Terminais para ro-ro

Milton Lourenço (*)

Na atual discussão em torno da necessidade de mais terminais privados e públicos para escapar de um previsível apagão logístico, há um detalhe que vem sendo esquecido: a importância de terminais que recebam navios da categoria roll on-roll off, os chamados ro-ro, ou seja, embarcações em que é possível carregar quase tudo que puder subir a bordo rodando através das rampas de popa (traseira) ou de meia nau (lateral e mais ou menos no "meio"), tendo rodas ou não, e respeitados os limites de peso e altura.

Em outras palavras: são navios que transportam cargas que não podem ser acondicionadas em contêineres, especialmente mercadorias de alto valor agregado, como máquinas, equipamentos, madeiras, automóveis e cargas de projeto, ou seja, fábricas inteiras, que, instaladas no País, renovam o parque industrial, aumentam a produtividade e geram empregos.

Por aqui, vê-se a importância de terminais que atendam ao ro-ro, que, ao contrário do que se pode pensar, tem prevista uma demanda significativa para os próximos anos, a exemplo do que ocorre nos portos europeus, onde esse tipo de movimentação se dá em larga escala. Afinal, apesar da revolução que o contêiner representou na logística mundial, nem tudo pode ser colocado dentro de um cofre de carga.

Segundo dados da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), os embarques e desembarques de cargas ro-ro no Porto de Santos movimentaram em 2007 cerca de 265 mil toneladas. Para 2008, a empresa estatal prevê um crescimento de 65% nessa movimentação, estimando um total de 440 mil toneladas, já descontada uma presumível queda de 8% nas exportações de veículos.

A esses números deve ser acrescida também a movimentação de 18 mil contêineres que chegam ou partem em navios ro-ro. Para quem desconhece o setor, é preciso que se diga que os navios ro-ro também carregam contêineres que levam partes complementares às cargas de projeto.

De acordo com números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), nos últimos cinco anos, as cargas não-conteinerizadas foram responsáveis por 23,5% das exportações e por 23,2% das importações. Portanto, é inegável a importância desse tipo de navio, o que torna incompreensível a excessiva preocupação da Codesp e demais companhias docas do País com projetos de terminais que movimentam apenas contêineres, relegando sempre a segundo plano a criação de terminais para ro-ro.

No Porto de Santos, por exemplo, só há dois berços para a atracação de navios ro-ro: o Terminal de Exportação de Veículos (TEV), na margem esquerda, no Guarujá, administrado pela operadora portuária Santos-Brasil; e o terminal da Deicmar, na margem direita, em Santos.

Tradicionalmente, as operações dessa empresa são feitas no ponto 1 do Cais do Saboó, um terminal público, que, espremido entre dois terminais de contêineres, enfrenta problemas para receber navios de maior porte. E que, por opção da Codesp, dá prioridade à atracação de navios que transportam suco a granel. Sem contar que a questão logística no local está extremamente complicada, em função da concentração de cargas em contêineres e não-conteinerizadas numa só área.

Assim, é fundamental que a Secretaria Especial dos Portos (SEP) passe a exigir dos administradores portuários do País -- especialmente dos novos diretores da Codesp -- maior preocupação com a criação de espaços para os navios ro-ro, sob o risco de o Brasil alcançar em dois ou três anos o limite de sua capacidade de atendimento a esse segmento.

Se, ainda assim, esse argumento catastrófico não for suficiente para despertar as companhias docas, basta lembrar que os navios ro-ro, por seu desenho, podem atracar sem maiores problemas em portos com pouca profundidade de calado.

Portanto, no caso de Santos, torna-se imprescindível que no projeto Barbabé-Bagres haja um terminal especializado nesse tipo de carga. E que o terminal no Saboó também fique exclusivo para ro-ro. Caso contrário, o caos logístico pode chegar logo no começo da próxima década.

(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP. E-mail:

[email protected]

Site: www.fiorde.com.br

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