Ag Agora, um dos membros da ACED polemiza a respeito das movimentações para boicotar o acolhimento da medida emblemática por parte do governo. Ler tudo em www.sociofonia.net/aced. Ler artigo polémico a seguir:
Os pobres diabos, os escribas de serviço,
os interesses obscuros...
Um recluso do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira fez saber, refugiando-se sob a capa do anonimato, que intentou uma providência cautelar para tentar obstar à instalação de um plano de troca de seringas nas prisões portuguesas decorrente de uma decisão do governo. E logo Rui Jorge Cruz, advogado do recluso, aproveitou o ténue flop mediático para se pôr a jeito, debitando ao Correio da Manhã ser o seu cliente um homem de convicções fortes...
Segundo o causídico, António (nome fictício usado pelo CM) não concorda com a medida governamental, alegando ser esta um atentado à saúde pública dentro das prisões. Embalada pela verborreia, a própria jornalista (?!) do CM, Marta Martins Silva, especula - num estilo que já não se percebe ser o de uma notícia ou de um artigo de opinião da própria - que incentivados pela ideia de António, outros reclusos ponderam também interpor providências cautelares, que impeçam a troca de seringas dentro das cadeias.
Para que ninguém pense ser António um pobre diabo ao serviço de interesses obscuros, o advogado ainda declara mais adiante gostar o seu cliente de guerras difíceis, tendo tomado esta decisão sozinho. E, mais ainda, remata peremptório: O meu cliente não está nem nunca esteve envolvido com drogas... Pois claro, para que não fiquem dúvidas!
Pondo-se também a jeito aproveitando a embalagem da jornalista (?!) que, curiosamente (revelando um discutível sentido ético da profissão), não se dignou ouvir ninguém que defenda a troca de seringas -, o novel presidente do sindicato dos guardas prisionais manifestou o seu apoio à providência cautelar, rematando apologético: Os reclusos têm os seus fundamentos para estar contra a medida do governo, nós [os guardas prisionais] temos os nossos. E a segurança é a nossa preocupação. Não me surpreendem que estejam contra, porque tal como nós, os reclusos conhecem o meio prisional português...
Não deixa de ser interessante a oportunidade da notícia. O recluso que gosta de guerras difíceis - mas de quem ninguém conhece uma única posição contra a violação dos direitos humanos nas prisões, nem nunca se manifestou contra as precárias condições de assistência médica vem mesmo a calhar para as estratégias de manipulação e demagogia que procuram torpedear uma medida fundamental para suster a proliferação de doenças transmissíveis por via venosa. E, mais ainda, o recluso que não está nem nunca esteve envolvido em drogas dá mesmo jeito às sinistras figuras do negócio da droga que, obviamente, já perceberam que esta medida e o controlo médico-sanitário que lhe estará inerente poderá contribuir não só para a redução de riscos, mas também para a implementação de planos de desintoxicação e, futuramente, para a prossecução de políticas mais corajosas para o combate ao tráfico e a redução dos factores que geram criminalidade associada aos consumos. Ou seja, o combate ao negócio que medra nas prisões com a cumplicidade dos vários poderes instalados!
Quanto ao sindicato dos guardas, o homem das convicções fortes vem mesmo a calhar, ou já não tivesse o seu presidente, Jorge Alves, num invulgar exemplo de vidência sindical, especulado sobre a possibilidade de reclusos - que alegadamente estariam contra a medida do governo destruirem máquinas de troca de seringas a instalar nas prisões. Mas, naturalmente, são só coincidências...
António Alte Pinho
Leceia, 2006-09-20
António Pedro Dores
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