O crítico brasileiro Adelto Gonçalves é um dos articulistas da Books, nova revista literária francesa, que começou a circular nos primeiros dias de 2009. Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, o professor assina uma resenha do mais recente romance do escritor angolano Ondjaki, Avódezanove e o segredo do soviético, publicado em 2008 pela Editorial Caminho, de Lisboa, e pela Editorial Nzila, de Luanda.
Para o especialista brasileiro em literaturas de expressão portuguesa, Ondjaki, de 31 anos, representa uma geração que não conheceu o colonialismo, inventou uma escritura nova, abandonou a literatura nacionalista e socialista de seus pais, deixando de lado os sofismas revolucionários e o ódio anticolonialista. Ondjaki é livre para contar com ternura, humor e sensibilidade a vida nas favelas, os jogos de futebol nos terrenos baldios, as festas e feiras populares e a vida dos pés-descalços que faziam parte de sua infância e adolescência, como fazem ainda hoje, diz.
Em AvóDezanove e o segredo do soviético, seu terceiro romance, segundo Gonçalves, Ondjaki, seguindo os caminhos abertos por Luandino Vieira, Antônio Cardoso, Manuel Rui, Antônio Santos e outros, que já haviam rompido com a influência do padrão literário de Portugal, pôde dar vazão outra vez a todas as angolanidades que sua memória retém dos anos 80, marcada principalmente pela presença de soldados, professores e técnicos soviéticos e cubanos deslocados para Angola dentro do contexto da Guerra Fria.
Para o crítico, Ondjaki também não deixa de seguir uma tradição na língua portuguesa que vem de poetas setecentistas como Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805), que sempre que podia criava um neologismo ou inventava um verbo a partir de um substantivo, passando por romancistas brasileiros como Guimarães Rosa (1908-1967), que recriou o linguajar falado nos sertões de Minas Gerais e Goiás, chegando ao exemplo atual do moçambicano Mia Couto (1955).
A recensão de Gonçalves publicada na revista Books também foi destacada pelo crítico Félix Romeo na resenha Segunda pequeña vuelta al mundo, publicada no suplemento Cultura do jornal ABC, de Madrid, de 4 de janeiro de 2009. Félix Romeo traduziu E Se Amanhã O Medo (Si mañana el miedo), primeiro romance de Ondjaki publicado na Espanha pela Xordica Editorial, de Zaragoza, em 2007.
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