As causas da ineficiência
Mauro Lourenço Dias (*)
O mercado interno, em razão do crescimento da oferta de emprego e do aumento do salário real, tem estimulado a expansão das importações. Em contrapartida, EUA e União Europeia aumentam ano a ano o consumo de automóveis, máquinas, produtos químicos e até aço da China e da Índia, em detrimento do produto brasileiro. O resultado é que o superávit comercial brasileiro encolhe mês a mês. Nesse ritmo, o déficit em conta corrente pode chegar a US$ 50 bilhões até o final do ano.
Diante disso, já surgiram algumas manifestações em favor de medidas protecionistas sob a alegação de que o crescimento das importações pode em pouco tempo tornar-se uma ameaça à produção nacional e à criação de empregos. Só que protecionismo nunca foi boa política porque os outros atores do comércio global também se sentem no direito de recorrer a medidas semelhantes e até retaliações.
Com isso, o comércio exterior fica cada vez mais entravado. E isso não é bom para ninguém. Um exemplo que ainda está vivo na memória de quem tem mais de 40 anos de idade é o atraso que o Brasil viveu por mais de 50 anos com a política de reserva de mercado para informática quando era proibido comprar equipamentos estrangeiros sob a justificativa que isso seria prejudicial à indústria nacional. As empresas eram obrigadas a pagar por produtos de baixa qualidade preços muito superiores aos praticados no exterior.
É verdade que as importações têm aumentado, o que tem se refletido no crescimento do número de empresas de importação. No primeiro semestre foram criadas 3.883. E, até o final de 2010, serão mais de 40 mil. Por outro lado, o número de empresas exportadoras não tem crescido, ficando ao redor de 19 mil. Tudo isso reflete as circunstâncias pelas quais o País passa nesta primeira década do século XXI, especialmente em função do dólar barato e da valorização do real.
Essa situação, se permite a entrada de quinquilharias, estimula a compra de máquinas estrangeiras, o que significa que logo o País terá um parque fabril renovado e em condições de competir no mercado externo. No entanto, essa situação distorcida é explosiva a médio e longo prazo. A solução mais óbvia não é o retorno ao protecionismo, mas uma política que estimule a competitividade do produto nacional a fim de que o reequilíbrio seja restabelecido na conta corrente do País.
Essa política passa por uma reforma do regime tributário, que venha a reduzir a carga de impostos, hoje avaliada em 37% do PIB. Depois, haveria a necessidade de aumentar o crédito aos exportadores com a criação de uma linha financiamento nos moldes do Eximbank norte-americano. Com isso, o setor produtivo poderia se livrar dos juros escorchantes que lhes são impingidos nos descontos de duplicatas ou no financiamento do capital de giro. Igualmente seria bom que o governo tivesse mais pressa em ressarcir impostos.
Nada disso, porém, irá estimular a competitividade se não houver um combate à ineficiência logística, o que só poderá ocorrer se houver investimentos na infraestrutura, estimulando a intermodalidade, o que permitirá o escoamento dos produtos com segurança, agilidade e economia. Afinal, o uso integrado de transportes reduzirá o custo Brasil, além de diminuir o consumo de energia e os impactos ambientais.
Portanto, até prova em contrário, não parece que impor barreiras à importação constitua solução, ainda que por prazo limitado. Antes, o que o País precisa é eliminar as causas da ineficiência que levam o produto nacional a perder competitividade.
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(*) Mauro Lourenço Dias é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br
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