Os cientistas suspeitavam há bastante tempo que as aves evoluiram dos dinossauros, mas só recentemente as análises químicas revelaram que a carne de tiranossauro tinha o sabor de um frango. Ao menos é o que indica a composição da primeira proteína a ser obtida de um fóssil de 65 milhões de anos -- o colágeno dos ossos de um Tyrannosaurus rex, cuja composição aparenta ter grandes semelhanças com o presente nos frangos de hoje.
Brincadeiras à parte, o trabalho de paleobiologia molecular, publicado na edição desta semana da revista "Science", quase chega a ser digno da série "Parque dos Dinossauros". Contrariando a idéia de que fósseis tão antigos não passariam de rocha em forma de osso, os pesquisadores conseguiram obter quantidades pequenas, mas significativas, de proteína. E dizem que é possível repetir a façanha com outros fósseis bem-preservados, o que pode, no futuro, revolucionar a compreensão que temos sobre a evolução dos seres vivos.
"Todo mundo sempre assumiu que, em qualquer fóssil com mais de 1 milhão de anos de idade, não haveria mais traços de biomoléculas", contou em entrevista coletiva a americana Mary Higby Schweitzer, paleontóloga da Universidade do Estado da Carolina do Norte e uma das líderes da pesquisa. "Mas o fato é que o microambiente desses fósseis acabou contrariando essa predição." Schweitzer e seu colega John "Jack" Horner, da Universidade do Estado de Montana, assombraram o mundo em 2005, quando revelaram ter obtido vasos sangüíneos e células de tiranossauro de um fêmur (osso da coxa) do animal.
O trabalho atual é uma continuação dessa fase de descoberta. Nele, os pesquisadores mergulharam ainda mais nas moléculas componentes do fóssil, em busca de algum traço das proteínas que compunham o osso durante a vida do dino carnívoro. E, para sua própria surpresa, eles conseguiram obter colágeno -- um dos principais componentes não-minerais dos ossos, e relativamente resistente à degradação química que normalmente ataca as moléculas dos seres vivos após a morte.
A quantidade de proteína era ridiculamente pequena, mas suficiente para que os pesquisadores, com a ajuda de análises estatísticas sofisticadas, pudesse comparar os fragmentos de colágeno do fóssil com os componentes da proteína encontrados em bichos vivos hoje. (Uma análise parecida também foi feita com um fóssil de mastodonte, primo extinto dos atuais elefantes, morto entre 160 mil e 600 mil anos atrás.) A comparação foi reveladora: as principais semelhanças do colágeno de dinossauro foram com a mesma proteína encontrada em galinhas modernas. Trata-se da primeira confirmação molecular (e pode-se até dizer genética, já que as proteínas são codificadas pelo DNA) do parentesco próximo entre aves e dinossauros, uma ligação aceita quase universalmente pelos paleontólogos hoje.
O sonho maior de "Parque dos Dinossauros" -- usar o DNA de um dinossauro para recriar a criatura hoje -- continua distante: até onde se sabe, os genes são muito mais frágeis do que as proteínas e se desfazem mais rápido. Mas, pelo visto, é importante enfatizar o "até onde se sabe" nessa história.
Fonte G-1
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