50 dias. Esse foi o tempo necessário para que a direção da Universidade de São Paulo cedesse e atendesse a algumas das reivindicações dos estudantes, que ocupavam a reitoria desde o dia 3 de maio.
Durante toda esta semana, a reitora Suely Vilela reiterou diversas vezes que não atenderia nenhuma reivindicação enquanto o prédio não fosse desocupado. Na quinta-feira (21), porém, voltou atrás e, por meio de uma carta, aceitou as condicionantes propostas pelos estudantes no dia 12. Eram elas: não punição de participantes da ocupação e da greve, audiência pública para discutir o Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp) e reconhecimento da legitimidade do 5º Congresso Geral da USP, a ser realizado em 2008. Nesse fórum, será discutida a elaboração de um novo estatuto para a Universidade.
Outro ponto importante é a manutenção da contra-proposta da reitora feita em 8 de maio. Dentre elas, a construção de moradias estudantis que garantam mais 334 vagas (198 no campus Butantã, 68 em Ribeirão Preto e 68 vagas em São Carlos). Os alunos exigiam, inicialmente, 594 moradias. R$ 500 mil serão destinados para reformas nas atuais moradias. O termo de compromisso da reitoria ainda garante café da manhã e alimentação aos domingos, circulação dos ônibus internos do campus nos fins de semana e a realização de um debate sobre um novo prazo de jubilamento.
De acordo com João Victor Pavesi, estudante de Geografia, os pontos mais incertos foram os da reforma de prédios e a contratação de novos docentes. Em ambos os casos, os assuntos deverão ser primeiramente discutidos em cada unidade para depois a reitoria acatar as propostas. O documento foi apresentado aos alunos por uma comissão formada por cinco docentes, chamados pela própria reitoria para intermediar as negociações.
Formavam o grupo os professores István Jancsó (Instituto de Estudos Brasileiros - IEB), Francisco de Oliveira (Ciências Sociais), João Adolfo Hansen (Letras), Paulo Arantes (Filosofia) e oLuis Renato Martins (Escola de Comunicação e Artes - ECA).
Outro avanço foi a publicação de um decreto declaratório por parte do Governo estadual, dia 31 a respeito dos descretos que podavam a Universidade.
Avaliação
Para a grande maioria dos estudantes e funcionários que participaram da ocupação, as vitórias não se limitam apenas às reivindicações atendidas. Os 50 dias divididos entre reuniões, plenárias, assembléias e debates foram uma experiência inusitada. "Entramos em contato com estudantes de outros cursos, de campus do interior, foi um espaço único de vivência que oxigenou a universidade", opina João Victor Pavesi.
O estudante afirma que as conquistas estão longe de serem suficientes, já que, dado o avanço no processo de sucateamento da universidade pública, as reivindicações se acumulam e, por isso, a luta deve continuar. "Hoje, na ocupação, as pessoas estão limpando e recolhendo tudo e há um certo clima de melancolia e reflexão porque a questão agora é como continuar a luta, como não deixar o movimento cair", imagina.
Pavesi conta que, além das propostas de Suely Vilela, um dos fatores que contribuiu para que os estudantes optassem por sair do prédio foi a intervenção da polícia militar no campus da Unesp de Araraquara. "As pessoas começaram a ficar com medo, achando que a Tropa de Choque poderia vir a qualquer momento", explica.
Tarcisio Praciano Pereira
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