*Murilo Badaró Presidente da Academia Mineira de Letras
Dois nomes, duas épocas, dois tempos, um só problema e diferentes soluções. Estou falando de Osvaldo Cruz e José Gomes Temporão. O primeiro, notável cientista, morto aos 44 anos, responsável pela erradicação de endemias que infestavam a vida dos brasileiros no final do século 19 e início do século 20.
O segundo, um bom sanitarista luso-brasileiro, colocado no Ministério da Saúde por pressão do governador da Guanabara, contaminado pela doença do palavrório que atinge o governo federal como um todo e, destarte, com a credibilidade arranhada. Osvaldo Cruz foi chamado pelo governo para extinguir um surto de peste bubônica na cidade paulista de Santos.
Conhecedor dos problemas sanitários que flagelavam as populações das grandes cidades daquele tempo, eliminou os vetores da peste, os ratos, e debelou a crise. Sua fama ganhou tal consistência que o presidente Rodrigues Alves convocou-o para combater a febre amarela que devastava o Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras.
Naquele tempo não havia a vacina imunizadora contra o vírus, que só veio a ter sua fórmula final encontrada depois de muitos experimentos de grandes cientistas no ano de 1927. O que fez então o grande médico brasileiro para ter êxito na missão, que o consagrou perante o mundo? Iniciou a guerra contra o transmissor da doença, iniciou a melhoria sanitária do Rio de Janeiro enquanto um decreto do presidente Rodrigues Alves estabelecia a obrigatoriedade da vacina contra a varíola, uma das mazelas daquele tempo.
No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, como capital da República, tinha graves problemas urbanos: rede insuficiente de água e esgoto, coleta de lixo precária e cortiços com grande densidade demográfica. Nesse ambiente proliferavam muitas doenças, como a tuberculose, o sarampo, o tifo e a lepra.
Se no Rio de Janeiro estava assim, imaginemos o que poderia estar acontecendo no interior deste imenso Brasil, onde se alastravam as grandes epidemias de febre amarela, varíola e peste bubônica. A revolta da vacina quase põe a perder o trabalho de imunização da população e derruba o governo. Somente uma dura ação conseguiu levar a termo a vacinação e o combate ao mosquito transmissor da febre amarela.
Até o fim do segundo quartel do século 20 parecia estar definitivamente debelada a febre amarela urbana, conquanto persistisse a febre amarela rural. Em 1942, no governo Vargas, nova campanha epidemiológica erradicou novamente a febre amarela, agora com a aplicação da vacina fabricada pela Fundação Rockfeller.
Estes dados históricos servem apenas para demonstrar que o problema da febre amarela no Brasil hoje está sendo combatido com discursos. Finalmente, o Exército é chamado para, como no passado, formar os batalhões de mata-mosquitos para destruir de vez os focos urbanos da doença. O Ministro Temporão, cujo nome lembra o adjetivo daquilo que vem fora do tempo, volta à imprensa (O Tempo, ed. 18-01-2008) para dizer que as mortes causadas pela febre amarela vão aumentar, ao mesmo tempo em que pela televisão diz que não há surto epidêmico da moléstia. Dois nomes, duas épocas, duas atitudes.
Osvaldo Cruz consagrado pela opinião pública e pela história e Temporão tentando resolver pelo palavrório e o discurso uma tragédia brasileira causada pela desatenção governamental com a saúde, agora pretexto para tentar voltar com o malsinado imposto da CPMF, em boa hora derrubado pelo Senado. Neste mar de incertezas, por justiça é preciso louvar a seriedade, a discrição e a competência com que vem atuando o secretário Marcus Pestana, dando conta do recado em Minas na luta contra o mal. Ele cumpre o que pregou O. Cruz:
O saber contra a ignorância, a saúde contra a doença, a vida contra a morte . . . Mil reflexos da batalha permanente em que estamos todos envolvidos.
( [email protected] / murilobadaro.blogspot.com )
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