Santo Domingo (Prensa Latina) Os haitianos estão imersos em um processo eleitoral que pode ser histórico se seus resultados conseguirem resolver a aguda crise política vivida pelo país e que contribui para causar e fortalecer a institucionalidade.
Com atos em massa, começaram as campanhas dos 55 candidatos que se enfrentarão no primeiro turno das eleições presidenciais, previstas para 25 de outubro.
O partido opositor Fanmi Lavalas aproveitou uma atividade celebrada a 30 de setembro em comemoração do 24 aniversário do sangrento golpe de 1991 contra Jean-Bertrand Aristide.
Ali o próprio Aristide apresentou a sua candidata à presidência, Maryse Narcisse, diante de milhares de partidários e simpatizantes dessa força política vindos de todas partes da capital.
Outros candidatos presidenciais opositores realizaram sua primeira grande manifestação no domingo, 27 de setembro, entre eles Jude Celestin, Jean Henri Ceant e Moãse Jean-Charles.
Celestin, candidato pela Liga Alternativa para o Progresso e a Emancipação do Haiti (Lapeh), concentrou uma grande multidão em Croix-dê-Bouquets, a 20 quilômetros de Porto Príncipe.
Ceant, líder de Renmen Ayiti, reuniu a muitos seguidores no bairro popular de Bel-Air, onde prometeu lutar contra as desigualdades e lançou seu lema "Um Haiti melhor é possível".
O ex parlamentar Jean-Charles, candidato do coletivo Pitit Dessalines, iniciou sua campanha em Saint-Michel de l'Atalaye (Artibonite) com a promessa de atuar contra a corrupção.
Persiste a inconformidade
Mas apesar deste ambiente de campanhas, se evidencia a intransigência de alguns com os grupos opositores e sobretudo a inconformidade de muitos com o trabalho das autoridades eleitorais.
Por exemplo, um debate com o candidato da Organização do Povo em Luta (OPL), Sauveur Pierre Etienne, foi interrompido a socos e pontapés na Faculdade de Humanidades (Fasch).
Também seguem os protestos de figuras e organizações contra o resultado do primeiro turno das eleições parlamentares publicado pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP).
Esse pleito, celebrado a 9 de agosto, contou com a participação de 18 por cento dos eleitores e só elegeu oito deputados e dois senadores de 139 assentos possíveis.
Líderes de várias plataformas opositoras acusam o CEP de parcialidade porque o balanço dos deputados eleitos está a favor do oficialista Partido Haitiano Tet Kale (PHTK), que tem mais candidatos que o resto.
A ida às urnas de 9 de agosto incluiu atos violentos que deixaram uma dezena de mortos, vários feridos e 137 presos, entre eles cinco candidatos a deputados levados aos tribunais.
Eles foram Jean Claude Lubin (Pitit Desalin), Fontal Dorelien (Fanmi Lavalas), Jean Franchi Desgrottes (Verité) e Marconi Mésidor e Sony Ambroise (ambos de Fusión). Alguns pagaram e estão em liberdade. A inconformidade com o CEP manifestou-se de diferentes maneiras, desde protestos nas ruas até pedidos para dissolver esse órgão e criar um governo de transição.
Registraram-se atentados e ameaças contra membros do CEP. O técnico Wilkenson Bazile caiu baleado; o assessor Jaccéus Joseph recebeu ameaças e houve tiroteio na residência do servidor público Vijonet Demero.
Nehemy José, representante no CEP do vodu e setores camponeses, renunciou a 30 de setembro por sentir-se incomodado com o papel desempenhado por esse órgão, algo bem visto pela oposição haitiana.
Jean Buteau Enold, líder de Alternativa Socialista, disse que esse exemplo deve ser seguido por outros para cancelar o primeiro turno das parlamentares e acelerar a formação de um novo CEP.
O Coordenador Geral da plataforma Verité, Genard Joseph, exigiu a renúncia dos demais membros da junta e a abertura de consultas para substituí-los.
Ao mesmo tempo, o tesoureiro da CEP, Ricardo Agustín, disse que ainda que a renúncia de Nehemy José chegue em um momento ruim, não afetará o trabalho do órgão que seguirá adiante com o processo eleitoral.
Kerry apoia as eleições haitianas
É nesse cenário em que chegou a Porto Príncipe, a 6 de outubro, o secretário de estado norte-americano, John Kerry, e manifestou o pleno apoio dos Estados Unidos às eleições presidenciais de 25 de outubro.
Em conferência de imprensa, Kerry disse que Washington seguirá apoiando o processo eleitoral para assegurar que os haitianos tenham um novo governo legítimo a partir de 7 de fevereiro de 2016.
Também se manifestou contra a anulação do primeiro turno das eleições parlamentares do dia 9 de agosto e deixou claro que seu país não tem intenção de cooperar com um governo de transição sugerido pela oposição.
Assinalou que os Estados Unidos considera que as eleições presidenciais, parlamentares e locais são o único caminho para a estabilidade e o fortalecimento da economia haitiana e por isso são decisivas.
Ao aludir aos incidentes registrados no primeiro turno das parlamentares, indicou que a violência e a intimidação não são cabíveis no processo eleitoral haitiano.
Em sua primeira visita ao país, Kerry reuniu-se com o presidente Michel Martelly, o primeiro-ministro Evans Paul, e outras altas personalidades haitianas, encontro que qualificou de positivo e produtivo.
Dessa maneira deixou claro o apoio dos Estados Unidos a Martelly, ao governo do qual demitiu seis ministros e um secretário de Estado, e ao processo eleitoral haitiano regido pela CEP.
Pesquisa recente
Uma pesquisa de opinião, realizada de 29 de setembro a 3 de outubro pela empresa de estudos de "Sigma Stat Consulting Group & Associates", coloca a candidata do Lavalas no primeiro lugar.
O estudo propõe que Maryse Narcisse (Fanmi Lavalas) segue à frente com uma intenção de voto de 27.9 pontos percentuais, seguida de Moãse Jovenel (do oficialista PHTK) com 18,9 por cento.
Em terceiro lugar está Jude Celestin com 14,9 pontos percentuais; seguida por Jean-Charles Moãse, com 11,8 por cento, enquanto outros dos principais candidatos não chegam a sete por cento.
A pesquisa terminou três dias depois que o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide interveio no ato onde chamou à população a votar por Maryse Narcisse.
*Co-responsável da Prensa Latina na República Dominicana.
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