Portugal perde EURO e Primeiro-Ministro

Três semanas de alegria aliviaram temporariamente as mágoas dos portugueses, que afogaram suas preocupações em centenas de milhares de litros de cerveja e um banho colectivo de euforia enquanto seu seleccionador nacional brasileiro levou a equipa à final do EURO 2004. Perdeu.

E agora?

Agora, que as pessoas acordam da bebedeira de três semanas de futebol, se lembram da ressaca que é o estado lastimável da economia do país, tão lastimável que o Primeiro-Ministro, José Manuel Durão Barroso, até fugiu para Bruxelas e tanto foi a sua pressa que se esqueceu de avisar seus ministros, que só souberam que ele tinha sido nomeado o novo Presidente da Comissão da União Europeia quando ligaram o televisor.

José Durão Barroso entendeu (bem) que o resultado nas eleições para o Parlamento Europeu representou um cartão vermelho para ele como Primeiro-ministro e à política desumana do deu governo, que conseguiu duplicar a taxa de desemprego em dois anos, deixando que em alguns casos levava até sete meses para o recém-desempregado receber seu subsídio. Inaceitável.

As políticas de contenção do défice público da Ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, pouco ou nada tinham a ver com as necessidades económicas e sociais do país, se bem que as suas contas batiam certo num estudo de laboratório. Ela, o Primeiro-ministro e o governo em geral, falharam rotundamente em comunicar com o povo que os elegeu, não conseguindo criar um clima de optimismo, nem conseguindo transmitir um sentimento de segurança aos portugueses.

As cifras falam por si: em 2003, a taxa de desemprego subiu 26,5%, registando uma taxa anual de 6,4%, traduzido em 344.500 pessoas. A desigualdade entre ricos e pobres é a mais marcada na União Europeia, o PIB recuou 0,7%, tal como o consumo privado e o consumo público caiu por 1,3%. O investimento diminuiu e a balança corrente registava no final do ano 5,3% negativos.

Por isso, veio o futebol servir de salvador, enquanto Durão Barroso trabalhava freneticamente à procura da sua saída. Veio a sua oportunidade quando os pesos pesados na União Europeia chegaram a um impasse sobre quem deveria substituir Romano Prodi e procuraram uma figura suficiente cinzenta para satisfazer gregos e troianos. E Bush, que conseguiu colocar seu homem no coração do Velho Continente.

Além de deixar por trás um rasto de catástrofe económica, Durão Barroso também deixa a situação política em crise. O eterno pretendente a líder do Partido Social Democrata, Pedro Santana Lopes (agora presidente da Câmara de Lisboa), conseguiu finalmente ser nomeado presidente do Partido pelo Conselho Nacional, substituindo José Barroso na liderança.

Conta com o apoio do Conselho Nacional do PSD, com os 19 Presidentes Distritais, o Presidente da Mesa do Congresso Nacional e 4 Vice-Presidentes do Partido, além de nomes sonantes na vida política e empresarial. Resta a convicção que numa Reunião Magna do Partido, conseguiria ser aceite pelas bases.

No entanto, Santana Lopes tem muitos anticorpos políticos dentro do seu partido, por ser considerado instável, emotivo e impulsivo demais para ser um bom primeiro-ministro. Entre estes, figura Manuela Ferreira Leite, que descreveu a sua ascensão à Presidência do Partido como “um golpe de Estado dentro do PSD” e outros notáveis na vida pública que querem convencer o Presidente Jorge Sampaio a convocar eleições antecipadas para travar as ambições de Santana Lopes.

Para a coligação PSD/PP (Partido Popular, Conservador), uma eleição agora quase de certeza seria uma derrota, levando a uma mudança de governo, com o Partido Socialista a ganhar, talvez com maioria absoluta, senão possivelmente com um acordo com o Bloco de Esquerda (que ganhou 10% das intenções de voto numa sondagem recente) e/ou o Partido Comunista (5%) mas sem vínculo formal.

Por isso, nem interessa ao PSD nem ao PP que Presidente Sampaio convoque eleições agora, nem interessa ao Santana Lopes deixar que seu partido nomeie alternativa a ele para o cargo de Primeiro-ministro, porque tal seria uma admissão que seu nível de competência acaba nos municípios. Porém, curiosamente, Pedro Santana Lopes, cujas facilidades em comunicação e capacidades como orador são seus pontos fortes, talvez seja a única pessoa na coligação capaz de lhe restituir alguma popularidade e com alguma hipótese de vencer uma eleição.

Como bom adepto de futebol, Jorge Sampaio vai esperar até ao final do EURO 2004 para anunciar a sua escolha, entre Santana Lopes e eleições. Na próxima edição da Pravda, veremos como escolheu.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X