Por que os EUA e a União Europeia sustentam a rebelião na Ucrânia?

Os dois principais partidos da oposição, nomeadamente Bloco Nossa Ucrânia/Autodefesa Popular, (de Viktor Juscenko) e o Partido da Pátria/Bloco Eleitoral (de Julia Tymosenko), decidiram enfrentar diretamente o presidente Viktor Janukovic e o primeiro-ministro Mykola Azarov, após o presidente anunciar na televisão que o governo havia finalizado as negociações com a União Europeia, postergando, mais uma vez, a eventual entrada no bloco dos países europeus.

Achille Lollo, de Roma (Itália)
Brasil de Fato


Além disso, Viktor Janukovic ressaltava que era mais conveniente em termos econômicos e geoestratégicos para a Ucrânia reforçar o relacionamento com a Rússia.


Para os líderes da oposição, Viktr Juscenko e a riquíssima Julia Tymosenko - que, oficialmente, continua presa por fraude à receita - esta foi a grande ocasião para obrigar o presidente Viktor Janukovic a demitir o primeiro-ministro, Mykola Azarov e, consequentemente, promover novas eleições.


De fato, a oposição alimentou nos jovens pobres o mito da riqueza dos países da União Europeia que qualquer um deles podia adquirir ao conseguir emigrar com um passaporte europeu. Ao mesmo tempo, também manipulavam os jovens dizendo que Janukovic e Azarov haveriam rejeitado a proposta de entrar a fazer parte da União Europeia, antes de tudo, para vetar a imigração dos jovens ucranianos na Europa.


Além disso, para acirrar ainda mais os ânimos dos manifestantes, as lideranças da oposição diziam que o presidente Janukovic havia dito não à União Europeia por imposição do presidente russo  Vladimir Putin.


Argumentos que provocaram uma dura reação popular e que foi muito bem aproveitada pelos canais de televisão europeus e estadunidenses para pressionar o governo da Ucrânia a libertar Julia Tymosenko, condenada por crimes financeiros quando era presidente da Companhia Geral de Energia.


Neste contexto, a manipulação do clima político foi excepcional, conseguindo empolgar os eleitores dos dois partidos da oposição e, assim, construir facilmente uma rebelião popular, que ao juntar  um milhão de pessoas nas ruas de Kiev pretendia exigir a demissão do presidente Viktor Janukovic.


Uma espécie de ruptura institucional, que deveria repetir o golpe branco de 2004, chamado de "Revolução Laranja", que ocorreu com a direta sustentação dos serviços secretos dos EUA e dos principais países da União Européia, nomeadamente: Alemanha, França Grã Bretanha e Países Baixos.


Aliás, a estreita ligação da CIA com a líder do Partido da Pátria/Bloco Eleitoral, Julia Tymosenko, e o envolvimento da Freedom House em sua campanha, bem como o uso de fundos secretos para comprar os votos a favor de seu partido, foi um dos argumentos explorados pelo jornalista Georgij Gongadze, cujo assassinato, aos 17 de setembro de 2000, permitiu a Julia Tymosenko, ao então presidente Leonid Kuchma e a outros oligarcas - escandalosamente enriquecidos com as privatizações das empresas públicas - livrarem-se das pesadas acusações que o jornalista havia gravado em suas reportagens.


Importância geopolítica
Depois da Rússia, a Ucrânia é a nação mais densamente povoada da região - com cerca de 46 milhões de habitantes, dos quais um terço de etnia russa - e com mais centrais nucleares (11) construídas pela então União Soviética. Aliás, o atual presidente Viktor Janukovic assinou com a Rússia um novo protocolo para a construção de mais 12 centrais nucleares, além de ampliar o acordo para o fornecimento do urânio enriquecido.


Um negócio que, juntamente ao fornecimento do gás, é o cerne das opções geoestratégicas do atual governo da Ucrânia, a partir do momento em que foi a empresa russa Gazprom que construiu na Ucrânia todos os terminais de distribuição para abastecer os países europeus. Por isso o governo de Kiev paga, ainda hoje, o gás a preço de favor (50 dólares em vez de 230 dólares por mil metros cúbicos).


Por outro lado, na Ucrânia há muitas empresas russas de aviação, metalúrgicas e mineração que os oligarcas ucranianos pretendem nacionalizar para depois privatizar com a ajuda de transnacionais ocidentais. Um processo que se iniciou, em 1996, para depois se expandir no ano 2000 quando Viktor Jankovic foi presidente e Julia Tymosenko se assenhoreou do cargo de primeiro-ministro - até ser demitida por extrema incompetência.


Paralelamente, a azarada decisão do Departamento de Estado de apoiar a fraudulenta aventureira Julia Tymosenko foi consequência política da necessidade de os EUA ampliar sua influência geoestratégica na Ucrânia e, portanto, estar cada vez mais perto da região do Cáucaso, onde a Geórgia, a Ossétia do Sul, a Inguchétia e a Abcásia querem romper com o protecionismo da Rússia para negociar com as transnacionais do Ocidente seu potencial de gás e de petróleo. Nesse contexto, somente um governo filo-ocidental, tal como Viktor Janukovic e Julia Tymosenko propõem, pode exigir da Rússia a saída da base naval de Sebastopol e entregá-la à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).


É claro que para realizar todas essas mudanças institucionais e geoestratégicas a Ucrânia deve, antes de tudo, sair pacificamente da órbita da Rússia.


 http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=e58be547528b4bf803f45ac3f9a8fabb&cod=12914
Foto: Lenelenka

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey