Forma-se a Comuna de Paris
Em 18 de março de 1871, os parisienses, sentindo-se traídos pelo governo que capitulou diante das tropas prussianas e se instalou em Versalhes, estavam à beira da insurreição. As tensões empurraram o chefe do governo, Adolphe Thiers, a retirar os canhões colocados pelo povo para se defender contra o inimigo. Os soldados encarregados da missão foram cercados em Montmartre por uma multidão pacífica e com ela se confraternizaram. Quando o general Lecomte ordenou que se atirasse contra a multidão, não foi obedecido e só fez avivar a fúria do povo. O militar foi feito prisioneiro e executado junto com outro general, Clément Thomas. Após o episódio, Thiers deixou a capital com seu governo e se instalou em Versalhes. O Comitê Central da Guarda Nacional tomou o poder e organizou a eleição para a Comuna de Paris - o poder revolucionário que governou aquela cidade durante o curto período de 18 de março a 28 de maio.
Na manhã de 18 de março, Paris foi despertada pelo grito de: "Viva a Comuna!". O povo não se contentou em tomar o aparelho de Estado como se constituia e pô-lo a funcionar por sua própria conta. O poder centralizado do Estado, com suas instituições espalhadas por toda parte: exército permanente, polícia, burocracia, clero e magistratura, órgãos moldados segundo um plano de divisão sistemática e hierárquica do trabalho, datava da época da monarquia absoluta.
"Em presença de ameaça de sublevação do proletariado, a classe possuidora unida utilizou então o poder de Estado, aberta e ostensivamente, como o engenho de guerra nacional do capital contra o trabalho. Na sua cruzada permanente contra as massas dos produtores, foi forçada não só a investir o executivo de poderes de repressão cada vez maiores, mas também a retirar pouco a pouco de sua própria fortaleza parlamentar, a Assembleia Nacional, todos os meios de defesa contra o executivo. O poder de Estado, que parecia planar bem acima da sociedade, era todavia, ele próprio, o maior escândalo desta sociedade e, ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções. O primeiro decreto da Comuna foi pois a supressão do exército permanente e a sua substituição pelo povo em armas" (Sobre a Comuna de Paris, Karl Marx e Friedrich Engels).
Depois da dissolução do exército, Thiers tentou desmilitarizar a Guarda Nacional. Mas seus integrantes resistiram a entregar as armas ao governo, chegando até mesmo a atacar o Hôtel de Ville, sede do governo provisório, levando seus membros a fugir para Versalhes. Paris ficou, então, sem comando político.
No vazio deixado pelo governo e em meio a uma correlação heterogênea de forças, formou-se a Comuna de Paris. Em março, Thiers faria sua primeira investida para recuperar o controle da cidade, mas sem sucesso.
Influenciado pelas ideias socialistas, o governo proletário instituído em 1871 tomou uma série de medidas no sentido de formar um poder democrático e popular. Dentre elas, pode-se destacar a abolição do trabalho noturno, a redução da jornada de trabalho, a concessão de pensão a viúvas e órfãos, a substituição dos antigos ministérios por comissões eletivas e a separação entre Igreja e Estado. Havia a expectativa de que o movimento pudesse juntar-se às comunas formadas em Marselha e Lyon, mas sua derrota limitou no tempo a experiência do governo proletário em Paris.
A concentração geográfica do governo comunal facilitou a vitória de Thiers. Ao mesmo tempo, outros fatores concorreram para o fracasso: as divisões políticas dentro do movimento, o fato de o governo formado em Paris não ter atacado Versalhes e a ausência de um comando militar suficientemente preparado para uma eventual invasão. A experiência comunal acabou em 28 de maio, após 7 dias de guerra civil - a chamada semana sangrenta.
Enquanto medidas democráticas eram tomadas em Paris, Thiers negociava com a Prússia, em Versalhes, uma aliança para derrotar o governo comunal. Em troca de concessões da França, Bismarck libertou prisioneiros de guerra para que pudessem ajudar no cerco à cidade. Assim, em 21 de maio de 1871, mais de 100 mil soldados invadiram Paris. Cerca de 20 mil mortos, do lado parisiense, e outros milhares exilados na Guiana Francesa - foi o saldo do conflito.
A derrota do governo comunal ensejou uma profunda reflexão no campo socialista. Marx e Engels produziram diversas análises a partir daquela experiência. Evidenciaram como, muito além de uma guerra civil, o processo de formação e, principalmente, a derrota da Comuna de Paris foram expressão da luta de classes num país em pleno desenvolvimento capitalista. A derrota da Comuna de Paris serviria de laboratório para os bolcheviques.
18/03/2010
*Com informações do site historia.net e do professor Vitor de Angelo.
Fonte: Opera Mundi
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