A desobediência civil

Um dos principais líderes mundiais, de todos os tempos, foi Mahatma Gandhi. De estatura modesta, magro, desarmado, movimentava milhões de indianos contra a opressão inglesa.

por Marcos Coimbra

 Foi preso, sofreu muito, mas acabou alcançando seu objetivo principal: a independência da Índia. Um dos mais importantes instrumentos utilizados por ele foi a desobediência civil na qual o povo indiano desarmado (pelos antecessores do Viva Rio) enfrentava a tirania dos poderosos, escudados em canhões, navios de guerra, metralhadoras, enfim toda a parafernália bélica da qual o império britânico era detentor.


Analisando a conjuntura brasileira, identificamos o Poder Executivo, utilizando a mídia amestrada, docemente corrompida, com "musos e musas" do entreguismo, com o poder de censurar e vetar até qualquer referência a quem desagrade aos "donos do mundo", seus patrões, fazendo o que querem. E ainda possuem a desfaçatez de pregar, contra a censura, em favor da liberdade de expressão, quando são os primeiros a exercer seu arbítrio, censurando os que pensam diferentemente. O Poder Legislativo, inteiramente submisso, mendigando cargos e verbas, com honrosas exceções.


Até o Poder Judiciário, considerado antigamente como última esperança, dobra-se, decidindo, por 10 votos a 1, rasgar a Constituição, abrindo o caminho para a “balcanização” do Brasil. A administração Lula, grande e verdadeira responsável pela grave crise sistêmica enfrentada pela Nação, possui poderes ditatoriais. Amanhã, se quiser, com a complacência do Legislativo e do Judiciário, vai impor a pena de açoite aos pobres cidadãos. Quem não se submeter aos seus caprichos, levará dez chibatadas, em praça pública, com direito a transmissão direta de TV, para todo o país, através da principal cadeia de comunicação do Brasil.


A propósito do anúncio de que o país vai “emprestar” mais de quatro bilhões de dólares ao FMI, em um país como o nosso, onde a carga tributária chega a 38 % do Produto Interno Bruto (PIB), sem a contrapartida adequada, sob a forma de prestação de serviços de atendimento às necessidades coletivas (saúde, educação, segurança, energia, transportes, comunicações e outras), fica a idéia de que a única solução é a desobediência civil. Nem os aposentados conseguem o reajuste de seus parcos rendimentos em condições proporcionais às contribuições impostas por décadas. A desculpa como sempre é justamente a inexistência de recursos.


A falta de escrúpulos na maior parte das administrações em seus três níveis (União, Estados e Municípios), bem como nos três Poderes, é constatada a cada dia, explicitada por incidentes quase diários. Já existem catalogados mais de cem escândalos de porte apenas na atual administração petista federal. O mais recente envolve o irmão de um ministro de Estado. De fato, estão roubando muito. É praticamente impossível encontrar um político que apresente uma declaração de bens na entrada na “carreira” política com um patrimônio superior ao verificado na saída. As poucas exceções confirmam a regra.


Comprova-se a deterioração progressiva de praticamente todas as Instituições Nacionais e de sadias tradições. Até a destruição da coesão social está sendo implementada, com a importação de práticas exóticas praticadas em outros países, com condições inteiramente diferenciadas das nossas, inclusive algumas delas já abandonadas. Chegam a criar “quistos territoriais”, baseados em critérios altamente suspeitos. Predomina a anarquia e a desordem em todo o território nacional, em especial no campo. O critério do mérito é substituído pela indicação política. A ignorância é glorificada e a educação ridicularizada.


Agora, querem acabar até com o tradicional processo seletivo para o ingresso no 3º grau. O MEC pretende sua substituição por outros mecanismos obscuros. Parece que a meta é facilitar o ingresso de “analfabetos funcionais”, aprovados por lei, no ensino básico. Teremos então instituído oficialmente os graduados em nível superior, também possivelmente aprovados obrigatoriamente, sem a menor condição de exercer a profissão desejada. Serão os “analfabetos funcionais”, agora com o título de doutor. Como pensar em reverter a grave crise econômica que assola o mundo e nosso país, sem contar com o indispensável capital humano de qualidade?


Fica a sugestão para os partidos ditos de oposição, para os candidatos a 2010 também, e para as centrais sindicais que, ao invés de defenderem os verdadeiros interesses dos trabalhadores, entram em conchavos vergonhosos com a administração petista. Lutem, enquanto é tempo, por bandeiras justas, em benefício do povo. Se não lutarem, estarão jogando-o no caminho da desobediência civil, como a praticada atualmente por milhões de pessoas, que não pagam conta de luz, pois possuem "gatos" (ligações clandestinas).


A autoridade governamental que quiser verificar é só conferir, por exemplo, no Rio de Janeiro, comparando a escuridão nos bairros de classe média, em comparação com outros logradouros, fartamente iluminados, inclusive com o uso de aparelhos de ar condicionado. Ou então observar os milhares de ambulantes que vendem de tudo, sem pagar qualquer tributo, impedindo o livre trânsito das pessoas, em frente dos comerciantes legalmente estabelecidos, em qualquer cidade grande. Ou nas centenas de "vans" que praticam irregularmente o transporte coletivo, estacionando em local proibido, engarrafando o já caótico trânsito das grandes cidades. Ou na ação dos narcotraficantes ou milicianos que exercem de fato o controle de vastas regiões, criando verdadeiras “áreas liberadas”, ocupando o espaço vazio deixado pelo Poder Público.


É hora de um basta a esta anomia! Lembramos que a teoria da anomia de Merton explica porque os membros das classes menos favorecidas cometem a maioria das infrações penais, explica os crimes de motivação política (terrorismos, saques, ocupações) que decorrem de uma conduta de rebeliões e explica comportamentos como os do alcoolismo e tóxico-dependência.. Fica difícil acreditar na sinceridade de Obama na sua qualificação de Lula. Ou será porque ele está fazendo aquilo que os “donos do mundo” desejam?

Prof. Marcos Coimbra
Membro efetivo do Conselho Diretor do CEBRES, Professor de Economia e autor do livro

Brasil Soberano. [email protected] - www.brasilsoberano.com.br

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