A perda de Alencar
Desaparece do cenário político brasileiro José Alencar, ex-vice-Presidente da República.
Quase aos oitenta anos, vitimado por um mal que o homem não controla, o insidioso câncer maltratou o sorridente Alencar, que durante a era Lula foi presidente mais de um ano, devido as viagens do titular do cargo.
Rico e simples, inteligente e sobretudo honesto com os outros e consigo mesmo, basta ver a atitude que tomou frente à doença que o obrigou a dezessete cirurgias, mas não o derrubava moralmente: "tenho medo é da falta de compostura", costumava dizer.
Assim procedeu ao longo da carreira política. Quando era candidato, acompanhando Lula num comício, foi vaiado por falar no discurso contra o MST, que andava e anda cometendo exageros, sem lutar verdadeiramente por um ideal. Diante da vaia, o velho mineiro mostrou a sua classe: "aceito as vaias. Estamos numa democracia, todos têm o direito de se manifestar."
Foi o que bastou para se tornarem aplausos. Não fez jogo de cena, era um homem autêntico e suas palavras assim soaram. O convencimento do povo, aplaudindo, aceitou a verdade do bem-humorado Alencar.
Lendo as notícias sobre o seu falecimento, vi uma que me chamou a atenção. Gostava, em Belo Horizonte, de ir a um bar comer almôndegas ao molho de tomate, torresmo e tomar umas cervejas, com alguns goles de cachaça bem feita. Tem a fotografia da garrafa.
O doutor Ulisses popularizou no Brasil a poire, aguardente de pêra, e seu colega em simpatia e inteligência, acabou de promover a marca. Sim, porque a cachaça já é uma tradição brasileira.
Vai em Paz, José Alencar. O solo pátrio vai receber o corpo de um homem honrado.
Jorge Cortás Sader Filho é escritor
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