O homem de neandertal [1] lutava para se manter vivo. Pintava seus sonhos nas paredes das cavernas. Com o conhecimento e o aprendizado experimental iniciou um processo acentuado de evolução. De simples recolhedor de alimentos através da caça, pesca e coleta, começou arrebanhar os animais necessários para sua manutenção. Depois, iniciou o cultivo da terra. Mais tarde, formou grupos, clãs, vilas, cidades, regiões, nações, impérios.
Em 1850 o planeta atingiu 1 bilhão de viventes humanos. Neste momento, 10% viviam fora do sistema, pobres e maltrapilhos.
Em 2000 a população superava 6 bilhões. Quase 70% viviam fora do sistema, excluídos do mercado de consumo.
O conhecimento, a tecnologia e a evolução continuam se expandindo de forma avassaladora. Ao mesmo tempo, a devastação, a depredação, a destruição se tornaram incomparáveis.
Parece que a humanidade evolui destruindo. São terríveis as ameaças do aquecimento global, a escassez de água, a disseminação de novas doenças, a exaustão dos recursos naturais gerando desequilíbrios e mais desequilíbrios em todo planeta.
Neste meio tempo o homem se transformou no grande inimigo do próprio homem. Há tempo, pratica a autodestruição.
A primeira fase é o descarte. A maioria já vive na lata do lixo, entre larvas, podridão e infortúnios. Ninguém mais se incomoda com a fome da África, ou a miséria da Ásia, ou a pobreza da América subdesenvolvida.
Sem dúvida, o vírus desta barbárie é o individualismo, o jogo da vitória pessoal, a corrida tresloucada pelo ouro e poder. Eis os ícones ocidentais venerados, honrados, idolatrados de ponta a ponta.
Os excluídos ainda são dominados, escravizados, controlados.
A história registra o caminho das aberrações. E os dominados se transformam em dominadores. E o ciclo continua ao infinito.
Foi o povo comum quem tomou a Bastilha. Foi o povo comum quem forçou o fim da escravidão. Foi o povo comum quem se revolta contra a segurança dos ricos.
E os ricos não conseguem mais viver sem um aparato fantástico de segurança. São facilmente marcados, identificados e visibilizados.
Logo mais não vão conseguir andar soltos pelas ruas, praças e lugares públicos. Correm o risco de assalto, estupro, morte.
Reagem como dominadores. Contratam mais seguranças, constroem mais presídios, limitam as liberdades em aeroportos, fronteiras e estádios, controlam atitudes e pensamentos.
A cada ação de pretensa inteligência, surge uma reação de autêntica sobrevivência.
A panela de pressão está pela boa. Vai explodir.
Com tantos sinais, ninguém precisa ser profeta.
Orquiza, José Roberto, escritor, [email protected]
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