A bem-vinda mobilização estudantil em Brasília esquentando as comemorações dos quarenta anos do ano de 1968 (o ano que não terminou) ofuscou um pacote que o Correio Braziliense (CB) deste domingo publicou para tentar turbinar a moribunda CPI da tapioca. A morte da menina Isabela, transformado em show por nossa imprensa tupiniquim, também contribuiu para a pífia exposição do aloprado pacote. O cozidão, ao pior estilo Veja, incluiu desde certezas sobre coisas que os cânones jornalísticos aconselham tratar como suposição até elucubrações de analistas com analogias de práticas do governo atual com as que seriam adotadas pelo governo Putin ou por míticas autocracias passadas.
Como se a elaboração de dossiê nos últimos tempos fosse uma prática exclusiva da situação, a reportagem deliberadamente esquece que dossiês e mais dossiês têm sido os instrumentos de atentados da mídia e da oposição contra o governo desde a campanha de reeleição. A tese furada do CB é de que a coordenação política do governo preparou um dossiê com gastos do ex-presidente FHC e sua mulher, uma bomba atômica para intimidar o demo-tucanato. O jornal não leva em consideração e trata por ironias do governo o fato de que as informações que circulam, com dados tanto do atual como do governo anterior, até agora somente caíram nas mãos da oposição. Inclusive aquelas protegidas pelo sigilo.
Os autores do pacotaço do CB omitiram ainda o fato de que o presidente da OAB, a exemplo do Ministro da Justiça, declarou que não há nenhum crime em se elaborar um banco de dados ou dossiê. E que o crime é a manipulação e a divulgação de informações nele contidas. Esta interpretação, porém, é tratada com desdém pelos repórteres do CB como cantilena cara a Dilma Rousseff e Tarso Genro. Essa atitude atua como blindagem aos senadores Álvaro Dias e Artur Virgílio. O primeiro confessou ter passado à revista Veja o dossiê, que tanto pode ter sido elaborado na Casa Civil como no gabinete do outro senador tucano, detentor de arquivos de sua passagem pela mesma Casa Civil na era FHC.
A primeira notícia do dossiê foi uma referência à compra de um pênis de borracha pelo Palácio do Planalto dos tempos de FHC, para uma aula de educação sexual numa escola pública. A notícia foi divulgada pelo jornalista João Domingos do jornal O Estado de S.Paulo, em 19 de fevereiro, e não pelo governo. Foi também da oposição a notícia de gastos sigilosos da viagem do presidente Lula aos Estados Unidos. Como foram revelados pelo próprio CB do último sábado os gastos com massagem feitos pelo ministro da Reforma Agrário do governo tucano, Raul Jungmann. A divulgação desses gastos é o crime apontado pela OAB. Outro crime é ver o Correio Braziliense entregue à mesmice do não-jornalismo.
Brasília, 18 de abril de 2008
Sidnei Liberal
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