Paulo Galvão Júnior* - João Pessoa Brasil
O presidente da Federação Russa, Dmitry Medvedev, foi o grande anfitrião da primeira reunião de cúpula dos quatro países emergentes do BRIC (sigla em inglês das iniciais de Brazil, Russia, India and China). Em Yekaterinburg, a maior cidade a leste dos Montes Urais, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente russo Dmitry Medvedev, o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh e o presidente chinês Hu Jintao debateram por quatro horas a crise econômica internacional, a formação oficial do grupo BRIC, a redução da grande dependência do dólar americano e, sobretudo, a nova ordem mundial.
Durante a 34ª cúpula do Grupo dos Oito (G-8), no Japão, em julho do ano passado e, principalmente, na histórica cúpula realizada em 16 de junho na Rússia, observamos os líderes dos BRICs de mãos dadas em prol de uma nova ordem mundial. Todos os problemas econômicos na Terra, sejam eles quais forem, estão relacionados com o problema da escassez. Os principais problemas internacionais como pobreza, fome, desemprego, violência, guerras, doenças, drogas, aquecimento global, escassez de energia e de água potável são de responsabilidade de cada um de nós.
A principal moeda do mundo é o dólar norte-americano. Não há até agora uma moeda oficial que possa substituí-lo. O Brasil defendeu que o real e o yuan tenham um papel cada vez maior no comércio internacional, mas reconheceu que o dólar vai continuar sendo a principal moeda nos próximos anos mesmo com a recessão da economia americana. O uso das moedas nacionais (real, rublo, rúpia e yuan) nas trocas bilaterais entre os países do BRIC foi pauta da cúpula dos principais países emergentes do mundo. O Brasil defendeu a redução do peso dos Estados Unidos da América (EUA) e do dólar americano nos negócios internacionais e no sistema financeiro mundial. Essa é uma questão a ser muito debatida nos próximos anos.
O BRIC é um acrônimo criado em novembro de 2001 pelo economista britânico Jim O'Neill no relatório Building Better Global Economic Brics do banco de investimento americano Goldman Sachs. Segundo Jim O'Neill , a China será a maior economia do mundo em 2050, a frente dos EUA que ocupará o 2º lugar no ranking mundial. A Índia será a 3ª economia do planeta, a frente do Japão que estará em 4º lugar. O Brasil ficará em 5º lugar no ranking das dez maiores economias do mundo em 2050. Já a Rússia projeta-se na 6ª posição no ranking do PIB global, na frente do Reino Unido, da Alemanha, da França e da Itália.
De acordo com as novas projeções do economista Jim O'Neill, em 2027, a economia da China, alcançaria o Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22,2 trilhões, assumindo o primeiro lugar no ranking mundial das economias. A economia dos EUA estaria em segundo lugar, com PIB de US$ 21,6 trilhões. Em terceiro, a Índia (US$ 5,5 trilhões), em quarto, o Japão (US$ 5,3 trilhões), em quinto, a Alemanha (US$ 4,1 trilhões), em sexto, a Rússia (US$ 4,0 trilhões), e em sétimo lugar, o Brasil (US$ 3,8 trilhões), na frente do Reino Unido, da França, da Itália e do Canadá.
Os trilhões de dólares a mais na economia dos quatro países emergentes não vão significar que esses países alcancem padrões de vida considerados de Primeiro Mundo. Segundo Jim ONeill, apesar de juntos, em volume de PIB, terem o potencial de superar o Grupo dos Sete (G-7), o único país que poderia chegar perto dos níveis de riqueza e padrão da qualidade de vida dos países desenvolvidos é a Rússia.
O cenário econômico para o BRIC traçado por Jim O'Neill continua recebendo críticas de vários economistas. Muitos questionam um grupo que reúne países tão distintos no âmbito social, político, ambiental e de modelo econômico - sem falar das enormes diferenças étnico-religiosas. Outros questionam ainda o fato de o grupo excluir outros países emergentes como a África do Sul, México, Coreia do Sul, Indonésia e Turquia. Já outros economistas, na qual me incluo, estão enfatizando que o PIB desses quatro países emergentes irá crescer muito, todavia é importante estar atento para outros indicadores como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), porque os BRICs serão economias ricas e juntos com o país mais rico da África serão integrantes do seleto grupo dos países com desenvolvimento humano elevado (IDH de 0,800 ou superior) antes de 2050. Por isso escrevi o RBCAI (sigla em português das iniciais de Rússia, Brasil, China, África do Sul e Índia).
O presente artigo tem por objetivo comparar o Brasil com outros três integrantes do BRIC, Rússia, Índia e China. E do BRIC com o Mundo. Ressalto que no Mundo foram 179 países analisados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Faremos análises comparativas de oito indicadores: População Total, Área Territorial, PIB, IDH, Esperança de Vida ao Nascer, Taxa de Alfabetização de Adultos, Taxa de Escolarização Bruta Combinada e PIB per capita. Vamos aos números e as análises comparativas dos BRICs na atualidade.
Os países integrantes do famoso BRIC juntos têm 2,8 bilhões de habitantes, ou seja, representa 41,8% da população mundial (6,7 bilhões de habitantes). A China e a Índia são os dois países mais populosos do mundo, com 1,330 bilhão de habitantes e 1,147 bilhão de habitantes, respectivamente. O Brasil é quinto país mais populoso do planeta, com 191,9 milhões de habitantes. Já a Rússia é a nona nação mais populosa do mundo, com 140,7 milhões de habitantes.
As nações do BRIC têm 38,2 milhões de km2, ou seja, significa 25,6% da superfície terrestre do planeta Terra (149,4 milhões de km2). A Rússia é o país mais extenso do mundo com 17,0 milhões de km2. A China com 9,5 milhões de km2 tem o terceiro maior território do mundo, atrás apenas da Rússia e do Canadá. Já o Brasil é o quinto país mais extenso do mundo com 8,5 milhões de km2. Enquanto a Índia é o sétimo maior por área territorial com 3,2 milhões de km2.
Os BRICs juntos representam 13% do PIB global de US$ 54,5 trilhões em 2007. De acordo com os dados estatísticos do FMI, a China é a terceira potência econômica mundial com PIB nominal de US$ 3,7 trilhões em 2007. O Brasil é a décima economia do mundo com PIB de US$ 1,3 trilhão. A Rússia é a 11ª economia do planeta com PIB de US$ 1,2 trilhão. E a Índia é a 12ª maior economia mundial com PIB de US$ 1,1 trilhão.
No BRIC, observamos que dois países são de alto desenvolvimento humano, Brasil e Rússia. E observamos também que dois países são de médio desenvolvimento humano, China e Índia. O Brasil é o país com o mais alto IDH (0,807) entre os BRICs, de acordo com os dados recentes do PNUD. A Rússia está em segundo lugar, com o IDH de 0,806. A China com IDH de 0,762 está em 3º lugar. Já na última colocação encontra-se a Índia, com o IDH de 0,609.
Passemos à outra comparação entre os BRICs. A China apresenta a melhor expectativa de vida ao nascer, com 72,7 anos, enquanto a Índia tem a pior esperança de vida ao nascer, com apenas 64,1 anos em 2006. Em outras palavras, o chinês vive 8,6 anos a mais do que o indiano. Percebemos que a expectativa de vida ao nascer do Brasil (72,0 anos) é maior do que a da Rússia (65,2 anos), segundo os dados do PNUD.
Verificamos a taxa de alfabetização de adultos dos BRICs. A Rússia tem a mais alta taxa de alfabetização de adultos, com 99,5%. Não é de espantar, pois há décadas a Rússia realiza grandes investimentos em educação. Observamos que 93,0% da população adulta sabe ler e escrever na China. No secular Brasil a taxa de alfabetização de adultos é de 89,6% e superior ao da milenar Índia com 65,2%.
Passemos agora analisar os dados estatísticos do PNUD sobre a taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior dos BRICs. Observamos que o Brasil tem a maior taxa de escolarização bruta com 87,2%, sendo superior aos 61,0% da Índia. Já a taxa de escolarização bruta da China (68,7%) é inferior ao da Rússia (81,9%).
Comparemos agora o PIB per capita em dólar PPC (paridade do poder de compra). A PPC significa uma taxa de conversão da moeda para permitir a comparação de números agregados de diferentes países e elimina as diferenças do custo de vida entre os países. A PPC é também denominada dólar internacional. Para cada país, o preço da cesta internacional de bens e serviços em moeda local é comparado ao preço da mesma cesta em dólar americano. Observamos que a Rússia tem o maior PIB per capita com US$ 13,205 PPC, em segundo lugar vem o Brasil com US$ 8,949 PPC, em 3º lugar encontra-se a China com US$ 4,682 PPC e na última posição, a Índia com apenas US$ 2,489 PPC em 2006.
Vejamos agora a comparação do BRIC com o Mundo, o desempenho é quase idêntico no IDH, com 0,746 e 0,747, respectivamente. Com dados do PNUD, constatamos ser relativamente igual à esperança de vida ao nascer, com 68,5 anos no BRIC e 68,3 anos no Mundo. Constatamos também que o BRIC e o Mundo têm uma relativa diferença na taxa de alfabetização de adultos, com 86,8% e 81,0%, respectivamente. Finalmente, observamos que a taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior do BRIC (74,7%) é maior do que a do Mundo (67,0%).
Os líderes dos países do grupo BRIC têm um papel de iniciar a nova ordem mundial, promovendo o princípio de multilateralismo em negócios mundiais e na reforma de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), o FMI e o Banco Mundial, para superar a grave crise financeira e econômica mundial.
O BRIC tem um extraordinário potencial para conduzir o crescimento econômico global. Na realidade, a recuperação da economia mundial será protagonizada pelas economias do BRIC. De acordo com dados recentes, a queda do PIB brasileiro foi de 1,8% no primeiro trimestre de 2009 em relação ao mesmo período de 2008. Já a queda do PIB russo foi de 9,5%. Enquanto o PIB chinês cresceu 6,1% e o PIB indiano aumentou 5,8% no 1º trimestre de 2009 em comparação com o 1º trimestre de 2008.
Os BRICs são extremamente importantes para o crescimento da economia mundial. China e Índia são ricas em recursos humanos, já Rússia e Brasil são ricos em recursos naturais. Os BRICs têm aproximadamente US$ 2,8 trilhões em reservas internacionais, o que significa 40% das reservas mundiais.
A República Federativa do Brasil é um dos maiores exportadores de commodities agrícolas e metálicas do planeta. Ressaltamos que a China é a maior parceiro comercial do Brasil. E as exportações brasileiras para a China são fortemente concentradas em dois produtos, soja e minério de ferro. A Federação Russa é um dos maiores exportadores globais de petróleo e de gás natural. E a República da Índia é a maior exportadora de software e serviços de programação do mundo. A República Popular da China é o país com o maior crescimento econômico dos últimos 25 anos no mundo, com a taxa média de crescimento do PIB em torno de 10% ao ano. A China retirou 480 milhões de pessoas da pobreza absoluta. A China é a maior importadora mundial de commodities agrícolas. A China é a maior detentora mundial de títulos do Tesouro dos EUA, cerca de US$ 767,9 bilhões, segundo informações do Departamento do Tesouro norte-americano.
De acordo com os dados do FMI, em 2007, com base no PIB em dólar PPC, a China é a segunda economia do mundo com PIB de US$ 7,0 trilhões PPC. A Índia é quarta potência econômica mundial com PIB de US$ 2,9 trilhões PPC. A Rússia é a sétima economia do mundo com PIB de US$ 2,0 trilhões PPC. Já o Brasil é a nona economia do mundo com o PIB de US$ 1,8 trilhão PPC. Logo, a participação dos BRICs no PIB mundial de US$ 64,9 trilhões PPC foi de 21%.
O BRIC é de grande importância nestes momentos sombrios em que vive a humanidade. Esperamos que na 35ª cúpula do G-8 na Itália, entre 8 a 10 de julho de 2009, o Grupo dos Cinco (G-5), formado pelo Brasil, China, Índia, África do Sul e México, seja convidado pelos países membros do G-8 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia) a integrar oficialmente ao grupo, assim surgirá o almejado Grupo dos Treze (G-13).
Os BRICs serão as novas potências econômicas nas próximas décadas. As novas terras de oportunidades são a China, a Índia, a Rússia e o Brasil. Nós temos grandes vantagens comparativas e vantagens competitivas. Nós os brasileiros, russos, indianos e chineses, quase 3,0 bilhões de pessoas, devemos pensar nas soluções dos principais problemas mundiais e devemos aumentar os contatos econômicos, sociais, ambientais, comerciais, políticos, culturais e esportivos em nossos idiomas oficiais.
Enfim, a segunda cúpula do BRIC será no Brasil em 2010. Morando na segunda cidade mais verde do mundo, estou pensando no BRIC, nos números que não deixam dúvidas sobre o seu enorme potencial e, sobretudo, na nova ordem mundial, no qual acredito que seja baseada no interesse de toda a humanidade e na preservação do meio ambiente, ou seja, uma ordem mundial mais justa, mais sustentável.
*Economista, 39 anos, autor do livro digital de Economia intitulado RBCAI, e-mail: [email protected] e blog: www.paulogalvaojunior.blogspot.com
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