Metam os banqueiros na cadeia (sem 'resgatar' nenhum)

 

Foi assim na Islândia e funcionou 

Ontem, o primeiro-ministro da Islândia Sigmundur Gunnlaugsson anunciou um plano ["Islândia aprofunda controle de capitais, para ampliar a recuperação", Guardian] que, essencialmente, reforça o ineditismo e o sucesso exemplar da abordagem que a Islândia adotou para fazer frente à crise econômica - abordagem que está tendo grande sucesso, por mais que em tudo divirja do que as elites financeiras globais preferem e recomendam. 


Em vez de abraçar a ortodoxia dos 'resgates' de bancos, a chamada 'austeridade' [não é austeridade. É ARROCHO] e o mito da inflação baixa, a Islândia fez precisamente o contrário. E, apesar de sua economia ter sido golpeado pela crise dos bancos talvez mais furiosamente que qualquer outra economia no planeta, o trabalho na Islândia não deteriorou como se viu em outros países, e o país vive hoje impressionante recuperação.

Querem saber o tamanho da recuperação da Islândia? OK. É só comparar o desemprego na Islândia, com o da Irlanda, menina dos olhos do 'Pessoal Realmente Sério' (Gráfico 1).

Ou comparar a evolução do desemprego na Islândia e, digamos, nos EUA (Gráfico 2).

E como foi que a Islândia conseguiu?

Os bancos que se danem 

Para começar, em vez de tirar aposentadorias e salários dos mais pobres e mobilizar recursos públicos, para garantir que os bancos não dessem calote em suas várias dívidas com outros bancos, a Islândia decidiu que os bancos que se danem. 

Vários executivos dos bancos mais importantes da Islândia foram processados e julgados como criminosos.

- Rejeitar a 'austeridade' [não é austeridade: é ARROCHO]


Mas, sim, a Islândia sofreu recessão muito grave, que fez a relação dívida/PIB chegar à estratosfera. Mas mesmo depois de continuada piora nessa proporção, o governo manteve o sangue frio. Deu prioridade sempre à recuperação. E quando a recuperação do país afinal começou a aparecer nas ruas e na vida dos islandeses, apareceu também na proporção Dívida/PIB: a proporção começou a diminuir. E o governo deixou que continuasse a cair suavemente.

- Desvalorizar e aceitar a inflação

Já se sabe que não há almoço grátis nessa vida, e nenhum país recupera-se de recessão severa sem passar por momentos muito difíceis. Mas, enquanto países mais desenvolvidos atravessaram anos de desemprego assustadoramente alto, com inflação baixíssima, a Islândia buscou situação exatamente oposta. Deixou que a moeda nacional desabasse na relação com o dólar, o que, naturalmente, elevou ainda mais os preços.

Mas, resultado do mesmo processo, as indústrias islandesas de exportação rapidamente ganharam mercados em todo o mundo. O desemprego ainda aumentava, mas parou de aumentar quando chegou a modestos 7,6%, depois do que começou regularmente a cair. Nos EUA e na Europa a prioridade foi manter baixa a inflação, para proteger o valor do patrimônio dos mais ricos. A Islândia, não. A Islândia deu prioridade a manter os empregos. E funcionou.

Impor controles temporários sobre o capital

No contexto do calote de bancos e com moeda cadente, o governo entendeu que era necessário impor medidas adicionais - controle de capitais, regulações que proibiam cidadãos islandeses de retirar do país o dinheiro deles. É grave violação da ortodoxia do 'livre mercadismo'. Mais importante, pode criar graves complicações para a vida dos cidadãos comuns e impedir a criação de novos negócios. Em alguns países, o controle de capitais tornou-se campo fértil para corrupção e outros crimes.

Foi o que levou alguns a concluírem que, não importa o quão bem funcionem no campo econômico, as políticas heterodoxas sempre estão condenadas fatalmente ao fracasso no campo político.

A Islândia mostra que não, não é bem assim sempre. Conceber boas políticas econômicas e conduzi-las adequadamente não é fácil, mas pode ser feito. E o proveito de fazer as coisas certas - desvalorizar massivamente a moeda, em seguida impor controles para conter a fuga de capitais, e retirar os controles logo que a economia esteja recuperada - pode ser muito, muito grande. 

A Islândia passou por tempos difíceis ao longo dos últimos sete, oito anos, mas não aconteceu só com ela: muitos outros países também enfrentaram dificuldades. As coisas estão melhorando agora na Islândia, porque os governantes tiveram a coragem, a competência para, e o desejo de, rejeitar inúmeros itens dos saberes convencionais autopromovidos que tanto mal causaram a tantos outros países.

9/6/2015, Matthew Yglesias [atualizado]Vox
http://www.vox.com/2015/6/9/8751267/iceland-capital-controls 

 

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