O deputado federal Michel Temer (PMDB-SP) assumiu a presidência da Câmara dos Deputados com um belo discurso, logo em seguida desfigurado por sua defesa arraigada da perpetuação daquele ambiente turvo que predomina na Casa.
Ele não é a favor da divulgação das despesas feitas pelos deputados com a "verba de representação", um complemento salarial disfarçado, presente do pré-candidato à sucessão de Lula e governador das Minas Gerais, o tucano Aécio Neves, quando presidiu a Câmara.
Ocorre que se trata de dinheiro público, logo, a prestação clara de contas é obrigatória. Quer dizer, deveria ser, não fosse a sua deslavada defesa dos maus costumes na encardida política brasileira.
Ante a (esperada) péssima repercussão desse ato de leniência explícita, Temer encenou um recuo, dizendo que irá estudar a questão da disponibilização" das notas fiscais de suas excelências para consulta pública na Internet. Ah, sim, mas só de 2010 em diante. O passado fica por conta do Bonifácio. Aliás, o passado e o futuro, porque a protelação só serve para relegar o assunto ao esquecimento... Como se diz aqui no Brasil, "no dia de São Nunca".
Se algo faltava para a desmoralização ampla, geral e irrestrita da Câmara e do Senado, o quadro se completou com a nota oficial do PMDB a respeito da entrevista do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) à revista Veja, na qual acusou 90 por cento dos integrantes do partido de praticar o clientelismo e boa parte de querer mesmo é corrupção.
Na nota, a agremiação diz que o senador fez só um desabafo e acusações genéricas. No entanto, Jarbas Vasconcelos foi claro como o dia ao dizer que a eleição do senador maranhense José Sarney para a presidência da Casa foi um completo retrocesso.
De resto, ele não disse nada que não seja dito, sabido e escrito há tempos, desde que o partido perdeu a alma, mas encontrou o caminho da prosperidade, iluminado por um pragmatismo que lhe permite colecionar ministérios, diretorias e presidências de empresas estatais e agências regulatórias, entre outras preciosidades ao alcance de quem sabe o valor, para não dizer o preço, que o apoio ao governo de turno costuma ter.
Se algum desconforto foi sentido no PMDB com as assertivas do senador pernambucano, que nada têm de bombásticas, terá sido fugaz e certamente já se terá dissipado a esta altura dos acontecimentos. Tanto é assim que não haverá punição nenhuma a esse desabafo, como declarou a Executiva Nacional do partido, ao qual não dará nenhum relevo.
De fato, há que se dar razão ao PMDB. Por ululantemente óbvias, por disfiarem um rosário de platitudes, as observações de Vasconcelos beiram a irrelevância...
Luiz Leitão
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