Montreal (Canadá) - Eu adoraria dar a Barack Obama o benefício da dúvida e não ligar para o fato dele estar na Casa Branca há mais de nove meses, mas há um limite para tudo. O que o Príncipe das Mudanças realmente mudou? Guantánamo ainda está aberta para negócios (como está Bagram e outros locais secretos e não tão secretos de tortura para os militares e a CIA), apesar de suas promessas de fechar logo esses lugares.
Seu plano de reforma do sistema de saúde previsivelmente desviou-se da opção de ser o governo único pagador (ele rapidamente abandonou qualquer abertura para a medicina socializada, logo que as companhias de seguros que generosamente financiaram sua campanha presidencial cobraram suas fichas de volta e deixaram claro que, enquanto eles mandarem no pedaço, os americanos nunca irão desfrutar de plano de saúde universal). Quando Wall Street e os maiores bancos do país solicitaram dinheiro, deu-lhes o que eles queriam, antes mesmo de ser eleito. Mais de 7 milhões de americanos perderam seus empregos, desde que ele se tornou presidente, mas o dinheiro que sua administração destinou para a criação de postos de trabalho é ínfimo quando comparado aos trilhões com que ele presenteou a oligarquia financeira do país.
Honestamente, não acho que tenha visto um Presidente tão firmemente ligado ao poder (em todas as suas variações), como é Obama. Sempre que o Pentágono, Wall Street ou os grandes laboratórios falam, Obama obedece. Parece que não limites no que este homem pode fazer para agradar seus mestres corporativos. Naturalmente, neste sentido, Obama difere pouco de seus últimos dois antecessores, Bush e Clinton. Mas, não era ele que se imaginava diferente deles? Não seria ele a lufada de ar fresco depois do pesadelo da última administração? Não fez sua campanha com o slogan "Mudanças em que podemos acreditar?"
Pelo visto, ainda estamos no Iraque, embora ele tenha nos prometido que sairia de lá no máximo dez meses depois de tomar posse como presidente. Soldados americanos continuam a morrer dentro e em volta de Bagdá e não contente em manter o desastre que Bush criou, ele está criando o seu próprio ao alimentar a guerra no Afeganistão. Vão longe, ao que parece, os dias em que o Presidente era o "Comandante-em-Chefe dos militares norte-americanos. Seus generais agora dizem o que deve ser feito. Não apenas "aconselham". Deixam claro que ele não pode sair do Iraque e que na verdade estaremos lá durante muitos anos e que milhares de novos soldados serão necessários para sustentar até o governo fantoche em Cabul e para impedir que os talibãs invadam a capital. Esta é a "mudança em que podemos acreditar". Mais guerra, mais mortos e bilhões de dólares desperdiçados a cada mês para subjugar dois países que têm uma longa e rica história de expulsar "pretensos conquistadores".
Sei que provavelmente tudo isso não passa de uma fantasia pessoal, mas não posso deixar de imaginar o que vai acontecer quando o povo americano finalmente se levantar contra esta junta militar-corporativa (e seu fantoche) e tomar de volta o que legalmente pertence a ele. Qual será a última palha que vai arriar as costas do camelo? Qual das muitas crises que a nação enfrenta irá acender o barril de pólvora da ira que está crescendo rapidamente? A derrota dos nossos exércitos no Iraque e Afeganistão, a desvalorização do dólar americano, ou o reconhecimento de que a corrida de Wall Street atual tem pouco a ver com a economia real e que o pior ainda está por vir? É difícil dizer, mas sei que mais cedo ou mais tarde alguma coisa tem de mudar.
27/09/2009
John Hemingway, neto do célebre escritor norte-americano Ernest Hemingway, é escritor, tradutor e historiador formado pela Universidade da Califórnia (UCLA).
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