Caso espionagem: Últimas

Por ANTONIO CARLOS LACERDA

Correspondente no Brasil

BRASÍLIA/BRAZIL - A prisão de dez supostos espiões a serviço da Rússia nos Estados Unidos leva a crer que Washington e Moscou estão pré-destinados a serem eternos adversários em uma Guerra Fria sem fim, apesar de ligeiras tréguas, gentilezas e cortesias, que chegam a dar ao mundo, por rápidos momentos, a esperança de se alcançar a tão sonhada paz social entre os povos de toda a Humanidade.

Semanada passada, por exemplo, o mundo voltou a imaginar que a tão desejada, sonhada e acalentada paz mundial iria ser alcançada por conta do encontro entre os bem intencionados presidentes Barack Obama, dos Estados, Unidos; e Dmitry Medvedv, da Rússia, na Casa Branca, em Washington, que selou o fim da Guerra Fria entre as duas potências.

Só que o sonho durou menos de uma semana. A prisão, nos Estados Unidos, de dez supostos espiões a serviço de Moscou, jogou por terra o sonho da paz social no mundo, que estava sendo cuidadosamente conduzido por Obama e Medvedv.

O episódio das prisões causa estranheza e levanta dúvidas por ter ocorrido horas depois de o presidente russo Dmitri Medvedev encerrar uma visita aos EUA onde, junto com o presidente americano Barack Obama, colocou um fim na Guerra Fria entre Moscou e Washington.

Conclusão: Verdade ou uma mentira, o episódio da prisão de supostos espiões russos nos Estados Unidos deixa claro que, no Kremlin ou na Casa Branca, ainda existe gente poderosa que não quer, a qualquer preço, a paz entre os povos do mundo, principalmente entre russos e americanos.

Na reunião que teve na Casa Branca com Dmitry Medved, Barack Obama afirmou enfaticamente que “o mundo está mais seguro quando os Estados Unidos e a Rússia se dão bem", garantiu que qualquer barreira técnica que possa existir contra a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio “deve ser superada rapidamente” e enfatizou que “a Rússia pertence à OMC".

"Insisti com Medvedev que não é só interessante para os EUA e a Rússia o seu ingresso na OMC, mas para todo o mundo. Temos de fazer o possível para concluir o acordo no mais breve prazo", disse Obama.

As novas relações entre Estados Unidos e Rússia estavam tendo uma conotação tão informal e amistosa que os dois presidentes foram, juntos, a uma lanchonete popular nos arredores de Washington, comer hambúrguer com batatas fritas, em meio a pessoas anônimas e retornaram à Casa Branca no mesmo carro, numa demonstração pública da amizade entre os dois presidentes, simbolizando o início de um novo e cordial relacionamento entre Rússia e Estados Unidos.

A lanchonete popular onde os dois líderes escolheram para almoçar, de surpresa, foi a demonstração ao mundo, pelos dois presidentes, de que a Guerra Fria entre Moscou e Washington tinha chegado ao fim e que o mundo poderia voltar a sonhar com a paz entre os povos.

Em uma clara e direta afirmação de que a segurança da humanidade depende do entendimento, da amizade e da confiança recíproca entre as duas potências, Barack Obama enfatizou que "O mundo está mais seguro quando os Estados Unidos e a Rússia se dão bem".

Depois de anos de relações frias, Obama afirmou que discussões como essas, com o governo russo, seriam improváveis 17 meses atrás. "Quando assumi a presidência, a relação entre Estados Unidos e Rússia tinha ido talvez para seu ponto mais baixo desde a Guerra Fria. Havia tanta desconfiança e tão pouco trabalho real em questões de interesse comum."

Durante encontro, na Casa Branca, Barack Obama e Dmitri Medvedev chegaram a fazer brincadeiras sobre o famoso telefone vermelho da época da Guerra Fria, substituído, agora, pelo Twitter, que os dois presidentes estão usando para conversarem diariamente sobre problemas mundiais.

Ainda no encontro na Casa Branca, Obama insistiu em dizer que o presidente Medvedev “é um parceiro sólido e "confiável", e enumerou os sucessos da política externa americana e russa nos últimos meses, desde a votação sobre sanções ao Irã na ONU até a conclusão de um novo tratado Start de desarmamento nuclear.

Obama afirmou, também, que iria acelerar o ingresso de Moscou na OMC, agradeceu a Medvedev por ter solucionado um conflito comercial entre ambos os países sobre exportações de aves americanas e anunciou que uma estatal russa estaria para comprar 50 aviões Boeing, avaliados em 4 bilhões de dólares, o que pode criar até 44 mil postos de trabalho na economia americana.

Dmitry Medvedev visitou a sede do Twitter e abriu uma conta em nome do Kremlin, e ouviu Obama dizer que também tem uma conta e “talvez, possamos pôr um ponto final nos telefones vermelhos que ficaram tanto tempo por aqui", no que foi apoiado pelo presidente russo.

O presidente russo saudou o "sucesso" da Cúpula sobre Segurança Nuclear, em Washington, e a "mudança de ambiente" nas relações entre Rússia e Estados Unidos. "Seguiremos trabalhando com os Estados Unidos nos problemas globais mais importantes", disse o líder russo, assinalando que Moscou também está preparado para virar a página da tensão com Washington.

O Retrocesso

Quando tudo parecia ir às Mil Maravilhas, um verdadeiro Sonho de Fadas a caminho da paz mundial, com o fim da Guerra Fria entre Moscou e Washington, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou a prisão e o indiciamento de onze pessoas suspeitas de espionar em favor da Rússia no território americano.

O anúncio da prisão pode provocar um enorme retrocesso nos esforços dos presidentes Barack Obama, dos Estados Unidos, e Dmiry Medvedv, da Rússia, que tinham posto fim, dias atrás, à Guerra Fria entre as duas potências.

As autoridades americanas acusam os supostos espiões russos de envolvimento em uma operação secreta de longo prazo orquestrada por Moscou e de receberem treinamento do SVR (o serviço secreto russo) em línguas estrangeiras com o uso de códigos.

Por sua vez, a Rússia afirmou que prisão dos espiões nos EUA é versão infundada e o caso lembra o tempo da Guerra Fria. "Em nossa opinião, tais ações não tem em absoluto qualquer fundamento e são mal intencionadas", afirmou uma fonte da diplomacia russa.

“As prisões de supostos espiões a serviço da Rússia nos Estados Unidos são uma versão ‘infundada e mal intencionada’ e recordam a época da Guerra Fria”, declarou em comunicado o ministro russo das Relações Exteriores, Seguei Lavrov.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia considerou que existem muitas contradições nas informações sobre a detenção de supostos agentes do SVR. Segundo o chanceler russo, Serguei Lavrov, Moscou está à espera de explicações sobre a detenção desses supostos espiões. "Não nos explicaram do que se trata. Espero que expliquem", disse Lavrov.

Segundo o Departamento de Justiça americano, os dez supostos espiões russos foram presos após terem realizado uma "missão clandestina de longo prazo nos Estados Unidos em nome da Federação Russa".

O ministério russo das Relações Exteriores descreveu como contraditórias e sem fundamento as acusações de que os espiões passaram ao menos dez anos reunindo informações sobre armas nucleares, o mercado de ouro e até mesmo mudanças de pessoal da CIA, a Central de Inteligência Americana.

Seguei Lavrov, chanceler russo, criticou o momento escolhido pelos EUA para a operação, meses depois de um amplo esforço diplomático do governo de Barack Obama para "resetar" a esfriada relação bilateral, e considerou a ação um retrocesso rumo ao status da Guerra Fria.

"Tais ações são sem fundamento e impróprias. Nós lamentamos profundamente que tudo isso tenha acontecido nos bastidores da retomada de relações declarada pela administração americana", disse o chanceler russo em um comunicado à imprensa.

O FBI afirmou que os agentes infiltrados eram parte de um grupo chamado de "ilegais" por Moscou e que adotaram identidades americanas para conseguir entrar em thinktanks e agências do governo americano.

Segundo autoridades americanas, a maioria dos supostos espiões era originalmente da Rússia e foram treinados para se infiltrar secretamente nos EUA e agirem de forma a não serem pegos. Apesar admitir que alguns dos supostos espiões presos são russos, Moscou descarta conhecer a missão de espionagem em território americano.

ANTONIO CARLOS LACERDA

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