Campanha mobiliza população para mais segurança nas transfusões de sangue

Brasil: Apenas 5% das bolsas de sangue brasileiras passam por exame mais eficaz, utilizado em larga escala na Europa e EUA - No dia em que o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, completaria 73 anos, a Associação Brasileira de Bancos de Sangue (ABBS-RJ) lança campanha para adoção de testes mais seguros que comprovem a qualidade do sangue utilizado em transfusões. Vítima da Aids, Betinho contraiu a doença através de sangue contaminado em uma transfusão. Se fosse vivo, ele faria aniversário no dia 03 de novembro.

No dia em que o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, completaria 73 anos, a Associação Brasileira de Bancos de Sangue (ABBS-RJ) lança campanha para adoção de testes mais seguros que comprovem a qualidade do sangue utilizado em transfusões. Vítima da Aids, Betinho contraiu a doença através de sangue contaminado em uma transfusão. Se fosse vivo, ele faria aniversário no dia 03 de novembro.

Embora técnicos do Ministério da Saúde afirmem que o Brasil apresenta níveis mínimos de contaminação de sangue, o último estudo realizado no Hemocentro de São Paulo aponta que o risco de infecção pelo HIV ainda é alto no Estado (15 pacientes infectados por 1 milhão de transfusões realizadas) se comparado às estatísticas da Europa e dos EUA. “Apesar do rígido controle na qualidade do sangue utilizado em transfusões, a taxa de transmissão dos vírus da Aids e da hepatite C, embora não seja alarmante, ainda é relativamente alta no Brasil. Para se ter idéia, nos Estados Unidos o risco era de 2 casos por milhão”, afirma a médica do Hemocentro de São Paulo/Fundação Pró-Sangue e professora de Hematologia e Hemoterapia da Universidade de São Paulo (USP), Ester Sabino.

De acordo com informações do Ministério da Saúde, 620 mil pessoas vivem hoje no Brasil com HIV/AIDS e cerca de 3 milhões com o vírus da hepatite C.

Exame mais seguro

Atualmente, o teste mais utilizado no país para controle de qualidade do sangue doado é o ELISA (Ensaio de Imunoabsorção Ligado à Enzima), que detecta o HIV em aproximadamente 22 dias após a infecção e o HCV (vírus da hepatite C) em aproximadamente 70 dias. Entretanto, outro teste utilizado na Europa, Estados Unidos, Austrália e Japão tem se mostrado mais seguro e eficaz frente ao ELISA.

Segundo a chefe do setor de hemoterapia do HEMORIO, Esther Lopes, o NAT (Teste de Ácido Nucléico), como é chamado, reduz o tempo de detecção do HIV para cerca de 6 a 10 dias e do HCV para 20 dias. A diferença entre os dois testes é que o NAT investiga o material genético do vírus, enquanto o ELISA verifica a presença de anticorpos contra o vírus no organismo. A vantagem do NAT é que ele encurta a janela imunológica – período em que o vírus permanece indetectável em um indivíduo.

De acordo com Ester Sabino, para diminuir ainda mais o risco residual de transmissão de HIV por transfusão sangüínea, além da introdução do exame NAT, é preciso educar as pessoas a não procurarem os bancos de sangue para teste logo após comportamentos de risco.

Comprovadamente mais eficaz, o NAT, que utiliza tecnologia da biologia molecular, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em todos os hemocentros do país, mas ainda encontra barreiras para ser adotado no Sistema Único de Saúde (SUS) e ter cobertura das operadoras de saúde.

Segundo Cristina Pessôa, membro da Comissão Científica da ABBS-RJ, a portaria 262/02 garantiu a implantação do NAT no Brasil desde 1º de agosto de 2002, mas o Governo Federal adiou várias vezes a data da implantação do teste na rede pública de hemoterapia. Delegado regional ABBS-Centro Oeste, o médico Antônio César Teixeira, revela que, das 4 milhões de bolsas de sangue coletadas no país, menos de 200 mil são testadas pelo NAT. Para dar mais segurança às transfusões sangüíneas, o HEMORIO vem trabalhando para implantar o NAT no país. Segundo Esther Lopes, com o teste NAT vai haver ainda melhor controle de qualidade do sangue. “O NAT vai trazer mais segurança. Casos que você não pegaria com os exames tradicionais, o NAT certamente vai identificar”, explica.

Custo x Benefício

Embora mais eficaz do que o ELISA, a tecnologia do NAT aprovada pra uso no Brasil é importada, o que dificulta sua adoção na rede pública e também a cobertura pelas operadoras de saúde. Por isso, cientistas brasileiros já trabalham na criação de um kit molecular simples, automatizado e altamente sensível para a detecção simultânea do HIV e HCV.

A plataforma brasileira de testes NAT está sendo desenvolvida em conjunto com o Instituto em Imunobiológicos da FIOCRUZ (Biomanguinhos), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), com recursos do Ministério da Saúde através de convênio com o Fundo Nacional de Saúde (FNS) e com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

De acordo com Esther Lopes, a partir de 2009, o HEMORIO vai iniciar os testes com o NAT brasileiro. “Esse projeto está planejado para durar três meses. Depois de avaliado e ajustado, nós vamos passar a fazer regularmente o teste NAT”, explica. A médica ressalta ainda que a idéia é implantar o NAT em todo o Brasil.

Na Justiça

Segundo o art. 6 do Código de Defesa do Consumidor: “São direitos básicos do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.” Embora a legislação faça referência ao fato do consumidor ter direito ao que há de mais moderno em prol de sua saúde, o NAT não consta no rol de procedimentos cobertos pela maioria das operadoras de saúde, mesmo já estando disponível há alguns anos em vários serviços de hemoterapia privados do país.

Para reverter essa situação, o hemoterapeuta Antônio Teixeira, que já foi presidente da ABBS, revela que precisou contar com a ajuda do Ministério Público para que os planos de saúde cobrissem o NAT. “Em Goiânia, Ribeirão Preto e Brasília, já obtivemos sucesso nessa questão via decisão judicial ou por meio de acordo, como no caso de Brasília”, diz o atual representante da ABBS-Centro Oeste.

Fonte: SB Comunicação – Assessoria de Imprensa ABBS-RJ

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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