agaciel; pouco importa se o pagou ou não. O ex-diretor do Senado afirmou que a instituição teria tido bancado um tratamento de saúde da mãe de Virgílio no valor de R$ 723 mil , quando o limite anual é de R$ 30 mil (ela é viúva de ex-senador, e a sociedade, pelo caixa do Senado, é obrigada a pagar por seu tratamento!!).
Virgílio também admitiu que o filho de um amigo recebe salário da Casa, apesar de morar na Espanha por coincidência, uma contraparente de Sarney, cuja demissão fora esquecida quando se mudou para aquele país, também foi aquinhoada com o pagamento indevido de salários.
Que outro crítico interno das mazelas da Casa se manifeste, pois os que até agora o fizeram não têm lá a moral necessária à empreitada. Será difícil surgir alguém, pois todos, seja por ação direta, omissão, conivência ou covardia, contribuíram para a demolição ética da Câmara Alta, que atinge também a Câmara dos Deputados.
Com um quinto dos seus integrantes na condição de senadores biônicos, suplentes que assumiram sem jamais terem recebido um voto sequer, como os da época da ditadura, mais outra parcela, substancial, contrária a quaisquer mudanças que lhes retirem a liberdade de movimentos em direções nem sempre recomendáveis, não há nada de bom a esperar do Congresso.
Luiz Leitão [email protected]
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