As primeiras consultas sobre estabilidade estratégica entre a Federação Russa e os Estados Unidos tiveram lugar em Genebra, em 28 de julho. Passaram despercebidas, no entanto, o próprio fato e a intenção de continuá-las falam por si.
As consultas ocorreram depois de os presidentes Vladimir Putin e Joe Biden em Genebra haviam alcançado um acordo em 16 de julho. A delegação russa foi chefiada pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov. Segundo o funcionário, as negociações discutiram como superar a situação de crise, "que obviamente se havia desenvolvido no campo do controle de armas".
Ryabkov observou, que os americanos haviam vindo "100% prontos" para o diálogo, cita-o TASS.
"Este é um momento positivo. [Dos Estados Unidos] veio uma delegação impressionante, representando todos os departamentos e as próprias negociações ocorreram em um ámbito empresarial e construtivo", disse Ryabkov.
O Departamento de Estado dos EUA considerou isso o início de um diálogo.
"A delegação dos EUA discutiu as prioridades da política dos EUA e o ambiente de segurança atual, as percepções nacionais de ameaças à estabilidade estratégica, as perspectivas de um novo controle de armas nucleares e o formato para futuras sessões de Diálogo de Estabilidade Estratégica”, disse.
Um porta-voz anônimo do Departamento de Estado que participou das negociações disse à AP, que os EUA estavam satisfeitos com a troca inicial de opiniões e esperavam que este fosse o início de um "diálogo sustentável e produtivo" sobre controle de armas e outras questões estratégicas.
"Expressamos nossos objetivos e princípios sobre quais são os próximos passos no campo do controle de armas. Os russos fizeram o mesmo", disse o funcionário.
De acordo com o anónimo, a agenda, além do tópico estritamente tradicional de controle de armas nucleares, também se aprofundou no uso do espaço e da inteligência artificial e nas questões cibernéticas, embora a discussão sobre o ciberespaço se tenha concentrado em questões estratégicas e armas nucleares, em vez de ataques do tipo ransomware ou pirataria.
Segundo Ryabkov, "também estavamos falando sobre o fato de que precisavamos lidar com os assuntos mais complexos, como tentativas de usar a Internet e tecnologias digitais para influenciar os sistemas de controle de armas e assim por diante.”
O oficial anônimo americano opinou que "os russos, como estava esperando, haviam expressado preocupação com a defesa antimísseis americana, e o lado americano havia respondido com o argumento usual de Washington de que esses sistemas não eram direcionados à Rússia, mas a ameaças vindas do Irã e Coreia do Norte ". De acordo com o anônimo, este tópico não foi discutido em detalhes.
Segundo os analistas ocidentais, um obstáculo chave nas negociações é a exigência da Rússia de incluir nas negociações a questão de sistema de defesa antimísseis americano global, que a Rússia vê como uma ameaça de longo prazo, e os americanos como um meio de dissuadir a guerra.
Por sua vez, o governo de Joe Biden queria que Moscou concordasse em limitar suas armas nucleares não estratégicas, que não são cobertas pelo novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START na sigla em inglês). O tempo dirá se um compromisso será alcançado.
O governo de Donald Trump retirou dois acordos com a Rússia sobre segurança estratégica (sobre o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) e "céus abertos" e estava pronto para se retirar do START, o que foi impedido por Joe Biden, ao chegar ao poder.
Sem dúvida, o próprio fato das negociações e a intenção de continuá-las são em si um fator estabilizador nas relações entre o Ocidente e a Rússia. Por trás disso está a possibilidade de restaurar alguns dos laços que foram perdidos após a "primavera da Crimeia" de 2014 e os eventos no Donbass.
Em prol dos interesses comuns e nacionais para fortalecer os dois países, o problema ucraniano fica em segundo plano. Não afeta globalmente as relações com a China, a restrição da pandemia, as mudanças climáticas, a luta contra as quais lança uma nova globalização, onde a Rússia tem um lugar.
Os Estados Unidos estão obviamente tentando se afastar do confronto com a Federação Russa. A julgar por suas declarações, eles temem que um parceiro muito mais inconveniente do que Vladimir Putin possa chegar ao poder, que, dado o sucesso do complexo de defesa e o crescimento da economia russa, pode se tornar mais perigoso para eles.
Em um comentário para o Pravda. Ru o Diretor Geral do Centro de Informações Políticas Alexei Mukhin não estava tão otimista. Ele observou que a Rússia e os Estados Unidos, no âmbito desses acordos bilaterais, demonstram a todo o mundo e em primeiro lugar à China, que as lideranças dos países poderiam chegar a um acordo.
No entanto, de acordo com o cientista político, o otimismo é um tanto prematuro porque "um nível muito alto de russofobia permanece no establishment americano”.
"E, é claro, os nossos colegas americanos terão que retroceder depois de algum tempo", disse o cientista político.
O especialista tem certeza de que, por parte da Rússia, há, sem dúvida, também um "jogo político", já que a Rússia garante à China que Moscou não vai concordar em nada pelas costas com Washington.
"Assim que entrarem em cena acordos e demonstração de boa vontade, tanto de um lado quanto de outro, para mudar essa realidade, então haverá mudanças. Mas até agora isso é ruído de informação ", disse Aleksey Mukhin ao Pravda. Ru.
Por Lyubov Stepushova
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