Em reunião nesta segunda-feira com Francisco Graziano, representantes de organizações da sociedade civil que atuam na região da Guarapiranga apresentaram idéias para frear a degradação do manancial que abastece 4 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Entre elas, a criação de um mosaico de áreas protegidas, investimento em saneamento básico, incentivo às práticas de preservação e valorização dos serviços ambientais prestados pela região.
O plano de ações para recuperar e conservar a Bacia Hidrográfica da Guarapiranga, que o governo de Estado de São Paulo promete tornar público no começo de março, recebeu uma importante contribuição das entidades da sociedade civil que atuam na região. Em reunião nesta segunda-feira, 22 de janeiro, o secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Francisco Graziano, recebeu um documento com a síntese das propostas resultantes do Seminário Guarapiranga 2006 .
A bacia da Guarapiranga é um dos mais importantes mananciais para o abastecimento público da Região Metropolitana de São Paulo fornece água para 4 milhões de pessoas e ao mesmo tempo é um dos mais ameaçados pela poluição, ocupação desordenada e desmatamento de seu território. Saiba mais sobre a Guarapiranga e outros mananciais de São Paulo.
O documento apresentando ao novo secretário de Meio Ambiente de São Paulo, que já declarou que a recuperação e preservação dos mananciais do Estado estão entre as prioridades de sua gestão, está dividido em duas partes. A primeira, intitulada O que a Guarapiranga precisa para se tornar um manancial de água de boa qualidade, traz dois conjuntos de estratégias: Ampliar áreas com condições naturais para produzir água de boa qualidade e Recuperar as áreas onde as condições atuais prejudicam o manancial. A segunda parte apresenta uma listagem de 37 propostas, sendo 22 ações e 15 diretrizes, com indicação do responsável pela ação e o prazo para sua execução. Leia aqui o documento na íntegra.
Propostas
A ampliação e criação de Unidades de Conservação na bacia é uma das propostas apresentadas, como a criação de parques para proteger as várzeas dos rios Embu-Mirim e Parelheiros, além de um mosaico de áreas protegidas ligando o Parque Estadual da Serra do Mar e o Reserva Estadual do Morro Grande, em Cotia. O grupo de ONGs também propõe, entre outras iniciativas, a elaboração de um programa governamental metropolitano para reverter o adensamento e orientar a expansão urbana para áreas dotadas de infra-estrutura; criação de um fundo governamental para aquisição de outras áreas protegidas; lançamento de programa governamental de pagamento por serviços ambientais e incentivos econômicos e tributários voltados para comunidades, proprietários e prefeituras que desenvolvam ações de preservação, recuperação de áreas e produção de água; condicionamento do licenciamento de empreendimentos à avaliação dos serviços ambientais ameaçados nas áreas objeto de intervenção.
O documento ainda alinha as áreas prioritárias para serem transformadas em parques e aquelas mais ameaçadas, como a área de influência do trecho sul do Rodoanel. Já para a recuperação das áreas cujas condições atuais comprometem a produção de água pelo manancial foi proposta a adoção de soluções efetivas de saneamento ambiental, com base em metas publicamente estabelecidas de melhoria das condições da qualidade, quantidade e regularidade da água produzida na bacia; e a avaliação por parte do governo dos níveis de risco ambiental e proposição de metas de redução para atividades existentes e projetadas para a região, entre elas cemitérios, aterros e lixões, estabelecimentos de saúde, mineração, postos de combustíveis, transposição de água, lançamento de esgoto.
Este conjunto de ações traduz as diretrizes gerais das propostas apresentadas e detalhadas no documento final do Seminário Guarapiranga 2006 , que são: valorizar os serviços ambientais prestados pelos mananciais para a cidade, implantar saneamento ambiental nas áreas urbanizadas, fomentar atividades compatíveis com a produção de água no território, aprimorar a gestão e garantir participação social.
O documento entregue ao secretário foi produzido pelas entidades Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo, Centro de Estudos da Metrópole/Cebrap, Centro Universitário Senac, Espaço Formação, Assessoria e Documentação, Fórum em Defesa da Vida Contra a Violência, Instituto Polis, Instituto Socioambiental, Sesc Interlagos, SOS Mata Atlântica, SOS Represa Guarapiranga e Yacht Clube Santo Amaro (YCSA).
Presença do Estado e conscientização
O secretário Graziano elogiou o trabalho apresentado. Poucas vezes vi algo tão bem elaborado. Isso me entusiasma e permite que façamos avaliações específicas de cada proposta. Disse também que o conjunto de propostas reflete o alto grau de conhecimento da situação da região por parte da sociedade, o que nos permite começar logo a fazer coisas, pois a marca do nosso governo é de ação. Francisco Graziano afirmou que, ainda que o governo comece a atuar em curto prazo, os primeiros resultados da nova política ambiental para a região dos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo só poderão ser avaliados em dois anos.
Graziano também adiantou que, entre as medidas que o governo deve estabelecer para a Guarapiranga,a Sabesp deve receberrecursos para melhorar o saneamento ambiental na região, e a Polícia Ambiental, ligada à Polícia Militar, terá seu efetivo aumentado em 2.200 homens, sendo que parte deste efetivo atuará de forma permanente na região dos mananciais da Grande São Paulo. O governo do Estado também vai participar de um comitê gestor que reúne secretarias e órgãos do estado e do município, em um processo que vem sendo liderado pela Prefeitura de São Paulo, disse Graziano, para planejarmos de forma inovadora a política habitacional nas áreas de manancial.
O secretário municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Jorge, presente à reunião com as ONGs, complementou o tema afirmando que a política habitacional será integrada e com maior participação das subprefeituras da região da Guarapiranga.
A fiscalização sobre loteamentos irregulares vai aumentar a partir de um novo convênio que está sendo firmado entre o Estado e a Prefeitura, afirmou Jorge. O secretário Graziano disse também estar convencido de que a recuperação da Guarapiranga, bem como de outros importantes mananciais, depende de duas condições fundamentais, sendo a primeira a atuação e presença firme do Estado em ações de repressão a crimes ambientais, e a ocupações irregulares das áreas, e a segunda uma ampla conscientização da população residente. A população carente é vítima dos loteadores clandestinos, mas também responsável pela poluição da represa, e por isso precisa ser conscientizada.
Seminário Guarapiranga 2006
Realizado em maio do ano passado, o seminário reuniu 162 especialistas e representantes de organizações da sociedade civil, do poder público estadual e municipal, das comunidades empresarial, científica e acadêmica e de movimentos sociais e moradores da região.
O Seminário Guarapiranga 2006 foi organizado pelo ISA em parceria com Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo, Centro Universitário Senac, Espaço Formação Assessoria e Documentação, Fórum em Defesa da Vida contra a Violência, Instituto Florestal, Prefeitura Municipal de Embu-Guaçu, Sabesp, Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo, Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente de São Paulo, SOS Represa Guarapiranga, Subprefeitura do M´Boi Mirim, Subprefeitura de Parelheiros e Vitae Civilis.
Fonte: www.socioambiental.org
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