A solidão deixou de ser apenas um sentimento desconfortável para se tornar uma questão de saúde pública. É o que afirma o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, que vem alertando para os efeitos devastadores do isolamento social crônico sobre a saúde física e mental da população. Segundo ele, os danos causados pela solidão podem ser comparáveis aos do tabagismo e do alcoolismo, exigindo atenção urgente de governos e comunidades.
Em declarações recentes, Murthy chamou a atenção para a dimensão invisível da crise: muitas pessoas vivem sem conexões sociais significativas, mesmo estando cercadas por outras ou conectadas virtualmente. A ausência de vínculos reais, sustentáveis e de apoio impacta diretamente o organismo. O tema foi abordado em profundidade em uma reportagem publicada pelo site norte-americano The Hill, destacando o apelo do especialista por políticas públicas focadas na reconstrução dos laços humanos.
Estudos citados por Murthy mostram que a solidão crônica está associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, AVC, depressão, ansiedade, declínio cognitivo e até morte prematura. O impacto no sistema imunológico é tão expressivo que o corpo passa a operar em estado de alerta constante, como se enfrentasse uma ameaça física — o que gera inflamações persistentes e desgaste do organismo ao longo do tempo.
O cirurgião-geral também apontou que a pandemia de COVID-19 agravou significativamente esse cenário. O distanciamento social necessário para conter o vírus teve como efeito colateral o aprofundamento do isolamento, principalmente entre idosos, jovens adultos e pessoas que vivem sozinhas. No entanto, Murthy destaca que a crise já existia antes da pandemia e foi apenas exposta com mais intensidade.
Entre as soluções propostas, estão políticas que incentivem a convivência comunitária, o voluntariado, programas de apoio emocional em escolas e locais de trabalho, além de campanhas de conscientização sobre o valor das conexões sociais para a saúde. Murthy defende que a construção de relacionamentos de confiança deve ser tratada como prioridade nacional, da mesma forma que o combate ao tabaco e à obesidade.
O desafio, segundo ele, é superar o estigma em torno da solidão. Muitas pessoas não compartilham que se sentem sozinhas por medo de parecerem fracas, fracassadas ou indesejadas. Mudar essa percepção exige uma nova cultura que valorize o cuidado mútuo, a escuta ativa e o pertencimento como pilares da vida em sociedade.
“Precisamos de um renascimento das conexões humanas”, afirma Murthy. Para ele, a tecnologia deve ser uma ferramenta a serviço do encontro, não um substituto para a convivência real. O chamado do cirurgião-geral norte-americano é claro: cultivar vínculos não é apenas um gesto de afeto — é um ato de preservação da vida.
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