Lembro-me dos tempos em que o médico, fazia atendimentos domiciliares.
À chegada do profissional, ao lado da cabeceira uma cadeira. Uma bacia com água morna. Um sabonete novo. Toalha limpa. Cafezinho, bolachinhas. Mesa para prescrever a medicação. Enquanto paciente acamado recebia visitas. Hospitalização somente em casos muito especiais.
Médico era até conselheiro. Influía até no processo político. Com o desenvolvimento da arte e da ciência médica os custos para a formação profissional encareceram. Para o paciente, passou a ser difícil sustentar. Os estudos médicos pesaram tanto pela maior freqüência às aulas e treinamentos, como pelos equipamentos e livros caríssimos.
O estado, pela inteligência dos políticos, descobriu a forma de absorver o prestígio dos médicos. Fazer-se intermediário entre o médico e o paciente, com imposto chamado contribuição, prometendo atendimentos de boa qualidade.
Médicos dependentes dos executivos e parceiros. Com promessas de bom atendimento, exigindo dos profissionais o máximo do empenho, os pagamentos foram reduzidos, insuficientes para manter novos cursos, novos treinamentos, equipamentos.
Adib Jatene,, "quando ministro da saúde contava: "Acabado de engraxar os sapatos, perguntei ao engraxate quanto eu devia. Respondeu-me: dois reais. Eu acrescentei: Então somos colegas. Você cobra dois reais para engraxar, eu cobro dois reais do INPS para uma consulta. O engraxate arrematou: Mas eu ganho gorjeta".
O médico, na impossibilidade financeira para fazer novos treinamentos, o estado exige a solução de cada caso. Na falha, sujeito a processo judicial. A maioria dos hospitais despreparados para todos os tipos de cirurgia, a não ser alguns poucos que conseguiram a mágica de arrecadação e financiamento.
No regime de governo militar a liquidaram os institutos de pensões e aposentadorias, que financiavam e sustentavam hospitais, alem de financiar a casa própria e aposentadorias. Aproveitando todo capital acumulado nos institutos, os militares formaram a previdência social. O Inamps. Pagando mal os profissionais, exigindo atendimento de primeiro mundo. Políticos desviaram verbas.
No governo Figueiredo a televisão mostrava uma porta de guichê batendo e o locutor afirmando: "O INPS está fechando as portas para os ladrões". Povo arrematava: --Eles ficaram para o lado de dentro.
Quando médicos se recusaram de atender o INAMPS, Jarbas Passarinho, o ministro, afirmou: "Criaremos tantas escolas de medicina que, em breve, médicos virão de joelhos pedir emprego."
Criadas centenas de escolas médicas, a maioria de baixa qualidade. Alem de presença dos médicos dos paises vizinhos, sem competência suficiente.
Os que se formaram e a duras pelas e conseguiram capital para montar estrutura de clinica ou hospital, com bom aparelhamento (o que não é fácil), estão conseguindo sobreviver com dignidade nas grandes cidades.
Os que não conseguiram, estão subjugados e servir a medicina comercial dos convênios, os mais diversos, recebendo a imposição de baixas remunerações.
Convênios exigem a permanência no hospital durante o plantão, sendo a remuneração por paciente atendido. Não aparecendo cliente nada recebem pela permanência noturna no hospital. Capitalismo mesmo aparentando beneficência.
Para parlamentares, ou segundo escalão, mesmo sem qualificação, cada um recebe mais de R$250 mil reais, mensais, sem obrigação de produtividade, mesmo tendo questões de se ajustar com a sociedade. Onde está a Fixa limpa?
Fahed Daher - Médico - Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
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