O novo velho continente e suas contradições: A sobrevivência das esquerdas em campo minado
Por Celso Japiassu
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As esquerdas se organizam para enfrentar os vários movimentos de direita que nos últimos anos têm se fortalecido e hoje representam uma ameaça à própria sobrevivência da União Europeia. Em 2004 foi fundado em Roma, com sede em Bruxelas, o Partido da Esquerda Europeia (European Left/Gauche Europeéne), formado pela maioria dos partidos comunistas e seus sucessores além de diversos outros movimentos da esquerda anticapitalista. São ao todo 24 diferentes partidos, entre eles o Syriza da Grécia, o Bloco de Esquerda de Portugal, Unidade de Esquerda do Reino Unido, Partido dos Trabalhadores da Hungria. Além de diversos outros que se classificam como observadores, entre eles o PT brasileiro.
Em seu manifesto de fundação, o Partido da Esquerda Europeia (https://www.european-left.org/) faz referência aos valores e tradições do socialismo, do comunismo e do movimento dos trabalhadores, do feminismo, do movimento feminista e da igualdade entre os sexos, do movimento pelo meio ambiente e desenvolvimento sustentável, da paz e da solidariedade internacional, dos direitos do homem, do humanismo, do antifascismo e do pensamento progressista.
De 13 a 15 de dezembro próximos o Partido da Esquerda Europeia promove seu sexto congresso em Málaga, Espanha, fazendo coincidir a data com a investidura do novo governo espanhol, formado pela coligação Unidos Podemos, um dos seus fundadores.
A seguir uma breve notícia sobre o que se passa na Hungria, França e Alemanha no campo das esquerdas.
Hungria
Nesta última década a Hungria deu uma forte guinada em direção da direita e da extrema direita. Setenta por cento do eleitorado têm feito essa preferencia, o que explica o fortalecimento do Fidesz (União Cívica Húngara - Magyar Polgári Szövetség), o reacionário partido liderado por Viktor Orbán. E também do Jobbik, outro partido de extrema direita que tem dado apoio ao Fidesz. Há pouco uma ampla frente liberal conseguiu eleger Gergely Karácsony, um cientista político de 44 anos para a prefeitura de Budapeste. Foi uma vitória da oposição mas com forte apoio de outros partidos de direita e extrema direita que disputam com o Fidesz o voto conservador.
A Hungria assiste, assim, uma asfixia dos valores democráticos e um acentuado retrocesso político. De forças políticas ditas progressistas, existe a oposição de centro esquerda do MSZP, que perdeu o apoio das classes trabalhadoras e hoje é um partido das classes médias urbanas. Os ecologistas do LMP concentram-se nas elites intelectuais mais esclarecidas. Os comunistas, que já tiveram considerável importância, tornaram-se inexpressivos e não chegam a 1 por cento dos votos para o parlamento. O partido satírico MMKP (O Cão de Duas Caudas) obteve 1,8% dos votos nas últimas eleições.
França
A Frente de Esquerda (Front de Gauche) juntou o Partido Comunista Francês ao Partido de Esquerda e outros pequenos movimentos. Foi dissolvida pelo seu líder Jean-Luc Mélenchon em 2016, quando ele anunciou a criação de um novo partido, França Insubmissa. O PCF, Ensemble e République et Socialisme não deram sua aprovação à dissolução da coalizão e continuam a anunciar a existência da Frente.
Mélenchon é um trotskista que atua na política da França desde os movimentos estudantis de 1968. Nas eleições presidenciais de 2017 chegou a cerca de 20 por cento dos votos, o que lhe garantiu o quarto lugar no primeiro turno. Seu discurso é eurocético, antiliberal e anti-Otan. Orador brilhante, defende a redução da jornada de trabalho para 32 horas semanais e a aposentadoria aos 60 anos de idade.
O Partido Comunista Francês é outra força de esquerda na França. Fundado em 1920, teve entre seus fundadores o líder vietnamita Ho Chi Min e destacou-se na luta antinazista liderando a resistência francesa. Enfrentou forte decadência após o fim do bloco soviético, recuperando-se através de pactos eleitorais e com a criação da Frente de Esquerda.
Alemanha
A política alemã tem sido dominada pela União Democrata Cristã (CDU), de centro-direita, partido de Angela Merkel, e Pelo Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), de centro-esquerda.
O movimento de esquerda alemão é bastante dividido embora atuante e com forte presença no debate político. A esquerda está reunida no partido A Esquerda (Die Linke), uma ampla frente que resultou da fusão do Partido do Socialismo Democrático (PDS) com a Alternativa Eleitoral para o Trabalho e a Justiça Social (WASG). Com 69 deputados, é o quinto maior do Bundestag, o parlamento alemão, abrigando internamente várias correntes ideológicas.
Compõem o Die Linke A Esquerda Anticapitalista (Antikapitalistische Linke), o marxista Plataforma Comunista (Kommunistische Plattform, KPF), o Fórum do Socialismo Democrático (Forum Demokratischer Sozialismus), a Rede de Reforma da Esquerda (Netzwerk Reformlinke), a Esquerda Emancipatória (Emanzipatorische Linke, Ema.Li) e a Esquerda Socialista (Sozialistische Linke). Outros grupos de esquerda e de extrema esquerda são também abrigados pelo Die Linke, que costuma também fazer aliança com o Partido Comunista e o Partido Marxista-Leninista da Alemanha.
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-novo-velho-continente-e-suas-contradicoes-A-sobrevivencia-das-esquerdas-em-campo-minado/4/46028
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