Locarno: Brasil e seus cartões-postais
O Brasil tem dois cartões-postais este ano, distribuídos neste Festival Internacional de Cinema, onde os escândalos da corrupção generalizada envolvendo os governos populistas de esquerda comprometeram a bela imagem de um passado ainda recente.
Um é o filme Favela Olímpica, feito por um suíço (já comentado) e o outro Era Uma Vez Brasília, selecionado nesta semana para o Festival de Brasília, logo depois de ter sido exibido aqui em Locarno. Na verdade, são dois flashes políticos, num momento de descrença externa e interna, ao mesmo tempo em que o cinema chileno, argentino e mesmo guatemalteco prosseguem no caminho da crítica, denúncia e não da convivência social respeitosa mas desigual entre brancos e negros, ricos e pobres de filmes brasileiros que parecem ter feito a opção do entretenimento.
Era uma Vez Brasília utiliza uma idéia de ficção científica na sua parábola política, que vai entre a missão de um agente intergalático de matar o criador de Brasília, JK, e a deposição da presidente Dilma Rousseff por um Paralemento ocupado por monstros, no que que seria o Ano Um, do pós-Golpe. A espaçonave do agente chega com um atraso de 60 anos e, em lugar da cidade recém-construída, desce na Ceilândia, habitada pelos descendentes dos antigos candangos.
JK não é mais presidente e a capital vive um clima de manifestações entre discursos de Dilma e Temer ouvidos no som do filme, e a dificuldade e inabilidade da esquerda se organizar.
Rui Martins está em Locarno convidado pelo Festival Internacional de Cinema.
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