Cumpre-se esta sexta-feira um ano do golpe que afastou Dilma Rousseff da presidência do Brasil. Especialistas afirmam que, volvido este tempo, o país regrediu «ao início do século passado».
Numa notícia publicada pelo Brasil de Fato, diferentes especialistas falam de uma «reconfiguração» da política nacional, materializada na interrupção de políticas públicas que valorizavam os direitos dos trabalhadores e do povo.
Ao diário, José António Moroni, do Instituto de Estudos Socioeconómicos (Iesc), salienta que o país vinha assistindo a um «processo de construção de um Estado mais público, com políticas com o olhar dos sujeitos, mais democrático» e que «o estrago que estão fazendo é para décadas, paragerações». Admite, no entanto, que apesar de ser um ano «de atraso» e de «retrocesso», é também de «muita luta».
Benedito Barbosa, da União dos Movimentos de Moradia (movimentos sociais que lutam pelo direito à habitação), fala de «barbárie» e frisa que o presidente não eleito Michel Temer (PMDB) tem uma agenda de ataques aos direitos humanos e sociais. «A gente não tem ainda toda a dimensão do que está acontecendo. Estamos vivendo a bárbarie e não sabemos para onde o Brasil caminha», alerta.
Os sinais negativos sucedem-se, agravados com a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, que congela investimentos em áreas sociais num período de 20 anos.
Em Março, o desemprego chegou ao patamar dos 13,7%, quando em 2014 o país havia registado o valor histórico de 4,3%. Ao mesmo tempo, na indústria observa-se uma tímida dinâmica de crescimento e o rendimento real, no primeiro trimestre, apresentou uma queda de 6,7% comparativamente a 2016.
Ao nível do Ensino Superior, o governo de Michel Temer decidiu extinguir o programa Ciência sem Fronteiras, criado pela presidente Dilma Rousseff para conceder bolsas de estudo a alunos brasileiros em universidades dos Estados Unidos da América e da Europa, com o argumento de que não traz resultados.
A austeridade imposta às universidades públicas, acrescenta o Brasil de Fato, interfere no normal funcionamento dos estabelecimentos e no pagamento de bolsas, e a Universidade do Rio de Janeiro corre o risco de fechar portas.
Do ponto de vista institucional, José António Moroni afirma que o país regrediu ao início do século passado. «Extingue o Ministério da Previdência (Segurança Social) e joga para o Ministério da Fazenda (Finanças), isso era até 1927. Quando assume aquela configuração de ministérios de homens brancos, proprietários, ricos. Quando extingue o Ministério do Desenvolvimento Agrário, dos Direitos Humanos, Igualdade Racial, isso é um retrocesso enorme», ressalva.
in
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter