O País não pode parar
Milton Lourenço (*)
SÃO PAULO - Com a capacidade dos Estados completamente comprometida - com algumas exceções, como Goiás, que fez a lição de casa em 2014, promovendo os ajustes necessários para ficar com as contas em dia -, a saída para a atual crise brasileira passa pela atração de mais investimentos privados. Mas a atração desses investimentos só será possível num ambiente livre de incertezas porque, afinal, nenhum empresário investe numa situação em que não sabe se o amanhã será de caos.
Seja como for, neste começo de 2017, o horizonte para o País já não surge tão nebuloso como no início de 2016, quando se avizinhava a crise política que acabaria por defenestrar do poder a presidente eleita e seus ministros. Hoje, embora alguns Estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, não ofereçam condições de sustentabilidade fiscal nem estabilidade econômica, é de se admitir que o governo federal já apresenta alguns resultados positivos para quem costuma analisar bem a conjuntura econômica antes de fazer seus investimentos. Entre esses resultados, está a queda da inflação e dos juros, aspec to importante para a análise de qualquer investidor. Diante disso, alguns setores começam a acreditar em crescimento dentro de um ou dois anos. Já não é pouco.
Obviamente, se as taxas de juros praticadas atualmente no País descerem a níveis civilizados, a perspectiva de crescimento voltará, especialmente na área de comércio exterior, um dos pilares da economia. Para tanto, é necessário também que o governo federal encontre meios de fazer investimentos em infraestrutura, duplicando rodovias e ampliando a rede ferroviária, especialmente com a conclusão da Ferrovia Norte-Sul, sem deixar de aumentar a capacidade de atuação de portos e aeroportos.
Neste último caso, é preciso que o programa de concessão de portos, aeroportos, rodovias, armazenagem e de energia elétrica passe por uma revisão, deixando para a iniciativa privada o que o Estado já deixou claro que não tem condições de fazer. Sem contar que essa saída também livra o País da peste da corrupção que avançou celeremente, nos últimos anos, na maioria das empresas estatais.
Sem investir nesses setores, o País continuará a patinar por muitos anos, pois de pouco adiantará tentar ampliar as relações econômicas com outras nações e blocos, se os exportadores e importadores não puderem oferecer seus produtos a preços competitivos, o que inclui o segmento agrário, já que boas estradas são fundamentais para que a produção agropecuária seja escoada. Enfim, para se colocar o País nos trilhos, não se pode deixar também de procurar simplificar a abertura e fechamento de empresas e o pagamento de tributos.
Se boa parte dessas recomendações sair do papel em 2017, o Brasil voltará a crescer, especialmente se seus homens públicos seguirem o exemplo de países mais civilizados em que as denúncias de corrupção são apuradas e os culpados punidos, sem que para tanto as obras públicas envolvidas nos processos sejam paralisadas. Ou seja, o País não pode parar à espera dos resultados do trabalho da Justiça.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br
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