Bertold Brecht disse que o pior analfabeto é o analfabeto político porque ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem de decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Existe um espécime ainda pior do que o alienado político, definido tão magistralmente por Brecht: são aqueles sujeitos que defendem os interesses contrários a classe a qual pertencem.
Eles são motoristas de taxi, vendedores de seguros, caixeiros de lojas, advogados, publicitários, garçons, autônomos, biscateiros, militares e aposentados.
Estão em dezenas de profissões e não poucos deles exigem serem chamados de doutores.
No passado formavam uma maioria de homens, mas hoje não existe mais uma distinção de gênero na categoria.
Nunca foram operários que acordam cedo e dão duro no trabalho durante o dia inteiro, lutando por um salário mínimo, mas também não chegaram a conhecer a boa vida de alguns profissionais liberais e muito menos conviveram com grandes empresários e políticos importantes.
Eles fazem parte da grande família da classe média que Marilene Chauí, uma vez definiu como os grandes representantes do reacionário brasileiro.
Hoje, eles são contra o PT, mas no passado eram assombrados com o perigo comunista.
Eles falam alto no restaurante a quilo que frequentam, na lotação e nas filas dos supermercados.
Deles, você jamais ouvirá um pensamento original. Repetem apenas o que ouviram à noite passada no Jornal Nacional ou leram na Zero Hora.
Quando você ousa defender uma posição de esquerda diante deles, gritam em uníssono: "vá para Cuba", ou na versão mais atual, "vá para a Venezuela".
São viciados nos jogos dos celulares e o último livro de que são capazes de citar o nome, embora possivelmente também não tenham lido, é da Martha Medeiros e só lembram dessa autora, independentemente do seu talento, porque também escreve na Zero Hora.
Preferem ver os filmes na televisão, "porque as ruas estão muito perigosas hoje em dia", mas quando vão ao cinema do shopping, é para ver algum filme bem digestivo, tipo La La Land, porque de "complicada, basta à vida".
Nunca pergunte a eles se conhecem a obra dos irmãos Joel e Ethan Coen, porque eles vão imaginar que é uma dupla sertaneja.
Nas eleições, votam sempre naqueles candidatos que conheceram da televisão ou do rádio, independente de que partido sejam, ou naquele jogador de futebol que foi ídolo do seu time
São moralistas e a favor do combate à corrupção, mas só a praticada - verdadeira ou não - pelos petistas. Nunca ouviram falar em sonegação de impostos feita pelos empresários, mas se soubessem, aprovariam porque acham que não pagar o que se deve ao governo é uma ação correta
Se dizem patriotas, vestem verde e amarelo e vão para as praças bater panela, quando, pelo menos uma vez na vida, são tratados como iguais pelos grandes "coxinhas" e suas mulheres dondocas, mas logo que a manifestação termina voltam de ônibus para a casa, enquanto aquele "amigo" e sua bela mulher, que descobriram na praça, voltam no carrão estacionado logo ali.
Como poderíamos chamar esses caras, que adoram ser chamados de povo, mas que vegetam num limbo, entre o povo de verdade e a elite exploradora?
No Manifesto Comunista, Marx diz que eles nunca serão revolucionários, mas conservadores "mais ainda, reacionários, pois pretendem fazer girar para trás a roda da história"
Embora, muitas vezes sejam chamados de "lumpem", a denominação não se encaixa na definição clássica de Marx, que lançou o termo no seu livro "A Ideologia Alemã', dizendo que eles eram plebeus, colocados entre os homens livres e os escravos e que nunca conseguiram ultrapassar a condição de "lumpenproleiariat",
Mais adiante, no "18 Brumário de Luis Bonaparte", Marx diz quais são os componentes dessa categoria anti-revolucionária: libertinos arruinados, descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, desertores, ex-presidiários, escroques, saltimbancos, delinquentes, ladrões, alcagüetes, donos de bordeis, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, caldeireiros, afiadores e mendigos.
Nossos personagens não se enquadram nessas categorias passadas e mesmo levando em conta que muitas das profissões citadas por Marx não mais existem, o que os define hoje como uma classe social é sua condição de alienados políticos.
Depois de muito procurar na língua portuguesa o termo mais adequado que respeitasse normas de boa educação que devem reger as relações entre quem escreve e quem lê, chega-se à conclusão que só no linguajar chulo se poderá encontrar a palavra adequado para definir estas pessoas.
São uns fodidos, com o perdão do termo.
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