Em ritmo pouco intenso

Milton Lourenço (*)

De acordo com previsões do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil deverá exportar durante o ano cerca de US$ 190 bilhões. No princípio de 2008, as vendas eram estimadas em torno de US$ 170 bilhões, contra US$ 158 bilhões registrados em 2007.

Dados divulgados pelo MDIC sobre o primeiro semestre mostram que as exportações acumulavam US$ 98,127 bilhões neste ano, com média diária de US$ 743,4 milhões, 25,2% a mais do que a registrada no mesmo período do ano passado (US$ 593,6 milhões). As importações totalizavam US$ 85,247 bilhões, com média de US$ 645,8 milhões, 51,2% a mais do que a média diária no mesmo período de 2007 (US$ 427,3 milhões).

Se as exportações crescem, não haveria problemas para preocupação. Certo? Nem tanto. A questão é que as importações vêm crescendo de maneira vertiginosa e, embora o governo anuncie que não há razões para inquietação, percebe-se que o saldo comercial começa a se deteriorar de maneira muito rápida e que, se nada for feito, em breve, estaremos a discutir o tamanho do déficit.

É claro que não é de hoje que as importações sobem. E, quando crescem, indicam uma redução na produção doméstica e vice-versa em relação aos bens de consumo. Para bens intermediários, dá-se exatamente o oposto. Nesse caso, as importações acompanham o ritmo da economia, pois estão diretamente relacionadas com a complementaridade da produção doméstica. Já as importações de bens de capital seguem a taxa de investimento.

Como se sabe, o Brasil sempre foi grande importador de bens intermediários e, em alguns momentos, de bens de capital (máquinas e equipamentos), que sempre fortaleceram a produção interna. A partir da abertura da economia no começo da década passada, as importações passaram a ser parcialmente substitutas da produção local. E, nesse sentido, como parte de uma economia integrada aos mercados globais, a evolução das importações deve estar atrelada ao desempenho das exportações.

Portanto, se o governo prefere nada fazer para deter o crescimento acelerado das importações, interpretando o fato como resultado da compra de máquinas e equipamentos destinados a fortalecer o sistema de produção -- embora não seja apenas isso --, essa é uma posição defensável. O que é inaceitável é não procurar solução para a valorização do câmbio, que vem impedindo que as exportações subam no mesmo ritmo que as importações.

É claro que essa solução deve ser procurada dentro do atual sistema de câmbio flutuante e do regime de metas de inflação, que, de fato, têm sido bem sucedidos até aqui. Mas faz-se necessário um conjunto mais amplo de medidas em favor de maior abertura comercial, com mais acordos internacionais, cortes nos gastos correntes e nos juros e tributos menos pesados e irracionais, cobrados tanto pela União como pelos Estados.

Hoje, não há dúvida de que as indústrias nacionais encontram muitos obstáculos no acesso aos grandes mercados mundiais, especialmente Estados Unidos e União Européia, já que seus concorrentes desfrutam de preferências no comércio com as economias das nações mais desenvolvidas. Claro que culpa não cabe exclusivamente aos chamados donos do mundo, como se procurou insinuar a partir das dificuldades encontradas nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Até porque o governo brasileiro negligenciou, em vários momentos, a assinatura de acordos comerciais com essas nações mais desenvolvidas. Sem esses acordos, várias empresas brasileiras optaram por se estabelecer também naqueles mercados, criando empregos no exterior, o que, do ponto de vista do País, não é nada saudável.

Portanto, tornam-se necessárias várias medidas de grande alcance para estimular as exportações, especialmente de produtos de maior valor agregado. Até porque, a despeito dos números favoráveis, segundo dados da OMC, as exportações mundiais vêm crescendo nos três últimos anos duas vezes mais rápido que o desempenho brasileiro.

Em outras palavras: não é que o País esteja andando para trás. Pelo contrário, segue em frente, mas a um ritmo pouco intenso, o que o vem deixando para trás em relação ao resto do mundo desenvolvido. Basta ver que, enquanto o mundo exporta produtos manufaturados, o Brasil vende commodities. Ou seja, por enquanto, ainda estamos na contramão da História.

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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP. E-mail:

[email protected]

Site: www.fiorde.com.br

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