Adelto Gonçalves (*)
ILHA DE RHODES Quem pretende conhecer o genuíno estilo grego de vida não deve procurá-lo em Atenas, a movimentada, desfigurada, poluída e histórica capital da Grécia, mas numa das muitas ilhas que compõem este país e que estão espalhadas nos mares Egeu e Jônico. São seis mil ilhas e ilhotas, das quais somente 227 são habitadas. Se começar pela ilha de Rhodes, fará muito bem: a 45 minutos de Atenas, por um dos vários vôos que saem diariamente do Aeroporto Eleftherios Venizelos, a ilha é um paraíso, de onde se avista as montanhas da Turquia, país euro-asiático.
Os preços normais para vôos entre Atenas e Rhodes são de 125 euros por pessoa (só a ida), mas, nos últimos meses, as empresas Aegean Airlines e Olimpic Airways, que tradicionalmente fazem esse percurso, passaram a enfrentar a concorrência da Athensairways, que recentemente comprou aeronaves da Embraer. Por isso, surgiram promoções e tem sido possível fazer essa viagem de 600 quilômetros sobre o Mar Egeu por 32 euros por pessoa (só a ida). Essas promoções, porém, valem por tempo determinado e é preciso ficar de olho nos sites das empresas para aproveitá-las.
Pode-se optar também por seguir de Atenas para Rhodes por mar, numa luxuosa embarcação da Blue Star. A viagem dura aproximadamente 15 horas, saindo de Atenas sempre à tarde, para chegar a Rhodes na manhã do outro dia, por volta das 8 horas, nas proximidades do porto Mandraki, onde estão duas gigantescas colunas com os cervos (Elafos e Elafina), que são o símbolo da ilha, local em que na Antiguidade existia o chamado Colosso de Rhodes, uma estátua ciclópica de um deus grego, que foi considerada uma das sete maravilhas do mundo.
Para quem não tem pressa, vale a pena a opção marítima porque a embarcação para em muitas ilhas, inclusive na de Patmos, por onde passou o apóstolo Paulo, de quem, aliás, recomenda-se que se conheça bem a vida e suas epístolas que estão na Bíblia antes de se aventurar por estas paragens. O preço da passagem é de 50 euros por pessoa, o que não inclui direito a cama e cabine.
A viagem terá de ser feita em cadeiras simples em salão luxuoso, em ótimo ambiente, diga-se de passagem. O passageiro terá de passar a noite em claro ou, se quiser, pode cochilar numa cadeira pouco confortável. Quer dizer: na maioria das vezes, enquanto alguns passageiros ficam no bar, a maioria segue sentada até as 11 horas da noite, mas, depois, muitos passam a dormir nos sofás que existem a bordo.
Ao chegar à ilha de Rhodes, o visitante não deve se assustar com o jeito grego de dirigir automóvel: tal como em Atenas, para o grego dirigir significa buzinar sempre e em toda esquina. Os motoristas que ficam no pequeno aeroporto à espera de turistas falam inglês e conhecem todos os hotéis da ilha que são muitos porque, à época da alta temporada, milhares de turistas tomam Rhodes de assalto.
Por isso, não age mal quem gosta de sossego e opta por conhecer a ilha na época do inverno. Como está próxima da Ásia, do Oriente Médio e do Norte da África, a ilha não costuma ter inverno rigoroso: os dias costumam ser ensolarados, apesar do frio de 10 graus. À noite, a temperatura costuma cair para cinco graus, mas nada que roupas mais pesadas não ajudem a suportar. Até porque há dias em que cai uma chuva enviesada, que vem de todos os lados, em função dos ventos que agitam o Mar Egeu.
Quem desembarca no porto Mandraki, nas proximidades do Palácio do Grande Mestre (Palace of Grand Master), castelo medieval que, aliás, foi reconstruído durante a ocupação italiana na década de 1930, se estiver com pouca bagagem, nem precisa tomar táxi porque a maioria dos bons hotéis fica no centro da cidade em ruas pequenas e bem estreitas: o Western Plaza Rhodes, de quatro estrelas, apesar de ser privado de boas vistas, oferece estadia de primeira por uma diária de 55 euros (quarto de casal, com café da manhã farto) à época do inverno.
Nas proximidades, ficam o Mediterranean, de quatro estrelas-plus, e o Ibiscus, ao lado do famoso Cassino de Rhodes e a poucos passos do Aquário, construído pelos italianos em 1924. Um pouco longe do centro, está o hotel Manousos, onde a diária pode sair por 45 euros, sem qualquer vista mais suntuosa e com instalações mais modestas. Obviamente, os preços no verão costumam triplicar.
No porto Mandraki, atracam muitos iates de milionários europeus. Em frente ao Mandraki, está o Novo Mercado (Nea Agora), com uma cúpula mais islâmica do que grega, que reúne uma série de pequenos estabelecimentos comerciais ao ar livre: cafés, restaurantes, mercearias e lojas que vendem o suvlaki, o famoso churrasquinho grego, que acaba impregnando o ar com o cheiro de carne de carneiro assada. Quem é adepto de fast food encontra McDonald´s e Pizza Hut no centrinho de Rhodes. Mas o melhor mesmo é parar numa cafeteria para tomar um café com leite ou o café gelado grego e comer uma bougazza ou um dos muitos doces gregos.
HISTÓRIA
Conhecida também como a ilha do sol, Rhodes é um centro turístico que atrai milhares de visitantes durante todo o ano. Tem 77 quilômetros de comprimento por 37 quilômetros de largura. Está situada entre a Grécia (continente) e a ilha de Chipre e a 18 quilômetros a Oeste da Turquia. A população é de 130 mil habitantes, dos quais 80 mil vivem na cidade de Rhodes e, sobretudo, do turismo. Há uma pequena comunidade de brasileiros que vive do trabalho em hotéis, lojas comerciais ou na construção civil.
A presença do homem na ilha data de pelo menos seis mil anos. Diferentes civilizações habitaram a ilha, desde os telchines, os achaeans, os cretans e os dorians. Setecentos anos antes de Cristo, gregos de Rhodes já saíam de barco em busca de novos mundos, criando colônias na Espanha, Egito, Itália e Ásia Menor.
Depois da vitória dos rodesianos sobre o rei Dimitrios, foi erguida a estátua do Colosso de Rhodes, esculpida por Haris em 293 a.C., em homenagem ao Deus do Sol, Helios. Foi feita de metal, tinha a altura de 32 metros e estava situada no porto Mandraki. Infelizmente, a estátua foi destruída poucos anos mais tarde, em 227 a.C., por um terremoto.
Do terceiro século d.C. até 1309, a ilha fez parte do Império Bizantino. Em agosto de 1309, os seguidores da Ordem de São João chegaram a Rhodes e a dominaram por dois séculos. Durante esse período, foi construída a magnífica cidade murada, hoje transformada em shopping center, uma das grandes atrações turísticas da ilha, em razão de suas joalherias, butiques, cafeterias, bares e restaurantes que vendem especialmente frutos do mar. Ao fundo, está o Palácio do Grande Mestre com seu jardim e, ao lado, o Forte de São Nicolau, em meio a ruas e ruelas pavimentadas repletas de edifícios do século XV, decorados com arcos.
Em 1522, os turcos invadiram Rhodes e outras 11 ilhas próximas e ali permaneceram até 1922, quando, então, foram expulsos pelos italianos, que reconstruíram uma grande parte da cidade murada. De 1943 a 1945, os italianos passaram as 12 ilhas para os alemães até que os ingleses as devolveram à Grécia em 1947.
É claro que se tivesse algum reconhecimento internacional a teoria geopolítica do presidente Lula, que defende as ilhas Malvinas para os argentinos, Rhodes deveria ser uma ilha turca. Mas, sob domínio grego, está bem cuidada, abrigando 42 pequenos povoados em toda a sua extensão, áreas arqueológicas e especialmente as cidades antigas de Lindos, Kamiros e Ialyssos, além de praias de areias claras e uma vida noturna agitada perto do porto Mandraki.
Aliás, não se pode perder uma visita a Lindos, a cerca de 40 minutos de carro do centro. Ali se pode ver, lá embaixo, em meio ao tradicional casario branco com varandas de ferro, uma igrejinha ortodoxa em homenagem ao apóstolo Paulo, que por ali passou quando estava a caminho de Jerusalém, depois de ter visitado Coos, seguindo para Pátara, Fenícia, ilha de Chipre, Tiro e Cesaréia (Atos dos Apóstolos, 21). Pode-se percorrer um corredor composto por duas filas de colunas até à Acrópole, construída à época helênica, à entrada da povoação, voltada para o Mediterrâneo. Na época do verão, a vilazinha é muito agitada e há lojas para todos os gostos, além de uma visão magnífica do mar.
Por falar em tempos antigos, de volta à região central de Rhodes, pode-se visitar a primeira acrópole da ilha, construída no ano de 408 a.C., no alto do Monte Smith. É dominada pelo grande Templo de Apolo. Abaixo da acrópole, há um estádio construído no século III a.C. para corridas de bigas e que, hoje, é aproveitado por atletas amadores e profissionais para seus treinamentos. Ao lado, há um pequeno teatro, ou as suas ruínas.
Ao visitar o teatro, não deixe de se posicionar em frente à arquibancada de pedras, colocando os pés exatamente entre um ponto onde há um ferro cravado no solo. Ali é o lugar exato em que a fala humana alcança uma acústica natural, o que permitia que a voz dos atores fosse ouvida por uma multidão, sem o uso de microfones ou amplificadores que, obviamente, não existiam na época. Isso também explica por que Jesus Cristo foi ouvido por multidões, como no Monte das Beatitudes, na Galiléia. Aliás, às vésperas da Olimpíada de 2004, engenheiros e operários atenienses, ao tentar reconstruir um teatro da época helênica, acabaram por destruir a acústica natural do local, o que os gregos lamentam até hoje.
E por que o nome de Monte Smith a um local tão antigo? É em razão de uma homenagem ao almirante britânico Sidney Smith (1764-1840), que usou o monte como posto de observação para acompanhar a passagem de navios franceses em direção ao Norte da África, à época da guerra contra Napoleão. Mas o nome original é Monte Agios Stefanos.
Em frente à ilha de Rhodes, do outro lado, lá no Sudoeste da Turquia, está a cidade portuária de Marmaris, que até a década de 1980 não passava de uma aldeia de pescadores. Hoje, é uma cidade com 28.600 habitantes, mas que chega a abrigar 300 mil pessoas durante a alta temporada. Em Rhodes, há serviços regulares de ferry boat para a Marmaris. Grandes navios de cruzeiro também costumam parar em Marmaris.
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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: [email protected]
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