SÃO PAULO - O novo conjunto de eclusas do Canal do Panamá, que passou pelas primeiras provas de funcionamento ao final de junho de 2015, permitirá a passagem de navios com maiores dimensões, o que estimulará o comércio não só na região como em toda a América Latina. Até aqui o Canal do Panamá não permite a passagem de determinados supernavios, que têm de escolher outros trajetos, prejudicando sensivelmente não apenas os países da América Central e dos Estados Unidos como da América do Sul.
Mauro Lourenço Dias (*)
As obras do Canal do Panamá, que começaram em 2007 e exigiram um investimento de US$ 5,2 bilhões, quando concluídas, vão permitir a passagem de navios com 55 metros de largura e 18,3 metros de profundidade e capacidade para carregar até 12 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). Até aqui, as estruturas originais, com 33,5 metros de largura e 12,8 metros de profundidade, permitem a navegação de embarcações capazes de carregar até 4,4 mil TEUs.
As obras seriam inauguradas em agosto de 2014, ano do centenário do Canal, mas sofreram atrasos com greves e disputas por custos adicionais milionários. O teste definitivo está marcado para abril de 2016 com a passagem de um supercargueiro post-Panamax, depois de abertura das comportas da terceira via. Na atualidade, 6% do comércio mundial passam pela via interoceânica, mas prevê-se que, em menos de dois anos, essa movimentação seja duplicada.
Obviamente, o mercado norte-americano acabará por obter os maiores dividendos, como resultado dos investimentos feitos na obra. Hoje, boa parte das cargas que chegam à Costa Oeste dos Estados Unidos e seguem por trem e caminhão para o Leste deverá atravessar o novo conjunto de eclusas. Além disso, as exportações agrícolas norte-americanas para a Ásia poderão ser despachadas via Costa Leste e Golfo do México. Em função disso, Miami, Nova York, Baltimore e Norfolk estão em obras para receber supercargueiros post-Panamax a partir de 2016.
Para o Brasil, o novo Canal do Panamá deverá trazer também grandes resultados. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), os portos de Pecém-CE e Itaqui-MA, por sua localização estratégica, serão os pivôs de um novo triângulo de comércio internacional, tornando-se hub ports de cargas provenientes da Costa Oeste dos Estados Unidos e da Europa. Suape-PE e Vila do Conde-PA também deverão ser beneficiados. Seja como for, esses portos terão de receber investimentos para adequar sua infraestrutura aos novos tempos. Já para Santos e Paranaguá, os mais tradicionais do País, não se prevê nenhum reflexo econômico de vulto.
Com o novo Canal do Panamá, o terminal de contêineres de Mariel, em Cuba, com capacidade para receber cargueiros post-Panamax, poderá se tornar a principal opção logística na região, embora os portos de Kingston, na Jamaica, e Cartagena, na Colômbia, também sejam favorecidos pela proximidade. Como a construção do terminal de Mariel contou com o financiamento brasileiro, o que se espera é que o Brasil receba dividendos por essa participação.
(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: [email protected] Site:www.fiorde.com.br
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