Fahed Daher
Erga-se o pano que acoberta a fome e o cinismo político na festa, enquanto a humanidade se consome arrastando a miséria, rubra besta.
A usura, o banco, a luta financeira... A bolsa de valores... Quais valores?
Os das posses? Dos mandos? Das neuroses? Das jogadas marotas, trapaceiras? Do impudor das mulheres manobradas? Dos olhares que fogem dos horrores?
Das metralhas que calam tantas vozes dos velhos, dos inválidos, crianças que já não sabem mais ter esperanças e procuram nos lixos da riqueza e comem dor e bebem mais tristeza, entre ratos e moscas e baratas e ainda gratas rogam a Deus?
Imposto da pobreza ou pobreza imposta? Mais bolsas sem escolas de valores, mas um tanto eleitorais? Com cartões corporativos para os maiorais?
A mesa da política planeja o campo da estratégia eleitoral:
--É preciso que a plebe nos eleja e que nos financie o capital!
Diremos para a massa, a massa informe, que a nossa luta é grande, a luta é enorme, e que financiaremos a lavoura e a saúde será a nossa meta e que usaremos a vassoura criando a honestidade e a vida reta.
--No judiciário os juizes serão castos, faremos leis e que serão cumpridas e as falcatruas serão reprimidas, o povo encontrará nos campos vastos a paz e a liberdade e mais justiça, pois seremos heróis nesta batalha contra esta infâmia e contra esta canalha que mantém a miséria onde ela exista..
--Abraçaremos o eleitor carente, apertaremos mãos dos operários, daremos pão a muitos indigentes, discursaremos para o povo otário que adora nos comícios nosso show; prometeremos mais nomeações na palavra que o vento sempre leva, teremos vitoriosas eleições.
Ë cubra-se o cenário da miséria, das favelas, do esgoto, das lixeiras, do deficiente do despreparado, dos moribundos na hora derradeira na porta do hospital. Do aborto imundo no barraco sem água, impregnado da pestilenta febre puerperal.
Que se ria poder ante a pobreza, enfeite seus quintais de lindas flores, levante os muros... Não sei se já lhes pesa ter a visão macabra dos horrores de ver seus filhos, na vida sem cores, nas drogas, sem amor, sem ideal.
Tanta promessa, tanto plano heróico de salvação, no arrojo de uma luta que tantos prometeram e falharam e voltam na promessa engalanada, na mídia, enfeitada em luzes e cores, no sorriso forçado, sem pudores de dizer que a máquina emperrada não lhes permite mesmo fazer nada que não seja o equilíbrio financeiro, à espera do troco do dinheiro, da mordomia e tanta regalia que oferece o poder.
E a miséria prossegue sua cadência, sempre com fé em Deus e sua clemência, aguardando paciente e consolada, viver da podridão ou mesmo nada, com sopa de água fria, fazendo festa quando há feijão. Nos trapos sem higiene, na latrina, na esmola que lhe negam numa esquina. E vivam os louvores das subidas das bolsas.
Cinqüenta milhões de miseráveis, milhares de mães adolescentes solteiras, por dia e milhares de abortos ignorados... Morre-se de AIDS e mais se morre de tuberculose, pois ainda para o coito existe a camisinha para o beijo na boca.
Onde as escolas, onde o aprendizado que prepare pra vida honrada e nobre, onde o socorro da gestante pobre para poder zelar das suas crias, o futuro claro, cristalino prometido em campanhas eleitorais, por tantos que nunca se aplicaram em socorrer um mísero asilado, ou um orfanato, ou escola do próprio filho?
Erga-se o pano que acoberta a fome e o cinismo de maus políticos faz a festa, enquanto a humanidade se consome arrastando a miséria, rubra besta.
Médico. Apucarana . //Academia de Letras de Londrina. // Pres. Da Academia de Letras Centro Norte do Paraná. // Sociedade Brasileira de Médicos Escritores. Governador de Rotary 1995/1996- Dist. 4710 - [email protected]
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