SÃO PAULO - Nunca as relações entre Brasil e Argentina estiveram tão bem como agora, ao menos na questão dos números. Afinal, ao que tudo indica, neste ano de 2017, a Argentina voltará a ocupar a liderança no ranking dos países que mais importam produtos manufaturados brasileiros, desbancando os EUA, que ocupavam o primeiro lugar desde 2014, quando desalojaram exatamente os argentinos. Pela primeira vez em três anos, no primeiro quadrimestre, a Argentina foi o país que mais importou produtos industrializados brasileiros com compras que chegaram a US$ 4,7 bilhões.
Milton Lourenço (*)
Mas não é só. O mais importante é que 91,7% de todas as exportações para a Argentina foram de bens industrializados, o maior percentual obtido pelo Brasil com qualquer outro de seus parceiros comerciais. Basta ver que em relação aos EUA os produtos manufaturados responderam por 55% dos embarques brasileiros totais no quadrimestre. Destaque-se ainda que, em 2016, a soma das exportações e importações entre os dois países atingiu US$ 22,5 bilhões, com superávit de US$ 4,3 bilhões para o Brasil.
Isso se dá num momento em que a Argentina ainda continua como um país fechado, com a pressão tributária mais elevada da região, inclusive superior à do Brasil, com um alto gasto público e um problema fiscal assustador, em que as empresas locais têm poucas possibilidades de exportar, o que impede que a relação comercial entre os dois países seja ainda mais intensa. A título de exemplo, é de se lembrar que as exportações argentinas representam apenas 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Foi provavelmente em função disso que o governo de Mauricio Macri, que não chega a ano e meio, assumiu uma agenda de maior internacionalização que o anterior, procurando aproximar-se da Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia), por meio do Mercosul, além de tentar destravar o projetado acordo Mercosul-União Europeia. Já o governo de Michel Temer encontra-se mais focado no plano doméstico com as reformas trabalhista e da Previdência e, agora, diante de uma crise política sem precedentes que pode afetar a recuperação econômica registrada nos últimos meses.
Nos dados elaborados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) relativos ao período de janeiro a abril, percebe-se que as exportações de automóveis para a Argentina somaram US$ 1,4 bilhão, com uma alta de 34,5% em comparação com idêntico período de 2016. Com esse aumento, as vendas totais de manufaturados para o país vizinho registraram uma expansão de 24,6% no período.
Além dos automóveis, os argentinos aumentaram as importações de veículos de carga, que somaram US$ 586 milhões (alta de 121,4% e participação de 11% nas exportações totais), partes e peças para automóveis no total de US$ 300 milhões (elevação de 6,0% e uma participação de 5,8% nas vendas totais para a Argentina) e demais produtos manufaturados, que geraram receita no montante de US$ 187 milhões, com alta de 10,7% e participação de 3,5% nas exportações brasileiras para aquele país.
É de se destacar ainda que as exportações de manufaturados para a Argentina registraram um aumento de 24,6%, percentual bem superior aos aumentos nas vendas de produtos de maior valor agregado para outros destinos importantes, como o México (aumento de 15,5%) e a Colômbia (alta de 16,2%). Embora a situação de Brasil e Argentina seja hoje muito distinta, a perspectiva que se abre é de que as relações comerciais entre os dois países têm ainda muito a crescer, em função da proximidade e dos baixos custos logísticos em comparação com outros mercados.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br
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