Os missionários cristãos não fazem segredo do fato de usarem serviços médicos, educação e oportunidades de emprego para atrair populações nativas empobrecidas em todo o mundo para efeito de conversão ao cristianismo. De acordo com a história popular e erudita do cristianismo, a igreja cristã primitiva exerceu seu maior encanto e atraiu seu maior número de conversos entre os pobres do Império Romano.
As primeiras igrejas cristãs levantavam dinheiro por meio do dízimo, ou imposto de renda de dez por cento, imposto a seus membros, e diz-se que a igreja cristã primitiva tinha forte 'senso de comunidade', o que implica em dispor de uma rede social, financeira e política bem organizada entre seus membros.
Usar a própria riqueza para comprar a lealdade de outras pessoas é um expediente tão antigo quanto a própria humanidade. Homens ricos usam sua riqueza para atrair mulheres, empregadores inescrupulosos usam incentivos e desincentivos materiais para manipular seus trabalhadores, e países ricos como os Estados Unidos usam sua riqueza nacional para manter seus cidadãos leais à causa do imperialismo agressivo e genocida. Contudo, a longevidade histórica e o caráter comum da prática não tornam essa manipulação ou exploração moralmente ou eticamente correta.
As religiões organizadas são inerentemente organizações POLÍTICAS. Há uma diferença fundamental entre a empresa financeira e as maquinações políticas de uma religião organizada em contraste com uma abundância de crentes, filósofos e místicos independentes, não-filiados, que não apóiam qualquer religião organizada.
O cristianismo e o islã são conhecidos como religiões proselitistas porque fazem um esforço organizado e sistemático para ganhar conversos, e amiúde oferecem serviços, produtos ou emprego para atraírem conversos. O judaísmo, o hinduísmo e o budismo mostram zelo muito menor no tocante a ganhar conversos, razão pela qual quase não se ouve falar de missionários judeus, hinduístas ou budistas.
As modernas escolas de medicina e enfermagem geralmente ensinam a seus alunos o princípio moral de que a prestação de serviços médicos nunca deve ser usada para fazer proselitismo ou promoção de uma religião, mas isso não dissuade muitos prestadores de serviços de saúde cristãos de fazerem exatamente isso. A maioria das organizações médicas e de caridade sediadas em países cristãos são frontarias para atividades de proselitismo cristão.
Uma das maiores organizações internacionais de assistência médica sediadas nos Estados Unidos, a Equipes Médicas do Noroeste - Northwest Medical Teams, enuncia, em sua brochura de recrutamento, que sua principal 'missão' é 'disseminar o Evangelho de Jesus Cristo', que seus serviços de assistência médica estão subordinados a sua meta explícita de proselitismo cristão, e que seu trabalho de assistência médica é meramente uma 'égide', ou fachada, para a disseminação do cristianismo. O imperialismo religioso e cultural praticado pelos missionários quase sempre vai de par com imperialismo político e econômico.
Os missionários cristãos frequentemente trabalham em parceria com a CIA, com o governo dos Estados Unidos, e com ricas corporações para subverter a religião, a cultura, a economia e a política de populações nativas vulneráveis. A CIA muitas vezes usa aviões de propriedade de organizações missionárias cristãs, pilotados por missionários cristãos para contrabandear drogas, armas, e prisioneiros.
Durante a tramóia ilegal Irã/Contras da CIA nos anos 1980, pilotos e aviões missionários cristãos contrabandearam drogas para dentro dos Estados Unidos e armas para dentro da América Central e Irã. Agora a CIA está usando aviões missionários cristãos para contrabandear heroína do Afeganistão, cocaína da América Latina, e para vôos de 'cessão' de prisioneiros 'terroristas' para prisões secretas onde praticada tortura e cometidas execuções extrajudiciais.
A lei dos Estados Unidos de Iniciativa Baseada na Fé - Faith Based Initiative proporciona às organizações missionárias cristãs fundos oriundos do contribuinte, os quais são usados para proselitismo cristão voltado para populações nativas em todo o mundo. Missionários cristãos são a frente avançada de uma agressão religiosa, cultural, econômica e política apoiada pelo governo dos Estados Unidos.
Quando missionários levam riqueza externa a um país empobrecido do Terceiro Mundo e usam essa riqueza para proporcionar serviços voltados para a atração de conversos, interferem com a estrutura social e econômica local, bem como com as tradições culturais locais. Os povos nativos que tiram proveito dos privilégios oferecidos pelos missionários e se convertem ao cristianismo envolvem-se numa organização social que usa riqueza externa como ferramenta para eliminar a cultura nativa e substituí-la pelo cristianismo.
Vive, na Ilha Sentinela Norte - North Sentinel Island, no arquipélago de Andamão, uma pequena e reclusa população de poucas centenas de pessoas com cultura primitiva da Idade da Pedra, administrada pelo governo da Índia. Para proteger a cultura dos habitantes da Ilha Sentinela Norte, o governo indiano sabiamente proibiu qualquer pessoa de visitar a ilha. Eu aprovo a política do governo indiano de proteger a cultura sem par da Sentinela Norte de influência externa. Se qualquer pessoa da Ilha Sentinela Norte um dia quiser sairde lá, pode construir um barco e fazê-lo.
Entre um total de 195 nações no mundo de nossos dias, cinquenta e sete têm uma religião de estado legalmente estabelecida. Há quatorze nações que afirmam o cristianismo como sua religião de estado, vinte e seis nações que afirmam o islã como sua religião de estado, seis nações que afirmam o budismo como sua religião de estado, e o estado judaico de Israel. O estado judaico de Israel comete discriminação em relação a seus cidadãos não-judeus e, dentro de suas fronteiras, Israel oficialmente proíbe o proselitismo de qualquer religião diferente do judaísmo. Muitas pessoas acreditam que Israel tem 'direito de existir' dessa maneira como estado judaico.
Muitos países islâmicos empenham-se em proteger a identidade cultural de seus cidadãos fazendo cumprir uma proibição de pregar-se qualquer religião a não ser o islã. Considerando-se a natureza agressiva, insidiosa e altamente política dos programas missionários cristãos, a proibição de pregação religiosa não muçulmana pelos governos muçulmanos faz sentido.
Atualmente não há, oficialmente, nenhum estado hinduísta no mundo, mas talvez a Índia devesse tornar-se um estado hinduísta a fim de proteger sua religião e cultura nativa dos missionários predatórios e do imperialismo cultural patrocinado pelo estado que está vindo de países tanto cristãos quanto muçulmanos. Se os judeus têm o direito de estabelecer e manter Israel como estado judaico, então os hinduístas certamente têm o direito de estabelecer e manter a Índia como estado hinduísta.
Quando líderes ocidentais falam a respeito de um 'embate de civilizações', o que eles realmente querem dizer é judaísmo-cristianismo e capitalismo corporativo versus não-cristãos e não-capitalistas. Os missionários cristãos são essencialmente colonialistas trabalhando para o imperialismo cultural cristão.
Quando os hinduístas da Índia se levantam em tumulto e expulsam os missionários cristãos e os cristãos 'convertidos pelo dinheiro', estão fazendo aquilo que os combatentes da liberdade iraquianos, afegãs e palestinos fazem. Estão-se protegendo, e protegendo sua cultura nativa, de invasores ricos e inescrupulosos que não têm respeito por eles ou por sua cultura. Eu gostaria que os nacionalistas hinduístas tivessem sucesso em seus esforços para defender e manter a independência e a sobrevivência de sua cultura e sua religião nativas contra a investida de estrangeiros predatórios e desrespeitosos cuja meta é substituir as culturas nativas tradicionais por um império cristão mundial.
Se os missionários cristãos quiserem vir para a Índia e converter pessoas ao cristianismo, que venham com os bolsos vazios competindo em igualdade de condições. E se a maioria dos habitantes locais não quiser os missionários interferindo com seu modo de vida tradicional, têm o direito de fazer com que os missionários e seus conversos saiam.
Gregory F. Fegel
Tradução Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme
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