Social-democracia. Afunda-se ou renova-se? (concl.)
A velha social-democracia mostrou-se totalmente incapaz de fazer frente à crise iniciada em 2008 e ao avanço do fascismo; a nova, também nada veio acrescentar.
A nova social-democracia deixou as vestes leninistas sem perder o seu amor ao capitalismo, restringindo-o ao neoliberalismo dominante; pretende que a democracia de mercado e a apropriação do pote passam a estar legitimados com a sua inserção no aparelho de estado e na animação parlamentar.
3 - A norma política autocrática
Em regra, os regimes políticos atuais, de democracia de mercado, baseiam-se numa segmentação muito clara entre a classe política e a população. Aos primeiros, compete apresentar os candidatos a lugares de representação e aos segundos votar nos membros da classe política, cujas organizações se apresentam como estruturas elitistas, muito hierarquizadas e autoritárias, quer a nível interno, quer face à população; e ocupam as instâncias estatais, sempre que
estas lhes estão disponíveis, utilizando-as para os seus fins particulares, enquanto grupo ou dos seus membros individuais.
Numa classe política considera-se que um eleito tem um mandato preciso no tempo mas, vago e irrestrito em termos de atuação e decisão; e, incute-se na cultura popular que essa representação num só sentido faz parte da natureza das coisas, até porque... nos países vizinhos assim sucede também. Por parte da multidão dos votantes não lhes é concedido ou é muito dificultado o direito de apresentar candidatos não pertencentes aos partidos[1], nem lhes é admitido retirar a representação a qualquer eleito, por muito nociva que seja a sua atuação; e isso, admitindo que haja, de facto, uma ligação direta do voto a um eleito individualizado, o que, por exemplo, no caso português, não há, uma vez que se vota em listas[2], tal como no tempo do fascismo.
Chamam a isto, democracia representativa. Preferimos chamar a este entorse, democracia de mercado. De facto, existem uns fornecedores (os partidos) que apresentam os seus produtos em concorrência (nada perfeita) nos escaparates eleitorais, restando aos consumidores (os votantes) escolher o produto mais atraente, através do voto. Uma diferença importante face ao que acontece numa compra em supermercado, é que não há prazo de devolução nem fórmulas de reclamação por produto adulterado ou impróprio para consumo.
A estanquicidade entre a multidão e a classe política contrasta com a íntima ligação entre esta última e os meios de negócios, sobretudo do big business; os casos de corrupção, em regra, envolvem mandarins e empresários. Toda a gente vai conhecendo essas ligações, uma vez que os media, mesmo sendo empresas capitalistas, não repudiam a divulgação de negócios escusos protagonizados por mandarins, uma vez que isso eleva as receitas da publicidade. A solidariedade entre capitalistas só acontece no seu antagonismo face ao mundo do trabalho e à multidão em geral.
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